A Teta Assustada
O título é esquisito, mas é a essência do segundo filme da peruana Claudia Llosa, vencedora do Urso de Ouro no Festival de Berlim. Assinando também o roteiro, ela conta a história de Fausta, uma filha do terrorismo peruano das décadas de setenta e oitenta. Sua mãe estava grávida quando foi violentamente estuprada e assistiu ao seu marido ser morto. Esse drama é narrado na primeira cena do filme, quando Perpétua canta para Fausta a história que provavelmente já teria cantado milhares de vezes. Logo depois, ela morre, deixando para filha o encargo de enterrá-la em sua cidade natal.
Voltando ao título do filme, este seria o nome de uma doença que as mães sofridas passavam a seus filhos através do leite. Em uma das sequências iniciais, o médico diz que a teta assustada não existe, é lenda. Provavelmente o médico não entende nada de psicologia, afinal um bebê que é formado com uma mãe sob tensão extrema, nasce e cresce ouvindo aqueles relatos não pode ter uma boa estrutura emocional. Assim é Fausta, uma mulher amedrontada que chega ao extremo de colocar uma batata em sua vagina para se proteger de um possível estupro.
"O tio não me entende, mamãe; eu levo isto como proteção; eu vi tudo de seu ventre; o que lhe fizeram, senti sua aflição; por isso levo isto; como um escudo de guerra; como um tampão; porque só o nojo detém os nojentos". Diz Fausta ao cadáver da mãe assim que retorna do hospital.
O simbolismo da doença é demonstrado também pelo simbolismo do legume em diversas cenas em que a diretora joga com as imagens, como quando a prima de Fausta descasca uma batata próxima do ventre para verificar se terá longa vida. O medo que Fausta possui é explicitado pelas imagens. Ela anda de cabeça baixa, não encara ninguém do sexo oposto, chega a congelar, incapaz de descer uma escada porque um homem vem subindo. A câmera de Llosa é precisa ao escolher os enquadramentos que mostram o olhar apavorado de Fausta antes de cada embate. Uma cena muito interessante é quando Fausta, já trabalhando na casa de uma rica mulher em Lima, anda assustada para trás. Só depois corta para vários homens carregando um piano para dentro da casa. As emoções da moça estão ali misturadas entre a curiosidade de ver o piano e o horror de estar tão próxima de vários homens ao mesmo tempo. Magaly Solier consegue passar muita emoção em suas expressões, o que dá mais veracidade as cenas.
A fotografia divide-se entre a paisagem árida e ampla do entorno de Lima, onde moram Fausta e sua família, e enquadramentos quase claustrofóbicos da protagonista. Uma visão pouco conhecida de um país marcado pelo terrorismo, mas que ainda preserva suas origens indígenas, de uma cultura tão rica e sensível. Um belo filme.
Voltando ao título do filme, este seria o nome de uma doença que as mães sofridas passavam a seus filhos através do leite. Em uma das sequências iniciais, o médico diz que a teta assustada não existe, é lenda. Provavelmente o médico não entende nada de psicologia, afinal um bebê que é formado com uma mãe sob tensão extrema, nasce e cresce ouvindo aqueles relatos não pode ter uma boa estrutura emocional. Assim é Fausta, uma mulher amedrontada que chega ao extremo de colocar uma batata em sua vagina para se proteger de um possível estupro.
"O tio não me entende, mamãe; eu levo isto como proteção; eu vi tudo de seu ventre; o que lhe fizeram, senti sua aflição; por isso levo isto; como um escudo de guerra; como um tampão; porque só o nojo detém os nojentos". Diz Fausta ao cadáver da mãe assim que retorna do hospital.
O simbolismo da doença é demonstrado também pelo simbolismo do legume em diversas cenas em que a diretora joga com as imagens, como quando a prima de Fausta descasca uma batata próxima do ventre para verificar se terá longa vida. O medo que Fausta possui é explicitado pelas imagens. Ela anda de cabeça baixa, não encara ninguém do sexo oposto, chega a congelar, incapaz de descer uma escada porque um homem vem subindo. A câmera de Llosa é precisa ao escolher os enquadramentos que mostram o olhar apavorado de Fausta antes de cada embate. Uma cena muito interessante é quando Fausta, já trabalhando na casa de uma rica mulher em Lima, anda assustada para trás. Só depois corta para vários homens carregando um piano para dentro da casa. As emoções da moça estão ali misturadas entre a curiosidade de ver o piano e o horror de estar tão próxima de vários homens ao mesmo tempo. Magaly Solier consegue passar muita emoção em suas expressões, o que dá mais veracidade as cenas.
A fotografia divide-se entre a paisagem árida e ampla do entorno de Lima, onde moram Fausta e sua família, e enquadramentos quase claustrofóbicos da protagonista. Uma visão pouco conhecida de um país marcado pelo terrorismo, mas que ainda preserva suas origens indígenas, de uma cultura tão rica e sensível. Um belo filme.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Teta Assustada
2009-09-01T13:08:00-03:00
Amanda Aouad
cinema latino|critica|drama|Oscar 2010|Sala de Arte|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Em cartaz nos cinemas com o filme Retrato de um Certo Oriente , Marcelo Gomes trouxe à abertura do 57º Festival do Cinema Brasileiro uma ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro , em sua 57ª edição, reafirma sua posição como o mais longevo e tradicional evento dedicado ao c...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Casamento Grego (2002), dirigido por Joel Zwick e escrito por Nia Vardalos , é um dos filmes mais emblemáticos quando o assunto é risco e...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Oito anos após Moana conquistar o oceano e nossos corações, a jovem polinésia retorna às telas em uma nova aventura que se passa três ano...