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Como Esquecer?

Ana Paula ArósioHá filmes que te conquistam por motivos diversos. Fiquei predisposta a gostar de Como Esquecer desde a abertura onde imagens de Ana Paula Arósio em Londres simulando uma fita caseira formava um clipe ao som de Retrato em Branco e Preto na voz de Elis Regina. Mas o filme de Malu De Martino conquista pela sensibilidade como conduz o tema: a dor de amor. Ponto positivo também por não tentar levantar bandeiras por opções sexuais. A homossexualidade é tratada como deve ser, algo natural, nem contra, nem a favor. A discussão é totalmente superada para se falar em sentimentos que atingem a todos e como tentar esquecer a dor de ser rejeitado.

Ana Paula Arósio é Júlia, uma professora universitária que sofre por ter sido largada por sua companheira de 10 anos, Antônia. É ótima a opção de nunca mostrar essa mulher responsável por tanto sofrimento. Fica no nosso imaginário e na metáfora da menininha no cais. É interessante mostrar também o contraste de diversas dores e rejeições. O amigo Hugo, recém viúvo de seu companheiro Pedro, Lisa, abandonada pelo namorado em uma situação delicada, e a estudante Carmem Lygia que fica catando as migalhas deixadas por Júlia a cada patada direcionada a aluna. O ponto de equilíbrio dos personagens parece mesmo ser Helena, a personagem de Arieta Corrêa que chega como uma luz na depressiva história.

Ana Paula Arósio e Arieta CorrêaÉ complicado torcer por Júlia, por mais que entendamos o sofrimento de ser abandonado. Só o bom humor de Helena mesmo para dobrá-la, porque seu mau humor é insuportável. A forma como ela encara seu mundo próprio, o egoísmo como lida com o problema e a insensibilidade de não deixar as pessoas se aproximarem dela, incomodam aos mais sensíveis. Ainda assim, sua trajetória é envolvente, principalmente pela interpretação forte de Ana Paula Arósio que se entrega à personagem, despindo-se de qualquer vaidade. Murilo Rosa também é destaque como o amigo Hugo, que vai crescendo à medida em que o filme avança, sendo um bom contraponto nas cenas mais densas.

Como EsquecerO ritmo do roteiro é lento, assim como a trilha sonora que acaba tendo um único tom. Mas, nem por isso torna o filme maçante. Temos pérolas como uma cena entre Júlia e Helena onde o barulho do mar dita o ritmo ou a tensão de uma sequência onde Júlia pede para ser amarrada a uma cadeira e o silêncio é interrompido pelo toque insistente do telefone. O roteiro a oito mãos baseado no livro de Myriam Campello, Como Esquecer – Anotações quase inglesas oscila e esbarra em momentos clichês ou sem sentido, mas acaba construindo uma curva dramática interessante, principalmente pelo final.

Vi algumas críticas reclamando do texto excessivamente didático, com palavreado acadêmico. Tem tudo a ver com a personagem. Júlia é o protótipo do academicismo maçante. Professora de literatura, é mais do que natural seu palavreado ser como é. A narração over não destoa da história e acaba completando o quadro. Na maioria das vezes, prefiro a contemplação da imagem, mas, aqui sinceramente, me conquistou. O único incômodo foi o comportamento da platéia. Totalmente imatura, dando risada em momentos tensos, apenas porque uma mulher se aproximou de outra com algum interesse sexual.

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