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CineFuturo: Primeiras Impressões

CineFuturo 2015Desde terça-feira, Salvador vive o clima do CineFuturo. Antigo SemCine, o Festival tinha dado uma pausa desde 2012 e retorna com força total ao TCA para discutir cinema e apresentar obras clássicas e recentes que enriquecem a sétima arte.

A estrutura do evento consistem em mesas de discussão, mostra internacional, competitiva de curtas e mostras especiais paralelas. Como homenageado desta edição, o cineasta Federico Fellini tem suas principais obras exibidas diariamente na Sala Walter da Silveira.

Nestes primeiros dias, podemos perceber que o Festival não perdeu a sua essência de discutir e apresentar obras diversas que discutem e enriquecem a linguagem cinematográfica. Além de trazer pesquisadores e cineastas de todas as partes do mundo, o que só amplia a importância do evento.

Fellini em pauta

CineFuturo 2015 : Delírio FelliniA abertura foi com a mesa "Delírio Fellini" mediada pelo professor Mahomed Bamba com a presença de Lech Majewski, Giacomo Manzoli e Mariarosaria Fabris. Os pesquisadores buscaram passar o que há de especial na obra do cineasta italiano, dialogando principalmente com sua construção onírica da realidade, inspirada na obra de Carl Gustav Jung.

Como definiu Mariarosaria Fabris, Fellini foi o cineasta que melhor utilizou o cinema como "terceiro olho", transfigurando o universo através da luz. Sua obsessão pela arte cinematográfica, o fazia mergulhar nas obras como quem mergulha no inconsciente, trazendo à tona questões extremamente profundas sobre o ser humano. Por mais que falasse de suas próprias referências, ele se tornava, então, universal.

O pesquisador Giacomo Manzoli definiu o cineasta como "um gênio que amava se fingir de palhaço". É inegável que o circo foi sempre uma de suas fontes de inspiração. Um espaço libertador onde tudo é permitido. Já o pesquisador Lech Majewski reforçou a importância de Jung na obra do cineasta. Fellini utilizava muitos símbolos em seus filmes, como a água ou a dança, sempre com significados diversos. Além, claro, da recorrente metalinguagem que teve seu ápice no filme 8 1/2.

O bardo inglês

Também homenageado nessa IX edição do Festival, o inglês William Shakespeare teve uma mesa especial na quarta-feira, onde discutiu-se a adaptação de seus textos para o cinema. Mediada por Décio Torres, com a presença de Ross Williams, Shane Breaux, Mark Burnett e Marcel Vieira, a mesa buscou passar as diversas referências do dramaturgo para a nossa cinematografia.

CineFuturo 2015 : Shakespeare no CinemaO pesquisador Marcel Vieira trouxe um pouco de sua pesquisa sobre como Shakespeare chegou ao Brasil, começando pelas peças encenadas que datam desde o ator João Caetano no início do século XIX, passando pelas paródias das Chanchadas da Atlântida até as experiências mais recentes. O grande ponto do texto do dramaturgo inglês ser tão forte até hoje é o fato de sua linguagem ser universal, tratando de temas como amor, jogo de poder e ciúmes, ele fala com todos.

Já o pesquisador irlandês Mark Burnett trouxe um pouco de sua pesquisa sobre as adaptações de Shakespeare no cinema da América Latina. O que criou um paralelo interessante com a pesquisa do mediador Décio Torres que também apresentou o seu trabalho sobre as adaptações do dramaturgo na Irlanda. Burnett nos trouxe obras como Huapango dirigido por Ivan Lipkies que adapta a realidade de Otelo para o México, enquanto que Torres nos trouxe o exemplo de Mickey B que leva Macbeth para uma penitenciária na Irlanda.

Ross Williams e Shane Breaux apresentaram o The Sonnet Project, um site multiplataformas com experiências diversas a partir da obra de William Shakespeare. São filmes de diversas partes do mundo, aplicativo com textos do dramaturgo. Como disse Williams, "a tecnologia proporciona a possibilidade de seu trabalho chegar ao mundo inteiro de maneira muito mais simples, coisa que antes era inimaginável". Vale uma conferida no projeto.

Segredos do Cinema hermano

E o terceiro homenageado dessa edição foi o cinema argentino contemporâneo. Apontado como referência para o que pode ser feito de bom do lado de cá, a realidade vista no palco do TCA foi um pouco diferente da imagem construída de cinema vitorioso, vide os dois Oscars que já ostenta.

A cineasta Sabrina Farji falou que muito dessa construção de "cinema argentino" é puro marketing. Até porque existem diversos cinemas argentinos. Mas, apontou que muito do chamado "boom" do cinema deles foi devido às políticas públicas. Ainda segundo a cineasta, fazer cinema, para ela, parte sempre de uma inquietação pessoal que se torna uma questão social e ela transforma em imagem.

CineFuturo 2015 : Segredo cinema argentinoMediando a mesa, Marcela Antelo provocou os convidados perguntando se muito do desenvolvimento do fazer cinema não vem como consequência do pensar cinema. A partir de um pensamento crítico, da crítica especializada, de escolas de cinema. A cineasta Marcela Guerty demonstrou-se ressentida com a crítica, dizendo que o "crítico" normalmente não compreende o esforço que é fazer cinema e pode destruir todo um trabalho apenas com opiniões negativas vagas. Sabrina Farji argumentou que isso é porque existem muitos "opinólogos" em vez de críticos. E Juan Pablo Domenech acrescentou que é preciso que a crítica vá além do filme, acrescente uma discussão a partir dele. E isso sim, ajuda o cinema.

Marcela Guerty disse ainda que falta na Argentina um apoio maior ao roteirista, há pouco reconhecimento para a profissão, mesmo na televisão. Pensar o roteiro é algo importantíssimo para a construção cinematográfica, no que foi apoiada por Juan Pablo Domenech que disse ainda que além de investir no roteiro é preciso investir em publicidade, pensando em como atrair o público para aquela obra.

No final, percebemos que a realidade do cinema na Argentina não se difere muito da no Brasil. Dependendo de políticas públicas, disputando poucos espaços de exibição com as grandes majors norte-americanas e sofrendo com críticas de sua imprensa. Porque eles fazem tanto sucesso por aqui? Ainda é um mistério que merece maiores reflexões.

O CineFuturo continua hoje e vai até domingo, trazendo ainda discussão sobre o cinema ativista, políticas públicas e exibição de muitas obras. Se você está em Salvador, perde não!

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