Pânico 4
Em dezembro de 1996, Wes Craven trouxe algo diferente para tela: um filme de terror que satirizava os filmes do gênero de uma forma inteligente. Fez tanto sucesso que os estúdios correram para lançar uma continuação um ano depois, que já não foi tão interessante e fecharam a trilogia em 2000, com um filme lamentável. Dez anos depois, Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson ressuscitam seu Ghostface com uma obra que não apenas tira o gosto amargo das continuações como faz jus ao original, reconstruindo com vigor a metalinguagem que sustentou o sucesso da série Pânico.
Dez anos se passaram também na história e a personagem Sidney Prescott está de volta a sua cidade natal Woodsboro, onde tudo começou, para lançar um livro de auto-ajuda, “Saindo da Escuridão”. Sidney é uma verdadeira celebridade local que sobreviveu ao assassino em três oportunidades. E, graças aos livros da jornalista Gale Weathers (agora Riley) e os filmes a partir deles, uma legião de fãs da história cultuam o Ghostface tal qual os fãs espectadores da série Pânico. No filme, a série se chama “Stab” e já teve sete continuações, uma brincadeira também de Craven às infindáveis sequências de filmes. É graças a essa metalinguagem que ouvimos o tempo todo a famosa frase "Qual o seu filme de terror preferido?"
Brincando com os clichês e regras de um filme de terror, Wes Craven constrói o seu Pânico 4 repleto de referências e piadas sobre si mesmo, como quando o policial diz "volto logo" e depois se arrepende, já que dizer isso em um filme de terror é sinal de que não vai voltar, ou quando uma das vítimas diz que é gay e não pode ser morto. Há brincadeiras mais sutis com o cinema em geral como o despertador de Dewey Riley, agora xerife, que toca a música de Um Tira da Pesada ou a citação a Bruce Willis. Mas, o foco é mesmo o terror e a genial sequência inicial já demonstra o clima que nos aguarda, satirizando o gênero, expondo a metalinguagem, mas nos dando mortes reais e bastante sangrentas. Apesar do clima sátiro, não é para ninguém confundir com paródias bobas a exemplo da franquia Todo Mundo em Pânico. A função da piada aqui é para quebrar o sentimento de clichê e tolice que a maioria dos filmes de terror deixa hoje em dia. A fórmula meio que se esgotou, não causa medo, então, brincar com isso traz um novo frescor ao gênero.
Não por acaso, as mortes de Pânico 4 são as mais fortes da série. Muito sangue, partes expostas e violência vão nos guiando. Poucos sustos, é verdade, mas temos uma tensão constante, principalmente no terceiro ato quando temos algumas revelações chocantes. Até pelo fato dos fãs se reunirem para assistir aos filmes e comentar algumas regras e evolução do gênero, temos a presença constante de citações aos filmes anteriores. Principalmente à sequência inicial do primeiro filme com Drew Barrymore, que continua sendo a melhor e mais chocante de todas, dos quatro filmes. Ainda assim, tememos pela vida daqueles personagens toda vez que o telefone toca e ouvimos a voz modificada por um aparelho começando o seu jogo com as vítimas.
Tememos principalmente pela protagonista Sidney, mesmo que agora ela seja menos vítima do que nos filmes anteriores. Mais madura e experiente, ela é a única que não teme o Ghostface, pelo contrário, vai ao seu encontro em vários momentos. Essa mudança nos faz temer ainda mais por sua vida, afinal, está na hora de Sidney se aposentar, ou não? Neve Campbell acompanha a evolução de sua personagem, demonstrando mais segurança na interpretação e sendo reforçada pelo antigos companheiros de jornada, David Arquette e Courtney Cox que retornam bem aos seus personagens Dewey, agora xerife, e Gale, agora casada com ele. No elenco jovem, destaque para Hayden Panettiere, que ganhou fama com a série Heroes, e Emma Roberts, que vem crescendo na carreira e consegue aqui sustentar bem o papel de destaque como sobrinha de Sidney. Há ainda as participações especiais de Kristen Bell e Anna Paquin logo no início do filme.
Eu não costumo gostar de continuações. Tendem sempre a se demonstrar desnecessárias, uma busca por mais bilheteria baseada na anterior. Mas, algumas vezes, sou surpreendida com tramas que fazem sentido e fecham bem a história, como a obra-prima Toy Story 3, ou O império Contra-Ataca da série Star Wars. Não digo com isso que temos aqui um filme excepcional, para ficar marcado para sempre na história do cinema. Mas, Pânico 4 consegue divertir, assustar e envolver no clima daquela pequena cidade que já foi palco de tantas referências. Isso é que o torna tão interessante e dá vontade de sair do cinema em busca dos três anteriores para relembrar alguns detalhes citados nas telas. Uma perfeita recriação do gênero, dando dignidade a série que tinha se perdido, principalmente no terceiro filme.
Pânico 4 (Scream 4: 2011 / EUA)
Direção: Wes Craven
Roteio: Kevin Williamson
Com: Courteney Cox, Neve Campbell, David Arquette, Hayden Panettiere.
Duração: 111 min
Dez anos se passaram também na história e a personagem Sidney Prescott está de volta a sua cidade natal Woodsboro, onde tudo começou, para lançar um livro de auto-ajuda, “Saindo da Escuridão”. Sidney é uma verdadeira celebridade local que sobreviveu ao assassino em três oportunidades. E, graças aos livros da jornalista Gale Weathers (agora Riley) e os filmes a partir deles, uma legião de fãs da história cultuam o Ghostface tal qual os fãs espectadores da série Pânico. No filme, a série se chama “Stab” e já teve sete continuações, uma brincadeira também de Craven às infindáveis sequências de filmes. É graças a essa metalinguagem que ouvimos o tempo todo a famosa frase "Qual o seu filme de terror preferido?"
Brincando com os clichês e regras de um filme de terror, Wes Craven constrói o seu Pânico 4 repleto de referências e piadas sobre si mesmo, como quando o policial diz "volto logo" e depois se arrepende, já que dizer isso em um filme de terror é sinal de que não vai voltar, ou quando uma das vítimas diz que é gay e não pode ser morto. Há brincadeiras mais sutis com o cinema em geral como o despertador de Dewey Riley, agora xerife, que toca a música de Um Tira da Pesada ou a citação a Bruce Willis. Mas, o foco é mesmo o terror e a genial sequência inicial já demonstra o clima que nos aguarda, satirizando o gênero, expondo a metalinguagem, mas nos dando mortes reais e bastante sangrentas. Apesar do clima sátiro, não é para ninguém confundir com paródias bobas a exemplo da franquia Todo Mundo em Pânico. A função da piada aqui é para quebrar o sentimento de clichê e tolice que a maioria dos filmes de terror deixa hoje em dia. A fórmula meio que se esgotou, não causa medo, então, brincar com isso traz um novo frescor ao gênero.
Não por acaso, as mortes de Pânico 4 são as mais fortes da série. Muito sangue, partes expostas e violência vão nos guiando. Poucos sustos, é verdade, mas temos uma tensão constante, principalmente no terceiro ato quando temos algumas revelações chocantes. Até pelo fato dos fãs se reunirem para assistir aos filmes e comentar algumas regras e evolução do gênero, temos a presença constante de citações aos filmes anteriores. Principalmente à sequência inicial do primeiro filme com Drew Barrymore, que continua sendo a melhor e mais chocante de todas, dos quatro filmes. Ainda assim, tememos pela vida daqueles personagens toda vez que o telefone toca e ouvimos a voz modificada por um aparelho começando o seu jogo com as vítimas.
Tememos principalmente pela protagonista Sidney, mesmo que agora ela seja menos vítima do que nos filmes anteriores. Mais madura e experiente, ela é a única que não teme o Ghostface, pelo contrário, vai ao seu encontro em vários momentos. Essa mudança nos faz temer ainda mais por sua vida, afinal, está na hora de Sidney se aposentar, ou não? Neve Campbell acompanha a evolução de sua personagem, demonstrando mais segurança na interpretação e sendo reforçada pelo antigos companheiros de jornada, David Arquette e Courtney Cox que retornam bem aos seus personagens Dewey, agora xerife, e Gale, agora casada com ele. No elenco jovem, destaque para Hayden Panettiere, que ganhou fama com a série Heroes, e Emma Roberts, que vem crescendo na carreira e consegue aqui sustentar bem o papel de destaque como sobrinha de Sidney. Há ainda as participações especiais de Kristen Bell e Anna Paquin logo no início do filme.
Eu não costumo gostar de continuações. Tendem sempre a se demonstrar desnecessárias, uma busca por mais bilheteria baseada na anterior. Mas, algumas vezes, sou surpreendida com tramas que fazem sentido e fecham bem a história, como a obra-prima Toy Story 3, ou O império Contra-Ataca da série Star Wars. Não digo com isso que temos aqui um filme excepcional, para ficar marcado para sempre na história do cinema. Mas, Pânico 4 consegue divertir, assustar e envolver no clima daquela pequena cidade que já foi palco de tantas referências. Isso é que o torna tão interessante e dá vontade de sair do cinema em busca dos três anteriores para relembrar alguns detalhes citados nas telas. Uma perfeita recriação do gênero, dando dignidade a série que tinha se perdido, principalmente no terceiro filme.
Pânico 4 (Scream 4: 2011 / EUA)
Direção: Wes Craven
Roteio: Kevin Williamson
Com: Courteney Cox, Neve Campbell, David Arquette, Hayden Panettiere.
Duração: 111 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Pânico 4
2011-04-17T12:07:00-03:00
Amanda Aouad
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