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Debora Duarte
Felipe Leibold
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Talita Fauser
Um e Oitenta e seis avos
Um e Oitenta e seis avos
Há diversos filmes em Um e Oitenta e seis avos, mas de alguma forma, todos falam sobre solidão e preenchimentos de vazios. Uma sensação que pode acometer a todos. Não por acaso, as duas protagonistas não têm nome, são intituladas apenas como “mulher” e “vizinha”. Isso é tão forte que até a cachorra morta da mãe de mulher tem nome, mas ela não.
Entre metáforas e representações literais, como o fato dos órgãos da protagonista estarem sumindo, a trama flerta com diversos gêneros e experimentações, ousando ir além do lugar comum, buscando construir uma linguagem própria que tem momentos de delicados desenvolvimentos e outros abruptos que acabam por confundir em vez de ajudar na imersão, como o final que parece surgir do nada.
O filme é construído através da rotina de mulher e esses pequenos conflitos que vão surgindo. A mãe que ainda chora pela cachorra, a vizinha que se aproxima dela, os exames em busca de um diagnóstico, o trabalho. São diversas tentativas do diretor Felipe Leibold dinamizar essa rotina como as cenas em que a protagonista extravasa com as tintas ou quando começa a experimentar outras sensações com a vizinha criando espécies de videoclipes dentro do filme.
Ainda assim, parece faltar portas de entrada e imersão na obra. É como se a direção e montagem privilegiasse uma atitude voyeur e não uma identificação e empatia. Por mais que o cinema seja uma arte voyeur, há certa banalização aqui, ainda que traga sequências muito belas.
Não se pode negar, no entanto, que o filme instiga curiosidade. Seja pelo tema ou pela maneira como é abordado. O trabalho das atrizes ajuda a tornar esse estranhamento mais palatável. Há uma química entre as atrizes que torna crível a relação de afeto entre as duas. A intimidade que vai sendo construída aos poucos é bem feita, mesmo no estranhamento dos primeiros encontros. E a indefinição entre romance e amizade ajuda também no interesse pela relação.
A participação especial de Débora Duarte como mãe da mulher é um atrativo a mais. A atriz consegue dar uma naturalidade àquela mãe que também teme a solidão e acaba refletindo muito da criação que deu à filha e o como ela se porta atualmente. Ela trabalha sempre no limite, não se permitindo cenas delicadas como a da catarse com a vodca. A maneira como ela muda a chave da emoção quando a vizinha corrige o “cachorra”, por exemplo, é admirável.
Um e oitenta e seis avos é um filme estranho, mas nem por isso ruim. Instiga, nos prende e gera curiosidade, ainda que incomode pelo distanciamento. Como se, tal qual mulher, quiséssemos nos preencher daquela história e isso nos seja negado. Mas temos que entender também que os filmes não são exatamente para preencher nossas expectativas. De uma maneira ou de outra, a obra acaba atingindo um bom resultado.
Filme visto no 23º Cine Pe.
Um e Oitenta e seis avos (1/86, 2019 / Brasil)
Direção: Felipe Leibold
Roteiro: Felipe Leibold
Com: Ana Luiza Lamoglia, Talita Fauser, Debora Duarte.
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um e Oitenta e seis avos
2019-08-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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