Rush: No Limite da Emoção
Em 1976, a Fórmula 1 presenciou o verdadeiro significado de rivalidade. Não eram apenas dois pilotos disputando um título. Eram dois gigantes disputando a vida, literalmente no caso de Niki Lauda. Com reviravoltas assustadoras, entre acidentes e recuperações, nada parecia mesmo mais emocionante. E Ron Howard conseguiu transpor para a tela tudo isso de uma maneira impecável, tornando Rush desde já um dos melhores filmes da temporada.
Nem vou entrar no mérito do subtítulo desnecessário que a distribuição brasileira nos trouxe. Rush merece mais do que isso. Até porque é um filme que resume a energia que circula nas veias de esportistas e apaixonados pelo esporte em geral. É mais do que um filme sobre dois pilotos, ou sobre automobilismo, ou mesmo sobre a Fórmula 1. O filme vai além de Niki Lauda e James Hunt, para falar da necessidade de se ter um alvo na vida. Precisamos de modelos para nos inspirar e para desejar superar. A rivalidade no esporte sempre foi benéfica, faz com que ambos queiram ser melhores a cada dia, superando limites e batendo recordes. Isto nos torna melhores.
O roteiro tem como foco a temporada da Fórmula 1 de 1976, não por acaso começa o filme na largada da fatídica corrida de agosto de 1976 no circuito de Nürburgring na Alemanha. Mas, para que possamos entender a dimensão daquilo é preciso retroceder ao primeiro encontro dos dois pilotos. E Peter Morgan faz isso com muita habilidade ao nos contar o essencial de cada um, apresentando suas personalidades e destrinchando suas motivações de vida. Sem ser didático, construindo um bom ritmo que nos deixa próximo de ambos.
Há uma tendência a colocar James Hunt como o mocinho e Niki Lauda como o bandido. Ainda que Hunt seja boêmio, mulherengo e irresponsável, enquanto Lauda seja o cara certinho. Isto porque o austríaco é construído como o chato, aquele que aponta o dedo para os defeitos, que ninguém quer por perto, que estraga qualquer diversão só pensando no trabalho. Mas, é interessante como, com o decorrer da trama, o roteirista brinca com estes estereótipos, nos dando momentos de virada para cada um deles, nos fazendo simpatizar e se irritar com ambos a cada vez.
Daniel Brühl defende muito bem o personagem certinho, enquanto que Chris Hemsworth cai como uma luva para o canastrão sedutor. Vemos os pilotos em tela e conseguimos nos identificar com suas situações e vontades. Passamos das disputas nas pistas para as cenas cotidianas com uma naturalidade tamanha que tudo fica muito bem construído. É o conjunto da obra que nos interessa, e ela está lá, nos envolvendo e emocionando na medida certa.
As cenas da pista são um show a parte. Já é na televisão, quando vemos uma corrida de verdade, imagina no cinema, com tudo ensaiado. São detalhes da roda, do volante, da pista. Ron Howard utiliza muito uma câmera na altura da pista, mostrando parte dela e parte do acostamento que traz sempre uma adrenalina a mais a cada curva. Mesmo que você já saiba o resultado de cada uma daquelas corridas, ele consegue construir uma tensão e uma emoção nos fatos que realmente te envolvem.
Para não dizer que não teve algum ponto negativo do filme, para nós brasileiros será um incômodo ver que apenas o Grande Prêmio de São Paulo se tornou palco de uma caricatura cênica, com mulheres seminuas sambando na pista segundos antes da largada da corrida, com muito samba e batuque. E mais ainda estranho que apenas aqui isto aconteça. Chama a atenção uma caracterização tão diferenciada para o nosso país. De qualquer maneira, é uma observação de brasileiro. Temos mesmo que conviver com esta fama. Até porque a única vez que o nome de um brasileiro, no caso Emerson Fittipaldi, é citado, acontece quando ele sai da McLaren abrindo brecha para James Hunt fechar contrato. Não há nem mesmo um ator para representá-lo, ou outra citação à tal equipe brasileira que tentou formar.
De qualquer maneira, Rush é daqueles filmes que empolgam do início ao fim. Uma trama bem construída, com tensão e emoção constantes, para representar aquilo que o ser humano tem de mais genuíno, o espírito de competitividade. Mas, sem ser um fator negativo, é o verdadeiro espírito esportivo. Que nos move e motiva para querer sempre superar a nós mesmos. Ron Howard conseguiu nos apresentar mais uma boa obra para entrar na galeria de outras como Uma Mente Brilhante, Frost/Nixon e A Luta Pela Esperança.
Rush: No Limite da Emoção (Rush, 2013 / EUA)
Direção: Ron Howard
Roteiro: Peter Morgan
Com: Daniel Brühl, Chris Hemsworth, Olivia Wilde
Duração: 123 min.
Nem vou entrar no mérito do subtítulo desnecessário que a distribuição brasileira nos trouxe. Rush merece mais do que isso. Até porque é um filme que resume a energia que circula nas veias de esportistas e apaixonados pelo esporte em geral. É mais do que um filme sobre dois pilotos, ou sobre automobilismo, ou mesmo sobre a Fórmula 1. O filme vai além de Niki Lauda e James Hunt, para falar da necessidade de se ter um alvo na vida. Precisamos de modelos para nos inspirar e para desejar superar. A rivalidade no esporte sempre foi benéfica, faz com que ambos queiram ser melhores a cada dia, superando limites e batendo recordes. Isto nos torna melhores.
O roteiro tem como foco a temporada da Fórmula 1 de 1976, não por acaso começa o filme na largada da fatídica corrida de agosto de 1976 no circuito de Nürburgring na Alemanha. Mas, para que possamos entender a dimensão daquilo é preciso retroceder ao primeiro encontro dos dois pilotos. E Peter Morgan faz isso com muita habilidade ao nos contar o essencial de cada um, apresentando suas personalidades e destrinchando suas motivações de vida. Sem ser didático, construindo um bom ritmo que nos deixa próximo de ambos.
Há uma tendência a colocar James Hunt como o mocinho e Niki Lauda como o bandido. Ainda que Hunt seja boêmio, mulherengo e irresponsável, enquanto Lauda seja o cara certinho. Isto porque o austríaco é construído como o chato, aquele que aponta o dedo para os defeitos, que ninguém quer por perto, que estraga qualquer diversão só pensando no trabalho. Mas, é interessante como, com o decorrer da trama, o roteirista brinca com estes estereótipos, nos dando momentos de virada para cada um deles, nos fazendo simpatizar e se irritar com ambos a cada vez.
Daniel Brühl defende muito bem o personagem certinho, enquanto que Chris Hemsworth cai como uma luva para o canastrão sedutor. Vemos os pilotos em tela e conseguimos nos identificar com suas situações e vontades. Passamos das disputas nas pistas para as cenas cotidianas com uma naturalidade tamanha que tudo fica muito bem construído. É o conjunto da obra que nos interessa, e ela está lá, nos envolvendo e emocionando na medida certa.
As cenas da pista são um show a parte. Já é na televisão, quando vemos uma corrida de verdade, imagina no cinema, com tudo ensaiado. São detalhes da roda, do volante, da pista. Ron Howard utiliza muito uma câmera na altura da pista, mostrando parte dela e parte do acostamento que traz sempre uma adrenalina a mais a cada curva. Mesmo que você já saiba o resultado de cada uma daquelas corridas, ele consegue construir uma tensão e uma emoção nos fatos que realmente te envolvem.
Para não dizer que não teve algum ponto negativo do filme, para nós brasileiros será um incômodo ver que apenas o Grande Prêmio de São Paulo se tornou palco de uma caricatura cênica, com mulheres seminuas sambando na pista segundos antes da largada da corrida, com muito samba e batuque. E mais ainda estranho que apenas aqui isto aconteça. Chama a atenção uma caracterização tão diferenciada para o nosso país. De qualquer maneira, é uma observação de brasileiro. Temos mesmo que conviver com esta fama. Até porque a única vez que o nome de um brasileiro, no caso Emerson Fittipaldi, é citado, acontece quando ele sai da McLaren abrindo brecha para James Hunt fechar contrato. Não há nem mesmo um ator para representá-lo, ou outra citação à tal equipe brasileira que tentou formar.
De qualquer maneira, Rush é daqueles filmes que empolgam do início ao fim. Uma trama bem construída, com tensão e emoção constantes, para representar aquilo que o ser humano tem de mais genuíno, o espírito de competitividade. Mas, sem ser um fator negativo, é o verdadeiro espírito esportivo. Que nos move e motiva para querer sempre superar a nós mesmos. Ron Howard conseguiu nos apresentar mais uma boa obra para entrar na galeria de outras como Uma Mente Brilhante, Frost/Nixon e A Luta Pela Esperança.
Rush: No Limite da Emoção (Rush, 2013 / EUA)
Direção: Ron Howard
Roteiro: Peter Morgan
Com: Daniel Brühl, Chris Hemsworth, Olivia Wilde
Duração: 123 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Rush: No Limite da Emoção
2013-09-15T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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