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Saudade fez morada aqui dentro

Saudade fez morada aqui dentro - filme

O título do novo filme da Plano 3, dirigido por Haroldo Borges, traz poesia e metáforas potentes do que trata a obra. Saudade. Palavra de origem latina que significa solidão e que não tem tradução literal em outra língua. É sentir falta, é ter nostalgia, é querer reviver momentos já vividos. É o anseio pelo reencontro. De alguma maneira, lembra Feliz Ano Velho, olha de Marcelo Rubens Paiva. Tanto Marcelo quanto Bruno, protagonista aqui, terão que se adaptar a uma nova condição física. E isso não é fácil, ainda mais para um adolescente de quinze anos que está no momento de planejar o seu futuro.

Bruno é um garoto comum, inteligente, gosta de jogar futebol, brincar com os amigos e com seu irmão, paquerar as meninas do colégio e desenhar. Porém, é diagnosticado com uma doença degenerativa que invariavelmente o deixará cego em algum momento da vida. Essa perspectiva o assombra a ponto de pensar em desistir de tudo. “Já viu cego desenhar?” Ao mesmo tempo, ele se nega a buscar alternativas como aprender logo a ler em Braille.

Saudade fez morada aqui dentro - filme
Ambientado em um vilarejo em Uauá, interior da Bahia, a história de Bruno traz muito das características do grupo que já nos presenteou com obras como Jonas e o Circo sem Lona e Filho de Boi. Todos focados nesse período da adolescência, com meninos com características que fogem do estereótipo comum da idade e que tem alguma relação com arte, com questões humanas, preconceitos e superação. Mas o que chama a atenção, é que tudo isso é construído com uma delicadeza que foge de estereótipos e nos traz camadas belas que nos envolve em sua trama e busca por superação.

Chama a atenção também o trabalho de preparação de elenco, em especial do jovem Bruno Jefferson que tem que lidar com uma carga dramática extrema, conseguindo nos passar verdade em cada gesto. Destaque para a cena do acordar e a do lago. A relação e intimidade construída com o irmão também é impressionante.

Saudade fez morada aqui dentro - filme
A câmera de Borges, que também assina a direção de fotografia, está sempre em busca de uma naturalidade no olhar. Não cai em maneirismos de tentar emular o olhar de Bruno, mas nos dá uma visão que está sempre reflexiva. Ainda que abuse um pouco dos closes, nos dá também a possibilidade de contemplação e movimento que ajudam no ritmo da obra e expectativa dos acontecimentos.

O roteiro assinado em parceria com Paula Gomes, que também é produtora da obra, busca fugir do lugar comum, dos estereótipos, ainda que trate de temas sensíveis como o preconceito e o capacitismo. Talvez, no entanto, a vontade tão grande de fugir dos clichês acabe querendo construir reviravoltas demais, em especial na trama homoafetiva que poderia ser melhor trabalhada. O que não tira o mérito maior da obra que possui uma trama que nos envolve e emociona do início ao fim.

Saudade fez morada aqui dentro é uma obra que nos afeta em diversos níveis. Traz camadas para situações duras e realidades áridas, mas com poesia e um olhar de esperança. Mesmo em meio a escuridão é possível vislumbrar raios de sol. Ou as gotas da chuva que nos lembram que a vida está repleta de dádivas que podemos aproveitar e agradecer a cada instante.

Filme visto no XIX Panorama Internacional Coisa de Cinema


Saudade fez morada aqui dentro (Brasil, 2024)
Direção: Haroldo Borges
Roteiro: Haroldo Borges e Paula Gomes
Com: Bruno Jefferson, Ângela Maria, Ronnaldy Gomes, Terena França, Wilma Macêdo, Heraldo de Deus, Vinicius Bustani
Duração: 110 min.

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