Tetro
De forma totalmente independente, Francis Ford Coppola fez o seu Tetro, filme que roteirizou, dirigiu e produziu. Ele fez tanto que saiu pelo mundo, veio até ao Brasil, divulgar o longametragem que fez na Argentina com atores americanos, espanhóis e o austríaco Klaus Georg Steng. Há ainda a simpática participação de Carmem Maura, atriz preferida de Almodóvar, que faz Alone, a crítica de arte que tem um papel pontual na história. Tetro é um drama familiar visceral, filmado a maior parte em preto e branco, que dá uma atmosfera ainda mais sombria a Buenos Aires. Palmas para o eterno diretor de O Poderoso Chefão.
Vincent Gallo é Tetro, um homem que rompeu com a família e seu passado, vivendo em Buenos Aires com sua mulher Miranda, vivida por María Isabel Verdú Rollá. Tudo é ameaçado pela visita de seu irmão caçula, Bennie, interpretado por Alden Caleb Ehrenreich. O garoto chega à sua porta em uma noite, vestido de marinheiro e pretende ficar até que o motor de seu navio seja consertado. Na verdade, Bennie é apenas garçom no cruzeiro e sua vestimenta dá um ar ainda mais infantil a seu personagem, já que é apenas uma fantasia. Tetro, por sua vez, é o homem maduro, sofrido, mas que consegue tirar um bom sarro da vida, em vários momentos, como quando faz a iluminação de uma peça ou ao tirar o gesso da perna.
A história dos personagens vai sendo revelada aos poucos para nós, o que é um grande mérito do roteiro. Bennie, Miranda e Tetro vão se tornando íntimos nossos até que no final já somos parte daquela família. O drama, então, nos é entregue com maior força. Torcemos por eles, como torcemos por nós mesmos. Há apenas um exagero em uma cena final, onde o tom do melodrama excede um pouco, virando quase banal. Ainda assim, é uma história forte. Marcante, diria até. E os atores ajudam a compô-la de forma esplêndida. Todos estão muito bem, dando a carga emocional necessária para dar vida àquele drama familiar.
A fotografia é uma das coisas que mais elogiadas no filme. E ela é realmente bastante funcional. A escolha de rodar em preto e branco a realidade, em contrapartida com as lembranças que vem coloridas é bastante feliz. O tempo atual é sombrio, carregado, sem vida. Enquanto as lembranças são sonhos, assim como a peça no Festival da Patagônia que abusa do vermelho. Aliás, a parte da peça em paralelo com o que está acontecendo com os personagens é um dos momentos mais belos do filme. Na parte em preto e branco, Coppola pode carregar ainda mais na tensão visual. Cada frame ali fala muito sobre sua história.
Tetro não é um filme fácil. Sua narrativa contemplativa, com uma forte carga emocional e interpretações viscerais pode incomodar certo tipo de público que prefere o entretenimento leve em uma narrativa correta. Coppola abusa aqui da experiência cinematográfica para experimentar em favor da arte que mostra. O resultado é mesmo impactante. Seria uma beleza se todo cinema independente surgisse com tamanha competência em nossas telas.
Tetro (Tetro, 2009 / Espanha, Itália, EUA, Argentina)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola
Com: Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú
Duração: 127 min.
Vincent Gallo é Tetro, um homem que rompeu com a família e seu passado, vivendo em Buenos Aires com sua mulher Miranda, vivida por María Isabel Verdú Rollá. Tudo é ameaçado pela visita de seu irmão caçula, Bennie, interpretado por Alden Caleb Ehrenreich. O garoto chega à sua porta em uma noite, vestido de marinheiro e pretende ficar até que o motor de seu navio seja consertado. Na verdade, Bennie é apenas garçom no cruzeiro e sua vestimenta dá um ar ainda mais infantil a seu personagem, já que é apenas uma fantasia. Tetro, por sua vez, é o homem maduro, sofrido, mas que consegue tirar um bom sarro da vida, em vários momentos, como quando faz a iluminação de uma peça ou ao tirar o gesso da perna.
A história dos personagens vai sendo revelada aos poucos para nós, o que é um grande mérito do roteiro. Bennie, Miranda e Tetro vão se tornando íntimos nossos até que no final já somos parte daquela família. O drama, então, nos é entregue com maior força. Torcemos por eles, como torcemos por nós mesmos. Há apenas um exagero em uma cena final, onde o tom do melodrama excede um pouco, virando quase banal. Ainda assim, é uma história forte. Marcante, diria até. E os atores ajudam a compô-la de forma esplêndida. Todos estão muito bem, dando a carga emocional necessária para dar vida àquele drama familiar.
A fotografia é uma das coisas que mais elogiadas no filme. E ela é realmente bastante funcional. A escolha de rodar em preto e branco a realidade, em contrapartida com as lembranças que vem coloridas é bastante feliz. O tempo atual é sombrio, carregado, sem vida. Enquanto as lembranças são sonhos, assim como a peça no Festival da Patagônia que abusa do vermelho. Aliás, a parte da peça em paralelo com o que está acontecendo com os personagens é um dos momentos mais belos do filme. Na parte em preto e branco, Coppola pode carregar ainda mais na tensão visual. Cada frame ali fala muito sobre sua história.
Tetro não é um filme fácil. Sua narrativa contemplativa, com uma forte carga emocional e interpretações viscerais pode incomodar certo tipo de público que prefere o entretenimento leve em uma narrativa correta. Coppola abusa aqui da experiência cinematográfica para experimentar em favor da arte que mostra. O resultado é mesmo impactante. Seria uma beleza se todo cinema independente surgisse com tamanha competência em nossas telas.
Tetro (Tetro, 2009 / Espanha, Itália, EUA, Argentina)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola
Com: Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú
Duração: 127 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tetro
2011-02-02T11:30:00-03:00
Amanda Aouad
Alden Ehrenreich|critica|drama|Francis Ford Coppola|Maribel Verdú|Vincent Gallo|
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