Bahêa minha vida
Futebol é a paixão dos brasileiros. E quer prova maior de amor do que um time estar na terceira divisão de um campeonato e ainda assim ser recorde de público? Este é o Bahia, ou melhor, esta é a torcida do Bahia, apaixonada ao ponto de se sentir parte de um clube que não abandona nem nos piores momentos. E é disso que fala o filme Bahêa minha vida, de Márcio Cavalcante que estreia amanhã nos cinemas.
Construído em capítulos não muito explícitos, Bahêa minha vida resgata a história do Esporte Clube Bahia a partir do ponto de vista dos seus torcedores, famosos ou não. Márcio mistura as vozes de jornalistas, historiadores, artistas e torcedores do povo em um único discurso nos conduzindo em uma viagem desde a formação do clube em 1931, passando pelas conquistas de 1959 e 1988, os sofrimentos dos rebaixamentos, a distância da série A até o momento do retorno em 2010. Imagens de arquivo e uma trilha sonora forte completam a construção do documentário. É um filme feito com o coração direto para o coração do torcedor. E quando falo em torcedor, não restrinjo ao torcedor tricolor.
Bahêa minha vida é um filme que foca a paixão e uma paixão tão sincera e contagiante quando a torcida do Bahia pode emocionar qualquer torcedor. É um tema universal, porque qualquer pessoa que torça por algum time ou tenha uma relação familiar com o futebol irá se identificar em algum momento. Não por acaso, um dos momentos mais emocionantes do filme pouco tem a ver com um time em si. É o reencontro dos jogadores do Bahia de 1959. Em uma mesa de bar, eles vão chegando aos poucos, não se reconhecem, não se lembram de muitas coisas, mas estampam no rosto a emoção daquele momento. Instantes em que eles voltam a ser reconhecidos por algo que já se foi, por reverem amigos que se perderam com o tempo e resgatar uma paixão hoje esquecida que era jogar por amor a uma camisa.
Durante os cem minutos de projeção vamos conhecendo muitos personagens, mas nenhum deles tem um destaque especial. Ali, o protagonista é o amor pelo clube que todos compartilham. Por isso, foi tão acertada a decisão de Márcio Calvancante em montar o filme de uma maneira picotada como se cada depoimento complementasse o raciocínio do outro. A condução fica dinâmica ao mesmo tempo em que dá essa sensação de unidade. Mesmo as inserções de jornalistas do sudeste do país, que aparentemente poderiam ser uma necessidade tola de atestar credibilidade àquilo, se tornam fluídas. Enriquecem o coro do quão grande o Bahia e sua torcida demonstraram ser para o resto do país.
Para não dizer que não há pequenos deslizes, o clipe dos artistas baianos cantando o hino do clube se torna um corpo estranho na condução do filme. Ainda mais no momento em que é colocado. Há uma quebra artificial na curva da história. Falar do hino é mais do que justo. Como reforça um depoimento, este é um hino guerreiro feito para torcida e não para o clube. É mais do que adequado expô-lo, mas não daquele jeito. Ainda mais depois de vê-lo recitado na boca de algumas pessoas e cantado em um trio elétrico. Ficou repetitivo e soou como uma pausa na história. Talvez no encerramento surtisse melhor efeito, apesar da solução encontrada para finalizar o filme ter sido bastante feliz, criando um clímax condizente para tudo aquilo.
Destaque ainda para as imagens da torcida no estádio, que poderiam ser mais exploradas. Elas acabam ficando tímidas em poucos momentos chaves, enquanto se dá muito espaço para cenas de jogos. Claro que o torcedor quer rever os gols que os alegraram e o filme é para eles, mas não precisava mostrar tanto lance perdido por exemplo. A trilha sonora nesses momentos, apesar de bem escolhida, também poderia dar um pouco de refresco e deixar que ouvíssemos os gritos de incentivo, de "gol" e é claro o de "é campeão". É um filme sobre paixão e o grito da torcida é a expressão maior desse amor. Tanto que quando ouvimos "o tricolor voltou" em Pituaçu não há como não ficar arrepiado. Mas, no geral, são detalhes que não tiram o brilho do filme.
Bahêa minha vida é um documentário de encher os olhos. Bem realizado, envolvente, com um bom ritmo e com uma conclusão emocionante. Um filme que faz jus à história desse time bi-campeão brasileiro, participante do clube dos treze e de maior torcida do estado, mesmo amargando uma década tão ruim. Ao final, fica a alegria pela homenagem e a tristeza de ver que tudo isso não resulta em melhores campanhas dentro do campo. Apesar de não ser tricolor, dá mesmo vontade de sacudir na cadeira e gritar: Bora, Bahêa!
Bahêa minha vida (Bahêa minha vida: 2011 / Brasil)
Direção: Márcio Cavalcante
Roteiro: Márcio Cavalcante
Duração: 100 min.
Construído em capítulos não muito explícitos, Bahêa minha vida resgata a história do Esporte Clube Bahia a partir do ponto de vista dos seus torcedores, famosos ou não. Márcio mistura as vozes de jornalistas, historiadores, artistas e torcedores do povo em um único discurso nos conduzindo em uma viagem desde a formação do clube em 1931, passando pelas conquistas de 1959 e 1988, os sofrimentos dos rebaixamentos, a distância da série A até o momento do retorno em 2010. Imagens de arquivo e uma trilha sonora forte completam a construção do documentário. É um filme feito com o coração direto para o coração do torcedor. E quando falo em torcedor, não restrinjo ao torcedor tricolor.
Bahêa minha vida é um filme que foca a paixão e uma paixão tão sincera e contagiante quando a torcida do Bahia pode emocionar qualquer torcedor. É um tema universal, porque qualquer pessoa que torça por algum time ou tenha uma relação familiar com o futebol irá se identificar em algum momento. Não por acaso, um dos momentos mais emocionantes do filme pouco tem a ver com um time em si. É o reencontro dos jogadores do Bahia de 1959. Em uma mesa de bar, eles vão chegando aos poucos, não se reconhecem, não se lembram de muitas coisas, mas estampam no rosto a emoção daquele momento. Instantes em que eles voltam a ser reconhecidos por algo que já se foi, por reverem amigos que se perderam com o tempo e resgatar uma paixão hoje esquecida que era jogar por amor a uma camisa.
Durante os cem minutos de projeção vamos conhecendo muitos personagens, mas nenhum deles tem um destaque especial. Ali, o protagonista é o amor pelo clube que todos compartilham. Por isso, foi tão acertada a decisão de Márcio Calvancante em montar o filme de uma maneira picotada como se cada depoimento complementasse o raciocínio do outro. A condução fica dinâmica ao mesmo tempo em que dá essa sensação de unidade. Mesmo as inserções de jornalistas do sudeste do país, que aparentemente poderiam ser uma necessidade tola de atestar credibilidade àquilo, se tornam fluídas. Enriquecem o coro do quão grande o Bahia e sua torcida demonstraram ser para o resto do país.
Para não dizer que não há pequenos deslizes, o clipe dos artistas baianos cantando o hino do clube se torna um corpo estranho na condução do filme. Ainda mais no momento em que é colocado. Há uma quebra artificial na curva da história. Falar do hino é mais do que justo. Como reforça um depoimento, este é um hino guerreiro feito para torcida e não para o clube. É mais do que adequado expô-lo, mas não daquele jeito. Ainda mais depois de vê-lo recitado na boca de algumas pessoas e cantado em um trio elétrico. Ficou repetitivo e soou como uma pausa na história. Talvez no encerramento surtisse melhor efeito, apesar da solução encontrada para finalizar o filme ter sido bastante feliz, criando um clímax condizente para tudo aquilo.
Destaque ainda para as imagens da torcida no estádio, que poderiam ser mais exploradas. Elas acabam ficando tímidas em poucos momentos chaves, enquanto se dá muito espaço para cenas de jogos. Claro que o torcedor quer rever os gols que os alegraram e o filme é para eles, mas não precisava mostrar tanto lance perdido por exemplo. A trilha sonora nesses momentos, apesar de bem escolhida, também poderia dar um pouco de refresco e deixar que ouvíssemos os gritos de incentivo, de "gol" e é claro o de "é campeão". É um filme sobre paixão e o grito da torcida é a expressão maior desse amor. Tanto que quando ouvimos "o tricolor voltou" em Pituaçu não há como não ficar arrepiado. Mas, no geral, são detalhes que não tiram o brilho do filme.
Bahêa minha vida é um documentário de encher os olhos. Bem realizado, envolvente, com um bom ritmo e com uma conclusão emocionante. Um filme que faz jus à história desse time bi-campeão brasileiro, participante do clube dos treze e de maior torcida do estado, mesmo amargando uma década tão ruim. Ao final, fica a alegria pela homenagem e a tristeza de ver que tudo isso não resulta em melhores campanhas dentro do campo. Apesar de não ser tricolor, dá mesmo vontade de sacudir na cadeira e gritar: Bora, Bahêa!
Bahêa minha vida (Bahêa minha vida: 2011 / Brasil)
Direção: Márcio Cavalcante
Roteiro: Márcio Cavalcante
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Bahêa minha vida
2011-09-29T08:16:00-03:00
Amanda Aouad
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