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Salve Geral

Nosso grito se espalhará pelo país. Se for para amar, amaremos. Se for para matar, mataremos. Assim está escrito no manifesto do PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa que no dia das mães de 2006 causou terror na cidade de São Paulo ao protestar contra a transferência de seus líderes para o presídio de segurança máxima. O filme de Sérgio Rezende que retrata esse momento poderia ser uma grande reflexão sobre o sistema carcerário brasileiro, sobre questões éticas e a vulnerabilidade em que se encontra o cidadão comum. É porém, raso demais em todos os aspectos, tornando Salve Geral um filme bem feito, porém longe de ser um grande marco cinematográfico.

A história fictícia que conduz a trama é fraca ao não aprofundar a construção de seus personagens e suas motivações. O jovem Rafa, interpretado pela grata surpresa Lee Thalor, é um boneco da situação, desde o crime acidental que comete até o desenrolar de sua trama na penitenciária. Pouco é explorado do seu drama e das consequências que todos os jovens sofrem ao serem presos no país. A professora Lúcia, vivida magistralmente por Andréa Beltrão também se torna um joguete nas mãos do PCC, sem explorar a dor da mãe que vê seu filho naquela situação precária, não podendo se destacar uma única cena realmente forte. Resta ainda a estranha Ruiva, que comanda os acontecimentos de fora da cadeia com um esquema de comunicação próprio. Denise Weinberg está bem em alguns momentos, mas em outros é bastante caricatural, o que me causou uma certa agonia.

Falta a Salve Geral um conjunto da obra, um objetivo claro a ser exposto e uma reflexão sobre os acontecimentos que não seja o determinismo de que é assim e nada podemos fazer. As cenas do ataque propriamente dito são ágeis, bem feitas e fazem com que o espectador saia do cinema com uma sensação de fragilidade, um medo pelo que pode acontecer a qualquer momento. Principalmente os paulistanos que viveram o fato e os soteropolitanos que há quinze dias viram diversos ônibus serem incendiados na capital baiana por um motivo parecido. Mas tudo isso é pouco para fazer do filme um grande acontecimento. Ele não traz nenhuma inovação na linguagem, como o fez Cidade de Deus, nem tem uma trajetória forte como Tropa de Elite.

Dificilmente conseguirá a sonhada indicação ao Oscar, o que me faz questionar o porquê de ter vencido a disputa com filmes como O Contador de Histórias, A Festa de Menina Morta, Feliz Natal ou Se nada mais der certo. Talvez, o fato dele ser uma possível boa bilheteria, já que o diretor tem um bom histórico nessa área, ou pelo fato de nenhum dos filmes citados ser incontestavelmente um grande filme. Todos bons, mas nenhum tem o brilho de um grande clássico cinematográfico.

A direção me impressionou, esperava menos, principalmente das cenas de ação. A produção é detalhada, com grandes investimentos e ajuda na construção da sensação da megalópole sitiada. A trilha sonora também chama a atenção e tem razão de ser, já que Lúcia é uma pianista frustrada e a música clássica é a trilha das cenas mais violentas, construindo um contraste empolgante.

O final ainda deixa uma sensação de inversão de valores, impunidade e futuro incerto. Nada presta? Não gosto de pensar em uma definição tão pessimista para humanidade. É uma história bem contada, mas não mais que isso. Uma pena, poderia ser um grande filme se ousasse ir além.

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