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Todo o Dinheiro do Mundo

Todo o Dinheiro do Mundo - filme

O que você faria se tivesse todo o dinheiro do mundo? Em determinado momento do filme, J. Paul Getty diz a seu funcionário que o segredo não é ficar rico. "Qualquer idiota pode ficar rico". A questão, segundo ele, é como ser rico e manter sua fortuna. Mas será que isso é que importa mesmo?

Baseado no livro de John Pearson, Ridley Scott e o roteirista David Scarpa pegam um acontecimento marcante na família Getty para discutir a própria relação do ser humano com o dinheiro. As posses versus os afetos, pautado na figura de Gail Harris, muito bem interpretada por Michelle Williams. Nora de J. Paul, divorciada do marido John Paul Getty II, mãe de John Paul Getty III. Dinheiro nunca foi o seu objetivo de vida. Quando o filho é sequestrado, ela não pensa duas vezes em aceitar a oferta, mas o problema é que não depende dela.

Todo o Dinheiro do Mundo - filmeO recorte do filme é o sequestro de John Paul Getty III na Itália em 1973. Porém, o roteiro se utiliza da voz over do próprio rapaz para contextualizar sua família, seu avô e o universo da trama. Temos assim pinceladas no tempo que facilitam a construção da narrativa, ainda que também crie algumas estranhezas como o quase sumiço dos irmãos do jovem e uma estrutura esquemática de presente e passado. Isso sem falar na duração excessiva.

Ridley Scott constrói seu ponto de vista ao nos apresentar o obcecado J. Paul Getty quase sempre enclausurado em sua mansão, muitas vezes na penumbra com uma luz entrecortada por fumaça. O contraste alto que parece buscar a personalidade do velho homem, contando o seu dinheiro e seus objetos como se fossem tudo o que importasse. Vale ressaltar a boa performance de Christopher Plummer, entrando "aos 44 do segundo tempo" no projeto, mas conseguindo encarnar bem o espírito da personagem.

Todo o Dinheiro do Mundo - filmeMais do que salvar o filho / neto, o embate entre Gail e Getty é pelo ponto de vista sobre a importância do dinheiro. Ela abre mão das quantias por diversas vezes, ele negocia até não poder mais. Ele tem um ponto de vista em relação ao pagamento do resgate que não deixa de fazer sentido. Negociar com sequestrador incentiva novos sequestros. Porém, a forma como ele lida com isso no decorrer da projeção, principalmente na fase final é que assusta. E o diretor é criativo em nos passar esse embate de diversas maneiras. A cena dos jornais voando é a mais emblemática, mas temos momentos como a compra da Madonna ou a reunião sobre o imposto de renda.

A maneira como a figura da mãe é construída também instiga. Principalmente na cobrança da imprensa que "não a vê chorar" ou questiona a palavra "brincadeira" que ela teria dito ao receber o primeiro telefonema. Uma forma de tensionar a própria maneira de se manifestar amor ou preocupação. A obrigação de seguir um padrão que a sociedade espera, por vezes, parece mais importante do que a verdade. Há uma postura muito mais sutil da busca pela proteção do filho do que se descabelar na frente das câmeras que nos faz criar uma empatia ainda maior com a personagem e que nos faz questionar até mesmo a função da personagem de Mark Wahlberg na trama, como se fosse preciso um homem ao lado dela para passar por tudo aquilo.

Todo o Dinheiro do Mundo é um filme com altos e baixos. Tem momentos extremamente fortes e bem construídos. Mas tem também clichês e excessos que deixam a obra cansativa. Nos faz refletir sobre o poder do dinheiro, sem precisar o maldizer com a ideia do "pobre menino rico", é apenas preciso saber usá-lo e não deixar que ele o use.


Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World, 2018 / EUA)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa
Com: Michelle Williams, Christopher Plummer, Mark Wahlberg, Romain Duris, Charlie Plummer
Duração: 132 min.

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