O Cangaceiro Trapalhão
Seguindo a idéia de pegar carona no sucesso da literatura, cinema e televisão brasileira para compor paródias, o grupo Os Trapalhões chegou em 1983 ao mundo do cangaço. A fórmula foi tão pensada que aproveitaram até mesmo Nelson Xavier e Tânia Alves para repetir o casal Lampião e Maria Bonita que haviam interpretado no ano anterior na minissérie da Rede Globo. Não por acaso também, os mesmo roteiristas da minissérie escreveram o roteiro do filme O Cangaceiro Trapalhão. Doc Comparato e Aguinaldo Silva entraram no clima para criar uma história divertida que consegue misturar bem o cangaço com as trapalhadas do grupo, o ponto estranho foi apenas a inclusão de um certo tom sobrenatural em alguns momentos.
Dirigido por Daniel Filho, O Cangaceiro Trapalhão conta a história de Severino, interpretado por Renato Aragão, o Didi, um criador de cabras que se vê envolvido com o bando de Lampião ao salvar o capitão de uma emboscada. A missão ao invadir a cidade era de roubar uma encomenda que estava chegando de trem para um coronel da região. Mas, o tenente Bezerra já os aguardava. Após muita troca de tiros, confusão e uma boa dose de ação, Severino se vê no meio do acampamento cangaceiro ao lado de Zacarias e Mussum que aproveitaram a confusão para fugir da cadeia, e Gavião (Dedé) que já fazia parte do bando. Com os quatro misturados aos cangaceiros, tem início uma aventura fantasiosa para despistar os macacos (como era chamada a polícia pelos cangaceiros) e descobrir o que tem na tal caixa que parece vinda de outro planeta.
O roteiro é bem desenvolvido apesar de forçar a barra em alguns momentos. Por exemplo, na premissa do plano que o bando desenvolve para despistar o tenente Bezerra. Afinal, quem iria confundir Nelson Xavier com Didi só por causa de um óculos e um chapéu? E como Lampião iria entrar em uma cidade acompanhando apenas de Déde, Mussum e Zacarias? Isso sem falar que o capitão jamais mandaria sua filha escoltada apenas por Dedé para a casa de um tio. De qualquer forma, é possível comprar a idéia e entrar na brincadeira. O filme tem um bom ritmo, muitas cenas divertidas e uma forma interessante de reunir todos em uma trama comum. Destaque para a cena do brinde na cidade que visitam e para a cena do resgate da menina, ali o grupo consegue unir todo o talento cômico com ação e criatividade. E ainda ganham o plus de Regina Duarte que segura bem as cenas de apresentação de Aninha.
Mas, há também os momentos estranhos ou exagerados, como a cena em que Didi / Severino vê Aninha na cidade. A paquera entre os dois personagens é caricata ao extremo tornando-se falsa. Destoa do tom realista do filme até então. E nesse mesmo compasso, é de se estranhar ainda mais a inserção da personagem de Bruna Lombardi, uma espécie de bruxa que vagueia com sua casa, bem no estilo de O Castelo Animado. Toda a sequência de Aninha, Severino e Expedita, a filha do capitão, na casa da bruxa é muito bem realizada. Os efeitos especiais, a coreografia na parede, o clima, o figurino, o mundo encantado dentro do poço. Porém, não encontra eco com o restante do filme, sendo um parêntese surreal em um filme que até então, parecia uma paródia política da situação do sertão na guerra entre cangaço e coronelismo. Mas, acaba encontrando alento na resolução da história que é desencadeada pela tal caixa estranha desde o princípio.
O elenco é um destaque a parte. Além do quarteto que sempre nos presenteia com ótimas piadas e um bom entrosamento em tela, O Cangaceiro Trapalhão conta com presenças ilustres da televisão e cinema da época, a começar por Nelson Xavier e José Dumont, dois grande atores em papéis marcantes de cangaceiro e tenente. Tem ainda participações especiais como Tânia Alves e Cininha de Paula. Além claro, da presença de Regina Duarte e Bruna Lombardi, que claro, disputam a atenção e amor de Didi, o sempre "galã" do grupo, ainda que não tenha grandes atrativos físicos. Zacarias e Mussum estão ali para fazer graça, como sempre suas cenas são as mais engraçadas em estereótipos marcantes do bebum e do covarde. Dedé é o tipo escada, sempre pronto para ser esculhambado por Didi, o esperto. É uma fórmula que funcionou em todos os anos de união do grupo.
A parte final do filme, por sinal, possui várias reviravoltas, inclusive uma hilária homenagem ao filme Casablanca que nos faz lembrar que Os Trapalhões sempre falaram de assuntos sérios com muito humor. O Cangaceiro Trapalhão pode não ser um dos melhores filmes do grupo, mas é bem realizado, com ótimas participações especiais, em uma história criativa. Acredito que tecnicamente até hoje Os Trapalhões e o Auto da Compadecida é o melhor de todos.
O Cangaceiro Trapalhão (O Cangaceiro Trapalhão: 1983 / Brasil)
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Doc Comparato e Aguinaldo Silva
Atores: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Regina Duarte, Bruna Lombardi, Nelson Xavier, José Dumont, Tânia Alves, Cininha de Paula, Daniele Cristine, Tarcísio Meira.
Duração: 90 min
Dirigido por Daniel Filho, O Cangaceiro Trapalhão conta a história de Severino, interpretado por Renato Aragão, o Didi, um criador de cabras que se vê envolvido com o bando de Lampião ao salvar o capitão de uma emboscada. A missão ao invadir a cidade era de roubar uma encomenda que estava chegando de trem para um coronel da região. Mas, o tenente Bezerra já os aguardava. Após muita troca de tiros, confusão e uma boa dose de ação, Severino se vê no meio do acampamento cangaceiro ao lado de Zacarias e Mussum que aproveitaram a confusão para fugir da cadeia, e Gavião (Dedé) que já fazia parte do bando. Com os quatro misturados aos cangaceiros, tem início uma aventura fantasiosa para despistar os macacos (como era chamada a polícia pelos cangaceiros) e descobrir o que tem na tal caixa que parece vinda de outro planeta.
O roteiro é bem desenvolvido apesar de forçar a barra em alguns momentos. Por exemplo, na premissa do plano que o bando desenvolve para despistar o tenente Bezerra. Afinal, quem iria confundir Nelson Xavier com Didi só por causa de um óculos e um chapéu? E como Lampião iria entrar em uma cidade acompanhando apenas de Déde, Mussum e Zacarias? Isso sem falar que o capitão jamais mandaria sua filha escoltada apenas por Dedé para a casa de um tio. De qualquer forma, é possível comprar a idéia e entrar na brincadeira. O filme tem um bom ritmo, muitas cenas divertidas e uma forma interessante de reunir todos em uma trama comum. Destaque para a cena do brinde na cidade que visitam e para a cena do resgate da menina, ali o grupo consegue unir todo o talento cômico com ação e criatividade. E ainda ganham o plus de Regina Duarte que segura bem as cenas de apresentação de Aninha.
Mas, há também os momentos estranhos ou exagerados, como a cena em que Didi / Severino vê Aninha na cidade. A paquera entre os dois personagens é caricata ao extremo tornando-se falsa. Destoa do tom realista do filme até então. E nesse mesmo compasso, é de se estranhar ainda mais a inserção da personagem de Bruna Lombardi, uma espécie de bruxa que vagueia com sua casa, bem no estilo de O Castelo Animado. Toda a sequência de Aninha, Severino e Expedita, a filha do capitão, na casa da bruxa é muito bem realizada. Os efeitos especiais, a coreografia na parede, o clima, o figurino, o mundo encantado dentro do poço. Porém, não encontra eco com o restante do filme, sendo um parêntese surreal em um filme que até então, parecia uma paródia política da situação do sertão na guerra entre cangaço e coronelismo. Mas, acaba encontrando alento na resolução da história que é desencadeada pela tal caixa estranha desde o princípio.
O elenco é um destaque a parte. Além do quarteto que sempre nos presenteia com ótimas piadas e um bom entrosamento em tela, O Cangaceiro Trapalhão conta com presenças ilustres da televisão e cinema da época, a começar por Nelson Xavier e José Dumont, dois grande atores em papéis marcantes de cangaceiro e tenente. Tem ainda participações especiais como Tânia Alves e Cininha de Paula. Além claro, da presença de Regina Duarte e Bruna Lombardi, que claro, disputam a atenção e amor de Didi, o sempre "galã" do grupo, ainda que não tenha grandes atrativos físicos. Zacarias e Mussum estão ali para fazer graça, como sempre suas cenas são as mais engraçadas em estereótipos marcantes do bebum e do covarde. Dedé é o tipo escada, sempre pronto para ser esculhambado por Didi, o esperto. É uma fórmula que funcionou em todos os anos de união do grupo.
A parte final do filme, por sinal, possui várias reviravoltas, inclusive uma hilária homenagem ao filme Casablanca que nos faz lembrar que Os Trapalhões sempre falaram de assuntos sérios com muito humor. O Cangaceiro Trapalhão pode não ser um dos melhores filmes do grupo, mas é bem realizado, com ótimas participações especiais, em uma história criativa. Acredito que tecnicamente até hoje Os Trapalhões e o Auto da Compadecida é o melhor de todos.
O Cangaceiro Trapalhão (O Cangaceiro Trapalhão: 1983 / Brasil)
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Doc Comparato e Aguinaldo Silva
Atores: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Regina Duarte, Bruna Lombardi, Nelson Xavier, José Dumont, Tânia Alves, Cininha de Paula, Daniele Cristine, Tarcísio Meira.
Duração: 90 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Cangaceiro Trapalhão
2011-09-26T08:20:00-03:00
Amanda Aouad
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