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Lovelace

LovelaceEm 1972, um filme revolucionou o mercado de filmes pornográficos, ou gênero adulto como eles preferem. Garganta Profunda arrecadou mais de 600 milhões de dólares e tornou a protagonista Linda Lovelace uma celebridade instantânea. O que ninguém sabia é que por trás desta potência do sexo, existia uma mulher acuada por seu marido.

Lovelace é uma cinebiografia da atriz pornô, que na realidade nem deveria receber esta alcunha, já que foi seu único filme. Como ela mesma diz na trama: foram apenas 17 dias dentro da indústria pornográfica que a definiram para sempre. Quando teve a coragem para denunciar os abusos do marido, Linda acabou se tornando uma ativista anti-pornografia e em defesa do direito das mulheres.

LovelaceO roteiro de Andy Bellin, no entanto, acaba sendo infeliz. Em vez de construir uma trama honesta sobre os acontecimentos, ele tenta fazer uma saga de redenção da atriz, tornando o filme um conjunto tolo de acontecimentos, divididos por um ponto específico. Talvez ele tenha tentado criar uma virada impactante, brincando com os julgamentos da própria plateia, mas acaba não funcionando a contento. Primeiro, por já ser uma história conhecida, segundo porque a forma como a trama vira, deixa as pessoas mais confusas que impactadas.

O filme simplesmente não tem alma. Na primeira parte, inclusive, tem algumas referências e brincadeiras tolas com o sexo oral, como se quisesse preparar para a saga futura. Depois, quando alguns detalhes vão sendo revelados, a tensão tenta tomar conta da obra, construindo uma narrativa mais séria e pesada até. Não funciona também, exatamente porque já tivemos toda essa parte inicial com brincadeirinhas e reações que parecem de uma virgem adolescente de uma família evangélica.

LovelaceA construção da personagem nem é o principal problema. Há uma cadência planejada da ingenuidade, passando pelas revelações do passado que justificam as atitudes da mãe, continuando com uma mulher e seus desejos naturais, até a rede em que vai sendo envolvida. Mas, a escolha de dividir certas revelações, entre antes e depois de uma determinada cena, acaba deixando a narrativa tendenciosa e com pouco impacto. Mais do que isso, é um filme que julga a indústria pornô de uma maneira tão dura e preconceituosa que não abre espaço para a discussão necessária.

Amanda Seyfried também não parece ser a melhor escolha para viver Linda. A atriz consegue uma performance boa, principalmente diante do que já fez em sua carreira. Mas, algo em sua expressão facial não colabora para tornar a personagem mais crível em todas as suas nuanças. Já Sharon Stone nos apresenta uma transformação tão intensa, que a atriz fica quase irreconhecível na pele da mãe de Linda, Dorothy Boreman, não é apenas maquiagem e composição física, mas a própria expressão corporal e postura negativista da vida. Incrível.

LovelacePor querer condenar tanto a exploração do sexo, seja de que forma for, Lovelace acaba abordando o tema de maneira tímida. São sempre piadas tolas, ou, então, insinuações censuradas. Não falo da explicitação do sexo, claro, mas da própria discussão do tema. Da possibilidade de abrir a narrativa para um questionamento mais profundo sobre o que está por trás desta indústria e até que ponto podemos condenar ou não cada atitude dentro dela. É possível discutir tudo isso e ainda deixar clara a posição de Linda, o drama que ela sofreu e possibilidade de se lutar contra.

Lovelace poderia até mesmo ser uma bandeira anti-pornografia, como sua estrela se tornou. Mas, tudo precisava ser feito de uma maneira mais madura e séria. Sem pegadinhas, sem viradas mal construídas e com uma protagonista mais expressiva. Uma pena, pois sua história não deixa de ser impressionante, com possibilidades diversas de tratamento. Ainda assim, cumpre um papel, o de deixar o caso ainda mais conhecido.


Lovelace (Lovelace, 2013 / EUA)
Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman
Roteiro: Andy Bellin
Com: Amanda Seyfried, James Franco, Peter Sarsgaard
Duração: 93 min.

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