11.11.11
Falaram tão mal de 11.11.11 que quando o filme começou até acreditei que era exagero. Mas, ao terminar a sessão, é inevitável a impressão de perda de tempo. Não exatamente pelos erros da obra, mas pela sensação de que Darren Lynn Bousman construiu uma história tosca com ar pseudo genial, que estaria nos dando uma reviravolta surpreendente no final. Acho que só ele acreditou que aquilo era surpreendente.
O filme existe, na verdade, para aproveitar a onda de misticismo e teorias holísticas da aproximação da data 11.11.11. Nada melhor do que juntar crença religiosa com medo de Apocalipse e chegada do anticristo em um belo filme de terror. Ok, mas era preciso uma história para justificar a obra e a sua promissora bilheteria. Assim surge Joseph Crone, um escritor famoso que perdeu sua fé após a morte de sua mulher e filho, com um pai à beira da morte e um irmão pastor de uma nova igreja. Ah, claro, é importante ressaltar que nosso herói precisa visitar o pai moribundo e defender o irmão iluminado de forças ocultas que querem impedir a boa nova. Em sua jornada, fenômenos sobrenaturais e criaturas diversas irão alertá-lo e tentar impedí-lo de sua missão.
Diante do caldeirão de idéias requentadas sustentadas por uma teoria frágil de uma data coincidente, lembrando que 2011 não é o ano onze, não dá mesmo para ter grandes expectativas. Mas, Darren Lynn Bousman consegue construir o que pior pode de acontecer a um propenso filme de terror: é chato e não dá medo em ninguém em sã consciência. Após o início promissor com uma bela sequência de um apartamento incendiando com uma criança, uma mulher e uma estátua sinistra, o filme cai em um marasmo narrativo incrível. Toda a parte de Barcelona é lenta, repetitiva, sem força. E com pistas óbvias sobre a verdade da trama, nem dá para dizer que não se pensou nisso desde o princípio. E tolamente Bousman utiliza um clipe de flashbacks em seu final como se tivesse revelando o segredo da pólvora.
Dentro da construção da curva dramática de 11.11.11, temos que engolir ainda os sustos programados em horas e minutos. Porque, claro, os antigos "espíritos do mal" só invadem a casa às onze horas e onze minutos. E logicamente, não é as onze horas e onze minutos da manhã, que não tem graça nem susto à luz do sol. Tem que ser as onze horas e onze minutos da noite, ignorando completamente que aí seria as 23 horas do dia. Sim, o horário da manhã não é ignorado, acontecem coisas estranhas, mas o ponto forte é mesmo o da noite. Há até algumas cenas bem feitas, nesse ponto, os efeitos são bem construídos, as sombras bem utilizadas e os seres dão um susto ou outro. Na parte final, no entanto, se tornam monstros de um filme trash da pior qualidade.
E esse homem sem fé, vai se envolvendo nesse emaranhado de coincidências demoníacas e se assume como o verdadeiro profeta do Apocalipse. É até crível a jornada do personagem de Timothy Gibbs, o verdadeiro Max Payne*, mas em alguns momentos é impossível compreender suas atitudes. Por exemplo, como um homem preocupado com a segurança do irmão, no dia 11.11.11 em vez de estar ao lado dele, vai passear por Barcelona com uma mulher? E o pior, essa mulher é uma completa estranha que cruzou a sua vida de uma forma bastante suspeita, quase obsessiva, vindo dos Estados Unidos para vê-lo, porque estava preocupada. Haja desprendimento.
Se a narrativa é frágil, com um roteiro mal articulado, Darren Lynn Bousman ainda utiliza muletas imagéticas incríveis que chegam a irritar o espectador. Como os remédios utilizados por Timothy Gibbs para demonstrar o estado emocional frágil de Joseph Crone. Ou, pior ainda, um labirinto no tal passeio vespertino por Barcelona, reforçando a busca inútil, confusão mental, problemas de jornada do protagonista. Isso sem falar de todos os recursos possíveis para construir tensão e susto, como espelhos refletidos, objeto se aproximando pelo canto e seres vindo das sombras.
11.11.11 é daqueles filmes oportunidades que logo serão esquecidos. Não tem mesmo muito o que se aproveitar ali. Foi construído com o intuito de aproveitar a data, claro que ele tinha que estrear nesse dia, e colher boas bilheterias. A própria escolha de Darren Lynn Bousman, diretor da série Jogos Mortais, foi pensando no público de terror. Mas, parece mesmo que ações oportunistas não são as melhores escolhas em se tratando de filmes. Ainda mais com datas cabalísticas.
*Apenas como curiosidade, Timothy Gibbs foi o ator utilizado como modelo para criação do Max Payne, em Max Payne 2, jogo eletrônico de mesmo nome. No cinema, o personagem foi interpretado por Mark Wahlberg.
11.11.11 (11-11-11: 2011 / Espanha, EUA)
Direção: Darren Lynn Bousman
Roteiro: Darren Lynn Bousman
Com: Timothy Gibbs, Michael Landes, Denis Rafter, Wendy Glenn.
Duração: 100 min.
O filme existe, na verdade, para aproveitar a onda de misticismo e teorias holísticas da aproximação da data 11.11.11. Nada melhor do que juntar crença religiosa com medo de Apocalipse e chegada do anticristo em um belo filme de terror. Ok, mas era preciso uma história para justificar a obra e a sua promissora bilheteria. Assim surge Joseph Crone, um escritor famoso que perdeu sua fé após a morte de sua mulher e filho, com um pai à beira da morte e um irmão pastor de uma nova igreja. Ah, claro, é importante ressaltar que nosso herói precisa visitar o pai moribundo e defender o irmão iluminado de forças ocultas que querem impedir a boa nova. Em sua jornada, fenômenos sobrenaturais e criaturas diversas irão alertá-lo e tentar impedí-lo de sua missão.
Diante do caldeirão de idéias requentadas sustentadas por uma teoria frágil de uma data coincidente, lembrando que 2011 não é o ano onze, não dá mesmo para ter grandes expectativas. Mas, Darren Lynn Bousman consegue construir o que pior pode de acontecer a um propenso filme de terror: é chato e não dá medo em ninguém em sã consciência. Após o início promissor com uma bela sequência de um apartamento incendiando com uma criança, uma mulher e uma estátua sinistra, o filme cai em um marasmo narrativo incrível. Toda a parte de Barcelona é lenta, repetitiva, sem força. E com pistas óbvias sobre a verdade da trama, nem dá para dizer que não se pensou nisso desde o princípio. E tolamente Bousman utiliza um clipe de flashbacks em seu final como se tivesse revelando o segredo da pólvora.
Dentro da construção da curva dramática de 11.11.11, temos que engolir ainda os sustos programados em horas e minutos. Porque, claro, os antigos "espíritos do mal" só invadem a casa às onze horas e onze minutos. E logicamente, não é as onze horas e onze minutos da manhã, que não tem graça nem susto à luz do sol. Tem que ser as onze horas e onze minutos da noite, ignorando completamente que aí seria as 23 horas do dia. Sim, o horário da manhã não é ignorado, acontecem coisas estranhas, mas o ponto forte é mesmo o da noite. Há até algumas cenas bem feitas, nesse ponto, os efeitos são bem construídos, as sombras bem utilizadas e os seres dão um susto ou outro. Na parte final, no entanto, se tornam monstros de um filme trash da pior qualidade.
E esse homem sem fé, vai se envolvendo nesse emaranhado de coincidências demoníacas e se assume como o verdadeiro profeta do Apocalipse. É até crível a jornada do personagem de Timothy Gibbs, o verdadeiro Max Payne*, mas em alguns momentos é impossível compreender suas atitudes. Por exemplo, como um homem preocupado com a segurança do irmão, no dia 11.11.11 em vez de estar ao lado dele, vai passear por Barcelona com uma mulher? E o pior, essa mulher é uma completa estranha que cruzou a sua vida de uma forma bastante suspeita, quase obsessiva, vindo dos Estados Unidos para vê-lo, porque estava preocupada. Haja desprendimento.
Se a narrativa é frágil, com um roteiro mal articulado, Darren Lynn Bousman ainda utiliza muletas imagéticas incríveis que chegam a irritar o espectador. Como os remédios utilizados por Timothy Gibbs para demonstrar o estado emocional frágil de Joseph Crone. Ou, pior ainda, um labirinto no tal passeio vespertino por Barcelona, reforçando a busca inútil, confusão mental, problemas de jornada do protagonista. Isso sem falar de todos os recursos possíveis para construir tensão e susto, como espelhos refletidos, objeto se aproximando pelo canto e seres vindo das sombras.
11.11.11 é daqueles filmes oportunidades que logo serão esquecidos. Não tem mesmo muito o que se aproveitar ali. Foi construído com o intuito de aproveitar a data, claro que ele tinha que estrear nesse dia, e colher boas bilheterias. A própria escolha de Darren Lynn Bousman, diretor da série Jogos Mortais, foi pensando no público de terror. Mas, parece mesmo que ações oportunistas não são as melhores escolhas em se tratando de filmes. Ainda mais com datas cabalísticas.
*Apenas como curiosidade, Timothy Gibbs foi o ator utilizado como modelo para criação do Max Payne, em Max Payne 2, jogo eletrônico de mesmo nome. No cinema, o personagem foi interpretado por Mark Wahlberg.
11.11.11 (11-11-11: 2011 / Espanha, EUA)
Direção: Darren Lynn Bousman
Roteiro: Darren Lynn Bousman
Com: Timothy Gibbs, Michael Landes, Denis Rafter, Wendy Glenn.
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
11.11.11
2011-11-20T10:37:00-02:00
Amanda Aouad
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