Grandes Cenas: O iluminado (com spoiler)
Clássico do suspense e terror, o filme de Stanley Kubrick baseado no best seller de Stephen King é em si um grande filme. Marcante em detalhes, assustador mesmo com os poucos recursos da época e com uma interpretação irretocável de Jack Nicholson. É difícil escolher um momento desse filme, por isso, resolvi falar aqui de duas grandes cenas da fita. Com certeza, vocês irão lembrar de outros. Mas, acredito que estes sejam os momentos mais significativos.
Para quem não conhece a história, trata-se de uma família que vai tomar conta de um hotel fechado no inverno. O isolamento não é um bom amigo para os três, principalmente para o pai, Jack Torrance, que começa a ficar perturbado. Na verdade, o hotel guarda seus mistérios, já que foi construído em cima de um antigo cemitério indígena. E o antigo zelador também já tinha enlouquecido matando mulher e filhas. Vale lembrar que o filho do casal Torrance tem alguns dons incomuns como conversar com um tal de Tony e ter visões sobrenaturais.
Primeiro uma cena atemporal, aparentemente sem muita importância, mas que o olhar da câmera transforma em algo aterrorizador. O garotinho Danny está andando em seu velotrol, ou triciclo, pelos corredores do hotel vazio. Interessante ver o detalhe da câmera mesmo que de longe, estar na altura da cabeça do menino, dando-nos a exata dimensão de sua visão. A princípio não há música na cena, apenas as rodas do objeto pelo chão. Mas, logo a trilha característica de suspense sobe, nos deixando alertas. O garoto vira à direita e a câmera ainda passeia pelo corredor vazio, com a música em volume alto. Corta para uma câmera mais próxima das costas de Danny, só que agora enquadrando em um quase plongée, deixando-o mais frágil. Vira mais uma curva e o garoto se depara com as gêmeas.
O velotrol pára, ele olha assustado. Close no garoto, respiração forte. Volta para o enquadramento atrás de suas costas, com as meninas ao fundo chamando por ele. Fica esse jogo de plano e contra plano. Enquanto as meninas o chamam para ficar com elas, brincar para sempre ali. O garoto então, tem a visão das duas mortas a machadadas. A cena fica passando em corte seco da visão delas mortas para elas falando e a cada transição, elas estão mais próximas. Volta para o close de Danny desesperado que fecha os olhos. A música aumenta. Ele vai abrindo os olhos devagar. A música diminui, ele olha, o corredor está vazio. Esse jogo de tensão, é impressionante, pois ficamos na expectativa do que está na frente do garoto. Quando tudo se acalma, ele conversa com seu amigo Tony. O dedinho lhe diz para lembrar do que o cozinheiro do hotel lhe falou, que aquilo não era real.
A outra cena é tão clássica que se tornou o cartaz do filme. Jack Nicholson completamente tomado por aquele local, tenta matar sua esposa a machadadas. Há quem diga que a interpretação de Shelley Duvall já é assustadora tornando o espectador avesso à vítima. Mas, o clima criado nos faz temer muito mais Jack Torrance e seu machado. Até porque a interpretação de Nicholson nos convence completamente do perigo. A cena fica intercalando entre ele na porta, e ela no banheiro desesperada. Ele irônico brinca com a fala do conto dos três porquinhos. Como se ele fosse o lobo mau querendo entrar para pegar o bichinho acuado. Lá dentro, ela pega uma faca e se enconde no canto, sem ter muito o que fazer.
Jack começa a destruir a porta com seu machado, e Wendy começa a gritar dentro do banheiro. Cada machadada corresponde a um grito. A música tensa está ao fundo compondo a cena. O enquadramento da porta recebendo os golpes, tendo Wendy acuada ao fundo com a faca na mão, é uma composição aterrorizadora. A escolha de Kubrick de deixar boa parte da cena ali, não retornando ao lado de fora, onde Jack tenta entrar é perfeita. Ficamos presos no banheiro junto com Wendy, esperando o inevitável momento do ataque. Quando a porta está quase destruída, ele corta para uma visão de dentro para fora, vendo Jack pelas frestas. Volta para o quarto para a última machadada e então, volta para o plano do banheiro olhando para porta, onde Jack coloca o rosto no buraco que abriu na porta e fala: Here´s Johnny!, se referindo ao personagem do passado, já que ali não é mais Jack Torrance.
Para quem não conhece a história, trata-se de uma família que vai tomar conta de um hotel fechado no inverno. O isolamento não é um bom amigo para os três, principalmente para o pai, Jack Torrance, que começa a ficar perturbado. Na verdade, o hotel guarda seus mistérios, já que foi construído em cima de um antigo cemitério indígena. E o antigo zelador também já tinha enlouquecido matando mulher e filhas. Vale lembrar que o filho do casal Torrance tem alguns dons incomuns como conversar com um tal de Tony e ter visões sobrenaturais.
Primeiro uma cena atemporal, aparentemente sem muita importância, mas que o olhar da câmera transforma em algo aterrorizador. O garotinho Danny está andando em seu velotrol, ou triciclo, pelos corredores do hotel vazio. Interessante ver o detalhe da câmera mesmo que de longe, estar na altura da cabeça do menino, dando-nos a exata dimensão de sua visão. A princípio não há música na cena, apenas as rodas do objeto pelo chão. Mas, logo a trilha característica de suspense sobe, nos deixando alertas. O garoto vira à direita e a câmera ainda passeia pelo corredor vazio, com a música em volume alto. Corta para uma câmera mais próxima das costas de Danny, só que agora enquadrando em um quase plongée, deixando-o mais frágil. Vira mais uma curva e o garoto se depara com as gêmeas.
O velotrol pára, ele olha assustado. Close no garoto, respiração forte. Volta para o enquadramento atrás de suas costas, com as meninas ao fundo chamando por ele. Fica esse jogo de plano e contra plano. Enquanto as meninas o chamam para ficar com elas, brincar para sempre ali. O garoto então, tem a visão das duas mortas a machadadas. A cena fica passando em corte seco da visão delas mortas para elas falando e a cada transição, elas estão mais próximas. Volta para o close de Danny desesperado que fecha os olhos. A música aumenta. Ele vai abrindo os olhos devagar. A música diminui, ele olha, o corredor está vazio. Esse jogo de tensão, é impressionante, pois ficamos na expectativa do que está na frente do garoto. Quando tudo se acalma, ele conversa com seu amigo Tony. O dedinho lhe diz para lembrar do que o cozinheiro do hotel lhe falou, que aquilo não era real.
A outra cena é tão clássica que se tornou o cartaz do filme. Jack Nicholson completamente tomado por aquele local, tenta matar sua esposa a machadadas. Há quem diga que a interpretação de Shelley Duvall já é assustadora tornando o espectador avesso à vítima. Mas, o clima criado nos faz temer muito mais Jack Torrance e seu machado. Até porque a interpretação de Nicholson nos convence completamente do perigo. A cena fica intercalando entre ele na porta, e ela no banheiro desesperada. Ele irônico brinca com a fala do conto dos três porquinhos. Como se ele fosse o lobo mau querendo entrar para pegar o bichinho acuado. Lá dentro, ela pega uma faca e se enconde no canto, sem ter muito o que fazer.
Jack começa a destruir a porta com seu machado, e Wendy começa a gritar dentro do banheiro. Cada machadada corresponde a um grito. A música tensa está ao fundo compondo a cena. O enquadramento da porta recebendo os golpes, tendo Wendy acuada ao fundo com a faca na mão, é uma composição aterrorizadora. A escolha de Kubrick de deixar boa parte da cena ali, não retornando ao lado de fora, onde Jack tenta entrar é perfeita. Ficamos presos no banheiro junto com Wendy, esperando o inevitável momento do ataque. Quando a porta está quase destruída, ele corta para uma visão de dentro para fora, vendo Jack pelas frestas. Volta para o quarto para a última machadada e então, volta para o plano do banheiro olhando para porta, onde Jack coloca o rosto no buraco que abriu na porta e fala: Here´s Johnny!, se referindo ao personagem do passado, já que ali não é mais Jack Torrance.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: O iluminado (com spoiler)
2011-02-06T09:26:00-03:00
Amanda Aouad
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