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Triângulo da Tristeza
Triângulo da Tristeza
Ruben Östlund, o provocador diretor sueco, nos guia por um cruzeiro inusitado em Triângulo da Tristeza (2022), uma obra cinematográfica que desafia as convenções sociais e nos faz questionar as entranhas de uma sociedade desigual. À medida que desnudamos o nosso pensamento crítico, aprofundamos nessa jornada ácida e perspicaz que Östlund nos proporciona.
No centro da trama, Östlund tece uma crítica aguda às desigualdades sociais, uma análise afiada da estratificação que permeia nossa existência. Há uma eficácia no filme ao expor a incongruência entre as classes, especialmente durante o cruzeiro de luxo que se transforma em uma sátira impactante. A ação revela-se não apenas física, mas também simbólica, provocando reflexões sobre o papel do dinheiro na formação de identidades.
O casal de protagonistas, Carl e Yaya, respectivamente Harris Dickinson e Charlbi Dean, falecida em 2022, é o epicentro de um embate de forças tanto no âmbito pessoal quanto profissional. As atuações são perfeitamente capazes de transmitir as tensões subjacentes a essas relações, mas há uma certa irregularidade que se manifesta ao longo da narrativa.
A inesperada reviravolta proporcionada por Woody Harrelson, no papel do Capitão Thomas, é um momento brilhante. Harrelson, com sua ironia melancólica, oferece uma interpretação envolvente, trazendo nuances e desconforto para o papel. O embate entre o capitão marxista e um empresário russo capitalista é um ponto alto, uma inversão de clichês que ressoa de forma satírica e inteligente.
Östlund, conhecido por sua abordagem provocativa e suas incursões nas entranhas da sociedade contemporânea, novamente exerce seu domínio na direção. No entanto, alguns momentos podem ser encarados como uma espécie de soberba, quando a confiança do diretor às vezes obscurece a mensagem que ele pretende transmitir. A cena escatológica, embora impactante, acaba sendo uma exploração exagerada do desconforto, ultrapassando a linha tênue entre a genialidade e o exibicionismo.
A terceira parte do filme, ambientada em uma ilha deserta, revela uma inversão social intrigante. A trama, embora perca um pouco do fôlego, destaca-se pela personagem Abigail, interpretada por Dolly De Leon. O roteiro inteligentemente aborda como o poder pode transformar as pessoas, adicionando uma camada adicional à crítica social que permeia toda a narrativa.
Triângulo da Tristeza é uma jornada cinematográfica que desafia e instiga, uma obra que não faz concessões ao abordar as complexidades das relações sociais. Embora alguns momentos possam oscilar entre o genial e o exagerado, a provocação de Östlund permanece inequivocamente presente. O filme é uma odisseia contemporânea que nos convida a refletir sobre as estruturas que sustentam nossas vidas.
Triângulo da Tristeza não é apenas uma experiência cinematográfica; é um convite para desvelar as camadas sociais, questionar as normas estabelecidas e confrontar as desigualdades que muitas vezes aceitamos como inevitáveis. Em Triângulo da Tristeza, Östlund nos faz rir, desconforta-nos e, acima de tudo, desafia-nos a reconsiderar as tramas complexas de nossa própria existência.
Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness, 2022 / Suécia, França, Reino Unido, Alemanha, Turquia, Grécia)
Direção: Ruben Östlund
Roteiro Ruben Östlund
Com: Harris Dickinson, Charlbi Dean Kriek, Woody Harrelson
Duração: 147 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Triângulo da Tristeza
2024-03-15T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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