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É Proibido Fumar

Glória PiresQuando ouvi falar do filme de Anna Muylaert pela primeira vez tive receios, afinal Durval Discos começou como uma promessa de bom filme, mas acabou descendo a ladeira. O sucesso no festival de Brasília e as boas críticas me animaram, até porque gosto muito de alguns roteiros de Muylaert como O ano em que meus pais saíram de férias. Entre expectativas boas e ruins pude conferir É proibido fumar com olhos neutros e gostei do resultado. Não é fantástico, mas é um filme envolvente, despretensioso e nem um pouco politicamente correto.

O título nos dá a falsa impressão de que vamos assistir a um tratado anti-fumo, mas na verdade, o assunto é apenas mais um elemento para fazer a história andar, além de uma metáfora do estado de espírito de Baby, a protagonista vivida muito bem por Glória Pires. Conseguimos esquecer sua imagem "global" ao interpretar essa suburbana simples, solteirona de meia-idade, que vive seu cotidiano entre as aulas de violão que dá em sua residência e as brigas com as irmãs por causa de um sofá velho de uma tia. Tudo muda na vida de Baby quando chega Max, em mais uma interpretação interessante do Titã Paulo Miklos. A moça vê no vizinho uma nova oportunidade de vida.

Glória Pires e Paulo Miklos

A frase que ela repete compulsivamente para irmã "estou em uma nova fase da minha vida", soa estranho como se ela quisesse introjetar aquilo que nem mesmo ela acredita. É algo parecido com o mantra da associação para parar de fumar. "o cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo". Sim, porque depois de se envolver com Max, Baby vai tentar parar de fumar a pedido dele. Tudo é muito sutil e, na verdade, creio que o título se refere a algo que acontece bem depois e causa uma reviravolta na história. Tal qual em Durval Discos, aquilo que parecia o cotidiano mais comum de um bairro simples, ganha toques surreais. Só que desta vez com menos força. Não vamos ver um cavalo entrando no meio de um quarto em caos.

É Proibido Fumar CartazA construção de Baby é muito interessante, não há didatismo. Pescamos em pequenos gestos, em discussões fúteis, em sua postura ao dar aula. Aliás, uma professora de violão que tem um quadro escrito "eu amo música" e vive com uma camisa de Chico Buarque não ter nenhuma cena com o instrumento musical na mão é muito estranho. Por motivos óbvios, é Paulo Miklos quem toca nas cenas em que estão juntos. Mas, em uma situação real, os dois dividiriam ou fariam um dueto, ou não? Max é o grande mistério do filme. Um cara sem grandes atrativos físicos, toca samba em uma churrascaria, mas é fã de Jorge Benjor e sonha em ser roqueiro. O que ele realmente quer com Baby?

À medida de que o filme avança, vai nos pregando peças. Quando acreditamos que sabemos o que vai acontecer, a cena seguinte nos surpreende. Isso é muito interessante no filme de Anna Muylaert. Nada está ali por acaso. E o final também. Sem muitas explicações, nos deixa entender o que aconteceu. Sem resoluções moralistas, sem julgamentos. Apenas seres humanos, nem bons, nem ruins. Algo me incomodou um pouco no fim, mas vou parar por aqui para não virar spoiler. Pois, ainda assim, é um filme que surpreende.

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