Glee Live 3D
Gostando ou não do seriado, não há como negar o sucesso de Glee, a série musical da Fox que conta a história de um colégio e um professor que tenta reerguer o clube de coral que um dia foi o grande sucesso local. Entre músicas e problemas comuns a adolescentes na fase colegial, já vão entrar na terceira temporada e chegaram à televisão aberta no Brasil. Como produtor adora transformar série de sucesso em filme e a moda agora é filme concerto, Glee chegou aos cinemas no formato de documentário mesclando partes do Show Glee live, com cenas dos bastidores da turnê e depoimentos de fãs. E claro, em 3D. Todos os ingredientes de um sucesso que estão se transformando em um fracasso.
Antes que os “Gleeks” joguem pedra, explico, e não vou nem tocar no assunto bilheteria, que nos Estados Unidos foi bem aquém do esperado. A começar, acredito que a grande graça de Glee não seja ser um show, e sim, um musical. Uma turnê com os atores é válida para aproximar ídolos da platéia, fazendo-os se sentir parte do todo. Mas, colocar isso no cinema, não empolga tanto, principalmente pela construção da narrativa. Porque, sim, documentário também tem narrativa, escolhas, roteiro, ainda que seja a documentação de um show. Neste ponto, os produtores de Never Say Never foram bem mais felizes ao escolher retratar o sucesso da turnê de Justin Bieber ao mesmo tempo em que mostravam o surgimento de um ídolo pop.
No caso de Glee, Kevin Tancharoen optou por construir o paralelo dos dramas dos personagens com alguns fãs do seriado. Entre uma performance e outra no palco, além dos depoimentos dos atores no camarim e dos fãs na porta dos estádios de cada show, acompanhamos a história de alguns personagens com problemas a serem enfrentados como a garota anã que se tornou Team Leader, o rapaz que se assumiu gay, uma garota gorda que re-encontrou sua auto-estima, entre outros. A máxima é: Glee mudou minha vida, porque somos todos Losers igual a eles, mas podemos ser felizes. É o velho processo de aceitação, que todo adolescente passa. E como é difícil passar por isso...
O problema é que nessa fórmula de personagens anônimos, atores e palco, a linha condutória fica frouxa. Os depoimentos se tornam forçados e muitas vezes levados para um lado que é são exatamente positivo. Será que devemos nos sentir melhores com nós mesmos porque existem pessoas em piores situações? Ou estamos realmente nos aceitando quando, em vez de nos identificar com o espelho, projetamos em outro estereótipo o nosso ideal? Vemos, em muitos desses depoimentos, as distorções como a gordinha que é fã da loura burra, por exemplo. Nada contra Brittany Pierce e seu estereótipo. Mas, por que ela não se identifica com a personagem gordinha do seriado, por exemplo, já que Glee é aceitação? Fora que dizer que é tão fã da personagem que colocou o nome da cachorra dela de Brittany chega a soar como piada.
Se era para celebrar os personagens com os fãs, era melhor ter ficado apenas com o show e os bastidores dele. Porque no palco, os meninos demonstram que têm realmente talento. São números bem coreografados, com cenários caprichados e alguns efeitos especiais. A cada solo, a plateia se manifesta vibrando com seus preferidos. Interessante notar que Rachel, a personagem de Lea Michele, seguindo a linha de primeira protagonista com o maior número de solos, acaba sendo a menos lembrada na hora do fã citar seu preferido. É inegável que sua voz impressiona, mas talvez por estar interpretando a chatinha personagem, Lea Michele tenha exagerado nas "caras e bocas" na hora de cantar, incomodando em alguns momentos.
Por outro lado, Heather Morris (a Brittany) realmente tem presença de palco, e seus números são vibrantes, seja o solo que segundos antes no camarim ela pede para plateia prestar atenção no efeito que seus seios tiveram com o 3D, ou ajudando Naya Rivera na homenagem a Amy Winehouse. Os rapazes também demonstram talento, seja cantando ou dançando. Kevin McHale impressiona pela capacidade de se manter em uma cadeira de rodas com parte dos membros paralisados, já que interpreta o cadeirante Artie Abrams. A desenvoltura com que "dança" no palco sentado na cadeira, é outro ponto que chama a atenção.
Glee Live 3D tem ainda uma participação especial, não tão surpresa, já que a atriz participou de toda a segunda temporada da série. O 3D no show é bem realizado, dando a exata noção de profundidade e ainda fazendo algumas gracinhas no final. Mas, no geral, como filme, é morno. Os “Gleeks”, sem dúvidas, vão ficar felizes de ver os ídolos no telão. E para a plateia comum, talvez desperte alguma curiosidade em torno daquele seriado e de como funciona. Mas, nada que impressione de verdade. Talvez, se tivesse feito um filme realmente, no estilo de Fama, Mudança de Hábito 2, Escola de Rock e tantos outros musicais formados por grupos de adolescentes, fosse melhor sucedido. Porque talento, os meninos demonstram que têm de sobra.
Glee Live 3D (Glee: The 3D Concert Movie: 2011 / EUA)
Direção: Kevin Tancharoen
Com: Dianna Agron, Lea Michele, Jane Lynch, Darren Criss, Chris Colfer, Heather Morris, Cory Monteith, Naya Rivera, Kevin McHale, Mark Salling, Chord Overstreet, Harry Shum Jr., Ashley Fink, Amber Riley, Jenna Ushkowitz.
Duração: 84 min.
Antes que os “Gleeks” joguem pedra, explico, e não vou nem tocar no assunto bilheteria, que nos Estados Unidos foi bem aquém do esperado. A começar, acredito que a grande graça de Glee não seja ser um show, e sim, um musical. Uma turnê com os atores é válida para aproximar ídolos da platéia, fazendo-os se sentir parte do todo. Mas, colocar isso no cinema, não empolga tanto, principalmente pela construção da narrativa. Porque, sim, documentário também tem narrativa, escolhas, roteiro, ainda que seja a documentação de um show. Neste ponto, os produtores de Never Say Never foram bem mais felizes ao escolher retratar o sucesso da turnê de Justin Bieber ao mesmo tempo em que mostravam o surgimento de um ídolo pop.
No caso de Glee, Kevin Tancharoen optou por construir o paralelo dos dramas dos personagens com alguns fãs do seriado. Entre uma performance e outra no palco, além dos depoimentos dos atores no camarim e dos fãs na porta dos estádios de cada show, acompanhamos a história de alguns personagens com problemas a serem enfrentados como a garota anã que se tornou Team Leader, o rapaz que se assumiu gay, uma garota gorda que re-encontrou sua auto-estima, entre outros. A máxima é: Glee mudou minha vida, porque somos todos Losers igual a eles, mas podemos ser felizes. É o velho processo de aceitação, que todo adolescente passa. E como é difícil passar por isso...
O problema é que nessa fórmula de personagens anônimos, atores e palco, a linha condutória fica frouxa. Os depoimentos se tornam forçados e muitas vezes levados para um lado que é são exatamente positivo. Será que devemos nos sentir melhores com nós mesmos porque existem pessoas em piores situações? Ou estamos realmente nos aceitando quando, em vez de nos identificar com o espelho, projetamos em outro estereótipo o nosso ideal? Vemos, em muitos desses depoimentos, as distorções como a gordinha que é fã da loura burra, por exemplo. Nada contra Brittany Pierce e seu estereótipo. Mas, por que ela não se identifica com a personagem gordinha do seriado, por exemplo, já que Glee é aceitação? Fora que dizer que é tão fã da personagem que colocou o nome da cachorra dela de Brittany chega a soar como piada.
Se era para celebrar os personagens com os fãs, era melhor ter ficado apenas com o show e os bastidores dele. Porque no palco, os meninos demonstram que têm realmente talento. São números bem coreografados, com cenários caprichados e alguns efeitos especiais. A cada solo, a plateia se manifesta vibrando com seus preferidos. Interessante notar que Rachel, a personagem de Lea Michele, seguindo a linha de primeira protagonista com o maior número de solos, acaba sendo a menos lembrada na hora do fã citar seu preferido. É inegável que sua voz impressiona, mas talvez por estar interpretando a chatinha personagem, Lea Michele tenha exagerado nas "caras e bocas" na hora de cantar, incomodando em alguns momentos.
Por outro lado, Heather Morris (a Brittany) realmente tem presença de palco, e seus números são vibrantes, seja o solo que segundos antes no camarim ela pede para plateia prestar atenção no efeito que seus seios tiveram com o 3D, ou ajudando Naya Rivera na homenagem a Amy Winehouse. Os rapazes também demonstram talento, seja cantando ou dançando. Kevin McHale impressiona pela capacidade de se manter em uma cadeira de rodas com parte dos membros paralisados, já que interpreta o cadeirante Artie Abrams. A desenvoltura com que "dança" no palco sentado na cadeira, é outro ponto que chama a atenção.
Glee Live 3D tem ainda uma participação especial, não tão surpresa, já que a atriz participou de toda a segunda temporada da série. O 3D no show é bem realizado, dando a exata noção de profundidade e ainda fazendo algumas gracinhas no final. Mas, no geral, como filme, é morno. Os “Gleeks”, sem dúvidas, vão ficar felizes de ver os ídolos no telão. E para a plateia comum, talvez desperte alguma curiosidade em torno daquele seriado e de como funciona. Mas, nada que impressione de verdade. Talvez, se tivesse feito um filme realmente, no estilo de Fama, Mudança de Hábito 2, Escola de Rock e tantos outros musicais formados por grupos de adolescentes, fosse melhor sucedido. Porque talento, os meninos demonstram que têm de sobra.
Glee Live 3D (Glee: The 3D Concert Movie: 2011 / EUA)
Direção: Kevin Tancharoen
Com: Dianna Agron, Lea Michele, Jane Lynch, Darren Criss, Chris Colfer, Heather Morris, Cory Monteith, Naya Rivera, Kevin McHale, Mark Salling, Chord Overstreet, Harry Shum Jr., Ashley Fink, Amber Riley, Jenna Ushkowitz.
Duração: 84 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Glee Live 3D
2011-09-14T17:36:00-03:00
Amanda Aouad
critica|documentario|musical|
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