Entre Irmãos
O que é pior que um pai de família morrer na guerra? Ele voltar e perceber que era melhor que não tivesse conseguido sobreviver. A refilmagem do dinamarquês Brothers de 2004 nos traz um argumento interessante, apesar de o roteiro de David Benioff oscilar em alguns momentos. Temos exatamente um ato com o antes, outro com o durante e o terceiro com o depois da guerra. Fica tudo meio esquemático e o ponto mais interessante acaba não se desenvolvendo para um final razoável. Temos uma mistura de vários filmes de guerra e famílias, com a premissa básica do irmão herói e do irmão perdido. Apesar de todo o clichê e questões previsíveis, no entanto, o filme de Jim Sheridan consegue nos prender, principalmente por causa da questão humana e das atuações.
Tobey Maguire faz Sam Cahill, um fuzileiro que sempre foi o orgulho da família, pai carinhoso, esposo dedicado, bom aluno, esportista e agora, herói nacional. Seu irmão Tommy, vivido por Jake Gyllenhaal, é o oposto, sempre foi o filho problema, acaba de sair da cadeia, não tem emprego, família, futuro definido e está sempre sendo cobrado pelo pai. Quanto Sam vai para Afeganistão e é dado como morto, cabe a Tommy cuidar da família do irmão, se aproximando da cunhada, vivida por Natalie Portman e suas duas filhas. Com a esperada volta de Sam, a vida dessa família vai sofrer várias reviravoltas.
Acho que o filme perde muito tempo com a ida do personagem para guerra, e pouco desenvolve seu retorno, principalmente a partir de determinado ponto. A montagem em paralelo do que acontece no Afeganistão e nos Estados Unidos também não ajuda muito na construção da tensão da volta. De repente, se contasse o que houve na guerra depois, o retorno fosse mais tenso. De qualquer forma, vamos nos envolvendo com os três protagonistas, torcendo a cada momento, tendo raiva de algum, pena de outro. É um estudo sobre as reações humanas, as formas de convivência, a maneira como encaramos cada situação em nossa vida.
Tommy nunca foi um marginal, apenas era ofuscado por seu irmão perfeito, e teve oportunidade de mostrar suas qualidades. Grace sempre amou Sam, desde a adolescência, a vida sem ele era um tormento, mas ela precisava seguir em frente. A cena em que Grace fica ouvindo a secretária eletrônica repetidas vezes apenas para ouvir a voz de Sam é linda. Mas, tendo Tommy ali todos os dias, ela vai ficando grata por ser cuidada. As filhas também precisam sobreviver a perda do pai e nada melhor que um tio carinhoso e brincalhão para isso. Quando um pai moribundo retorna, elas acabam rejeitando-o. É normal, são reações compreensíveis. Assim como a loucura crescente de um homem traumatizado pela guerra.
As atuações, como falei, são boas e envolventes, principalmente de Tobey Maguire, que consegue defender um bom papel dramático. Natalie Portman está bem como Grace, mas nada que se destaque com excepcional, da mesma forma que Jake Gyllenhaal. Destaque ainda para participação relâmpago de Carey Mulligan. A pequena Mare Winningham está fofa e natural como a caçula da família, já a garotinha Bailee Madison, sofre daqueles problemas de menina prodígio tentando atuar como adulto, fica até a dúvida se sua atuação em Esposa de Mentirinha é uma característica sua ou uma interpretação da personagem.
Jim Sheridan é um grande diretor que já nos presenteou com clássicos como Em nome do pai e Meu pé esquerdo. Era esperado, então, que nos desse um filme bom, mas acaba fazendo escolhas pouco ousadas, nada se destaca em sua direção. Fico com a curiosidade agora de conferir o original para compreender até que ponto eles tentaram ser fiéis ou foram escolhas próprias. Só peço uma coisa para quem ainda não viu o filme. Não veja o trailer. Além de mostrar muita coisa ainda passa uma idéia errada de como será o desenvolvimento da trama.
Este post é dedicado a Maurício Amorim.
Entre Irmãos (Brothers: 2009 / EUA)
Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Benioff
Com: Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Tobey Maguire, Clifton Collins Jr..
Duração: 105 min
Tobey Maguire faz Sam Cahill, um fuzileiro que sempre foi o orgulho da família, pai carinhoso, esposo dedicado, bom aluno, esportista e agora, herói nacional. Seu irmão Tommy, vivido por Jake Gyllenhaal, é o oposto, sempre foi o filho problema, acaba de sair da cadeia, não tem emprego, família, futuro definido e está sempre sendo cobrado pelo pai. Quanto Sam vai para Afeganistão e é dado como morto, cabe a Tommy cuidar da família do irmão, se aproximando da cunhada, vivida por Natalie Portman e suas duas filhas. Com a esperada volta de Sam, a vida dessa família vai sofrer várias reviravoltas.
Acho que o filme perde muito tempo com a ida do personagem para guerra, e pouco desenvolve seu retorno, principalmente a partir de determinado ponto. A montagem em paralelo do que acontece no Afeganistão e nos Estados Unidos também não ajuda muito na construção da tensão da volta. De repente, se contasse o que houve na guerra depois, o retorno fosse mais tenso. De qualquer forma, vamos nos envolvendo com os três protagonistas, torcendo a cada momento, tendo raiva de algum, pena de outro. É um estudo sobre as reações humanas, as formas de convivência, a maneira como encaramos cada situação em nossa vida.
Tommy nunca foi um marginal, apenas era ofuscado por seu irmão perfeito, e teve oportunidade de mostrar suas qualidades. Grace sempre amou Sam, desde a adolescência, a vida sem ele era um tormento, mas ela precisava seguir em frente. A cena em que Grace fica ouvindo a secretária eletrônica repetidas vezes apenas para ouvir a voz de Sam é linda. Mas, tendo Tommy ali todos os dias, ela vai ficando grata por ser cuidada. As filhas também precisam sobreviver a perda do pai e nada melhor que um tio carinhoso e brincalhão para isso. Quando um pai moribundo retorna, elas acabam rejeitando-o. É normal, são reações compreensíveis. Assim como a loucura crescente de um homem traumatizado pela guerra.
As atuações, como falei, são boas e envolventes, principalmente de Tobey Maguire, que consegue defender um bom papel dramático. Natalie Portman está bem como Grace, mas nada que se destaque com excepcional, da mesma forma que Jake Gyllenhaal. Destaque ainda para participação relâmpago de Carey Mulligan. A pequena Mare Winningham está fofa e natural como a caçula da família, já a garotinha Bailee Madison, sofre daqueles problemas de menina prodígio tentando atuar como adulto, fica até a dúvida se sua atuação em Esposa de Mentirinha é uma característica sua ou uma interpretação da personagem.
Jim Sheridan é um grande diretor que já nos presenteou com clássicos como Em nome do pai e Meu pé esquerdo. Era esperado, então, que nos desse um filme bom, mas acaba fazendo escolhas pouco ousadas, nada se destaca em sua direção. Fico com a curiosidade agora de conferir o original para compreender até que ponto eles tentaram ser fiéis ou foram escolhas próprias. Só peço uma coisa para quem ainda não viu o filme. Não veja o trailer. Além de mostrar muita coisa ainda passa uma idéia errada de como será o desenvolvimento da trama.
Este post é dedicado a Maurício Amorim.
Entre Irmãos (Brothers: 2009 / EUA)
Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Benioff
Com: Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Tobey Maguire, Clifton Collins Jr..
Duração: 105 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Entre Irmãos
2011-03-14T08:10:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|guerra|Jake Gyllenhaal|Natalie Portman|Tobey Maguire|
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