Grandes Cenas: Matrix
A cena de hoje foi sugestão de Ari Cabral, responsável pelo design aqui do blog. Em 1999, os irmãos Wachowski surpreenderam o mundo com uma ficção científica totalmente inusitada que mudou o cinema do gênero, criando mundos alternativos, jogos, livros, teorias e cópias diversas. Lembro de ter ido ao cinema desavisada, quase que por acaso e tomei um susto com tudo que vi.
A premissa é a mesma de muitos filmes futuristas: máquinas inteligentes que se voltam contra os humanos, criando uma guerra e os escravizando. Porém, além de misturar muitas teorias filosóficas e se utilizar de diversas referências, Matrix criou uma espécie de nova religião, com direito a messias e premissas de fim do mundo.
As duas continuações pecaram por perder essa aura filosófica, abusando das cenas de ação, além daquela chata explicação do arquiteto. Porém, fechou um ciclo, deixando diversos sub-produtos para a série.
A inovação tecnológica também surpreende, não apenas na interação entre virtual e real, mas, principalmente no jogo de câmeras. A sequência do pulo filmada com 360 câmeras para simular um congelamento na imagem é fantástica e virou referência de inovação (a câmera Matrix).
A cena escolhida é quase no final do filme, mas não revela muito, caso ainda exista alguém que não assistiu ao filme. Morpheus é prisioneiro dos agentes. Trinity e Neo resolvem, então, assumir um plano ousado: invadir o prédio onde o líder da resistência está preso e tentar salvá-lo. É uma sequência de ação de tirar o fôlego. Diversas câmeras interagem, mostrando o que melhor Matrix tem em termos de ação: a união de antigos filmes de Kung Fu com tecnologia, tudo em um estilo de fotografia Noir, quase preto e branco. Uma mitologia de última geração, por assim dizer.
A cena começa mostrando detalhes, com um B.G. de suspense. Os pés de Neo, a mala de armas passando pelo detector de metais, a luz acendendo. Só, então, vemos o rosto do herói. O guarda se aproxima, a câmera agora está de lado, pede para tirar objetos metálicos. Neo abre o casaco, detalhe em seu tronco coberto de armas. Com a câmera atrás da cabeça do guarda vemos Neo empurrá-lo e começar a atirar. Detalhe dos guardas pedindo reforço, aparece Trinity, também atirando do outro lado. Uma câmera plongé mostra a situação dentro do prédio. Vários guardas se aproximam, um verdadeiro exército contra os dois.
Pausa aqui para a explicação filosófica. Neo e Trinity, homem e mulher, yin e yang, a junção do feminino e masculino representando a divindade é sempre explorada por diversas religiões. É interessante perceber que em todos os momentos em que Neo precisa agir para salvar a humanidade, ele conta com Trinity. Esta cena é então, apenas uma representação física disso.
Voltanto a decupagem. Os dois estão parados no corredor, o guarda manda que eles se entreguem. Os dois se olham e correm, cada um para um lado, atirando. Começa, então, uma sequência eletrizante, onde o espectador fica hipnotizado pelo balé, pelos tiros, pelos golpes. Todo o resto fica em segundo plano nesse momento. Tem tiro de lado, pulos, chutes, Trinity subindo pela parede, Neo dando cambalhota sem parar de atirar. Várias câmeras em todos os ângulos possíveis. Várias velocidades para mostrar detalhes ou dar a sensação de dinâmica. Fragmentos de parede para todos os lados, criando uma textura única. É tudo muito rápido e intenso.
Há, nesta cena, a linguagem clara de vídeo game, onde tudo é possível, mas faz sentido, já que estamos dentro de um "vídeo game", aquilo não é vida real, é a Matrix. A única coisa que poderia ser melhor é o som. Aquela trilha banal de games acaba tirando um pouco do brilho da cena.
Após matar todos os guardas, Trinity ainda desliza até a mala (ela não anda, desliza) e os dois entram no elevador, na maior calma. O plus é uma última parede caindo após a porta se fechar. Para o gênero, perfeito.
A premissa é a mesma de muitos filmes futuristas: máquinas inteligentes que se voltam contra os humanos, criando uma guerra e os escravizando. Porém, além de misturar muitas teorias filosóficas e se utilizar de diversas referências, Matrix criou uma espécie de nova religião, com direito a messias e premissas de fim do mundo.
As duas continuações pecaram por perder essa aura filosófica, abusando das cenas de ação, além daquela chata explicação do arquiteto. Porém, fechou um ciclo, deixando diversos sub-produtos para a série.
A inovação tecnológica também surpreende, não apenas na interação entre virtual e real, mas, principalmente no jogo de câmeras. A sequência do pulo filmada com 360 câmeras para simular um congelamento na imagem é fantástica e virou referência de inovação (a câmera Matrix).
A cena escolhida é quase no final do filme, mas não revela muito, caso ainda exista alguém que não assistiu ao filme. Morpheus é prisioneiro dos agentes. Trinity e Neo resolvem, então, assumir um plano ousado: invadir o prédio onde o líder da resistência está preso e tentar salvá-lo. É uma sequência de ação de tirar o fôlego. Diversas câmeras interagem, mostrando o que melhor Matrix tem em termos de ação: a união de antigos filmes de Kung Fu com tecnologia, tudo em um estilo de fotografia Noir, quase preto e branco. Uma mitologia de última geração, por assim dizer.
A cena começa mostrando detalhes, com um B.G. de suspense. Os pés de Neo, a mala de armas passando pelo detector de metais, a luz acendendo. Só, então, vemos o rosto do herói. O guarda se aproxima, a câmera agora está de lado, pede para tirar objetos metálicos. Neo abre o casaco, detalhe em seu tronco coberto de armas. Com a câmera atrás da cabeça do guarda vemos Neo empurrá-lo e começar a atirar. Detalhe dos guardas pedindo reforço, aparece Trinity, também atirando do outro lado. Uma câmera plongé mostra a situação dentro do prédio. Vários guardas se aproximam, um verdadeiro exército contra os dois.
Pausa aqui para a explicação filosófica. Neo e Trinity, homem e mulher, yin e yang, a junção do feminino e masculino representando a divindade é sempre explorada por diversas religiões. É interessante perceber que em todos os momentos em que Neo precisa agir para salvar a humanidade, ele conta com Trinity. Esta cena é então, apenas uma representação física disso.
Voltanto a decupagem. Os dois estão parados no corredor, o guarda manda que eles se entreguem. Os dois se olham e correm, cada um para um lado, atirando. Começa, então, uma sequência eletrizante, onde o espectador fica hipnotizado pelo balé, pelos tiros, pelos golpes. Todo o resto fica em segundo plano nesse momento. Tem tiro de lado, pulos, chutes, Trinity subindo pela parede, Neo dando cambalhota sem parar de atirar. Várias câmeras em todos os ângulos possíveis. Várias velocidades para mostrar detalhes ou dar a sensação de dinâmica. Fragmentos de parede para todos os lados, criando uma textura única. É tudo muito rápido e intenso.
Há, nesta cena, a linguagem clara de vídeo game, onde tudo é possível, mas faz sentido, já que estamos dentro de um "vídeo game", aquilo não é vida real, é a Matrix. A única coisa que poderia ser melhor é o som. Aquela trilha banal de games acaba tirando um pouco do brilho da cena.
Após matar todos os guardas, Trinity ainda desliza até a mala (ela não anda, desliza) e os dois entram no elevador, na maior calma. O plus é uma última parede caindo após a porta se fechar. Para o gênero, perfeito.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Matrix
2009-06-26T15:18:00-03:00
Amanda Aouad
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