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Lázaro Ramos
Maria Luísa Mendonça
Amanhã Nunca Mais
Amanhã Nunca Mais
Com um nome instigante e uma trama que lembra o início de Dia de Fúria, Tadeu Jungle estreia no cinema após uma carreira consolidada na rádio e televisão. Amanhã Nunca Mais é uma mistura de drama com comédia em uma noite em que tudo deu errado para o personagem vivido por Lázaro Ramos. A forma como o roteiro vai escalando as complicações na trama é interessante, mas chega a um ponto em que irrita o espectador que espera muito tempo pela virada do protagonista.
Walter é um médico anestesista que não sabe dizer não. Sua vida é sempre levada pelas decisões daqueles que o cercam, desde uma coxinha que tem que comer na praia, passando pelos plantões ininterruptos e até abaixo-assinados no hospital. É popularmente chamado de mané. O porteiro não o chama de doutor, cumprimentando como "Seo" Walter, o cirurgião o faz de manobrista e o colega de profissão abusa de sua boa vontade. Isso sem falar de sua esposa que conversa de forma sedutora com um estranho. Tudo se complica no dia do aniversário de sua filha, ainda preso no hospital ele tem que atravessar parte de São Paulo para pegar o bolo da festa. O que seria uma tarefa simples se torna uma aventura que se complica a cada instante.
O início do filme promete bons momentos. Primeiro, experimentamos um contraste entre um passeio de moto por São Paulo à noite e um engarrafamento típico da metrópole preso no carro do protagonista. Todos os detalhes são explorados nessa situação, como os motoboys passando pelos carros, os mendigos pedindo dinheiro, a irritação de Lázaro Ramos preso ali, até um símbolo singelo de parte do significado de tudo aquilo, um balão de aniversário voando pelo túnel. Somos então transportados para um dia de domingo na Praia Grande. A típica praia de farofeiros é retratada com muito humor e tom satírico. Pessoas obesas em detalhes, o tempo meio nublado, a multidão empilhada, a coxinha gordurosa sendo oferecida, suco com anilina em garrafinhas sendo vendido, criança querendo ir no banheiro, lixo pela areia e o pobre do Walter no meio disso tudo, tentando descansar. É interessante citar ainda a metáfora com o hospital e o ato da anestesia, sua função.
A estética do filme é bem realista, mas o primor dessa sequência inicial se perde à medida em que o roteiro avança. Ainda assim, Tadeu Jungle constrói um bom recorte da vida de Walter com planos detalhes e cortes rápidos. O hospital é bem representado, com uma boa rixa entre os médicos e a constante sensação de urgência. Observando todos os detalhes construídos é fácil concordar com a personagem que define a vida de Walter: "Deve trabalhar em um hospital de merda e sua mulher é uma infeliz." Seu carro não é dos melhores, seu descanso é em um lugar angustiante, sua casa é simples, e seu trabalho é estressante. Além disso, ele não é respeitado por ninguém a sua volta.
Mas, é no roteiro que reside a chave do filme e a saga de Walter que começa com a promessa de levar um bolo de aniversário para festa de sua filha. A trama já não começa fácil, quando ele tem que abandonar uma cirurgia no meio e enfrentar um trânsito caótico. A partir daí, a Lei de Murphy impera e tudo que poderia dar errado, dá, irritando o personagem e o espectador que vai escalando junto com Walter aquela noite de horror. A nossa paciência, no entanto, esgota antes da dele. Quando o elemento que será a gota d´água em sua aventura aparece em tela, é difícil aceitar que Walter aceite por tanto tempo a situação. Isso acaba prejudicando um pouco o filme, pois a irritação nos tira da história dizendo "ah, isso também já é demais, não existe".
Mas, apesar de alguns exageros, Amanhã Nunca Mais se sustenta nos atores. Lázaro Ramos volta a protagonizar um filme depois de um bom tempo afastado com bastante segurança. Ele consegue nos passar essa apatia de Walter, que precisa passar por muita coisa para provar que não tem "sangue de barata". Destaque ainda para a boa participação de Milhem Cortaz como o colega de hospital e Maria Luísa Mendonça como uma vizinha do passado, a atriz ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival do Rio pelo papel. Tem ainda uma participação de Luis Miranda quase irreconhecível como um motoboy atropelado e a estranha repetição de Paula Braun em dois papéis completamente diferentes. Fica meio inverossímil Walter não perceber que a travesti que dá carona é "a cara" da enfermeira Renata, sempre tão solícita com ele.
Amanhã Nunca Mais é um filme diferente. Possui uma história interessante que escala até irritar o espectador, tem um tom de humor leve e um drama que envolve. Não há grandes apelações e a direção é cuidadosa, principalmente no início. Tem problemas, principalmente por não saber onde parar, ou melhor onde dar o basta e nos fazer aproveitar a catarse do protagonista. Mas, não deixa de ser um filme curioso. No final, o saldo é positivo para todos.
Amanhã Nunca Mais (Amanhã Nunca Mais: 2011 / Brasil)
Direção: Tadeu Jungle
Roteiro: Marcelo Muller, Maurício Arruda e Tadeu Jungle
Com: Lázaro Ramos, Maria Luísa Mendonça, Paula Braun, Fernanda Machado, Milhem Cortaz.
Duração: 78 min.
Walter é um médico anestesista que não sabe dizer não. Sua vida é sempre levada pelas decisões daqueles que o cercam, desde uma coxinha que tem que comer na praia, passando pelos plantões ininterruptos e até abaixo-assinados no hospital. É popularmente chamado de mané. O porteiro não o chama de doutor, cumprimentando como "Seo" Walter, o cirurgião o faz de manobrista e o colega de profissão abusa de sua boa vontade. Isso sem falar de sua esposa que conversa de forma sedutora com um estranho. Tudo se complica no dia do aniversário de sua filha, ainda preso no hospital ele tem que atravessar parte de São Paulo para pegar o bolo da festa. O que seria uma tarefa simples se torna uma aventura que se complica a cada instante.
O início do filme promete bons momentos. Primeiro, experimentamos um contraste entre um passeio de moto por São Paulo à noite e um engarrafamento típico da metrópole preso no carro do protagonista. Todos os detalhes são explorados nessa situação, como os motoboys passando pelos carros, os mendigos pedindo dinheiro, a irritação de Lázaro Ramos preso ali, até um símbolo singelo de parte do significado de tudo aquilo, um balão de aniversário voando pelo túnel. Somos então transportados para um dia de domingo na Praia Grande. A típica praia de farofeiros é retratada com muito humor e tom satírico. Pessoas obesas em detalhes, o tempo meio nublado, a multidão empilhada, a coxinha gordurosa sendo oferecida, suco com anilina em garrafinhas sendo vendido, criança querendo ir no banheiro, lixo pela areia e o pobre do Walter no meio disso tudo, tentando descansar. É interessante citar ainda a metáfora com o hospital e o ato da anestesia, sua função.
A estética do filme é bem realista, mas o primor dessa sequência inicial se perde à medida em que o roteiro avança. Ainda assim, Tadeu Jungle constrói um bom recorte da vida de Walter com planos detalhes e cortes rápidos. O hospital é bem representado, com uma boa rixa entre os médicos e a constante sensação de urgência. Observando todos os detalhes construídos é fácil concordar com a personagem que define a vida de Walter: "Deve trabalhar em um hospital de merda e sua mulher é uma infeliz." Seu carro não é dos melhores, seu descanso é em um lugar angustiante, sua casa é simples, e seu trabalho é estressante. Além disso, ele não é respeitado por ninguém a sua volta.
Mas, é no roteiro que reside a chave do filme e a saga de Walter que começa com a promessa de levar um bolo de aniversário para festa de sua filha. A trama já não começa fácil, quando ele tem que abandonar uma cirurgia no meio e enfrentar um trânsito caótico. A partir daí, a Lei de Murphy impera e tudo que poderia dar errado, dá, irritando o personagem e o espectador que vai escalando junto com Walter aquela noite de horror. A nossa paciência, no entanto, esgota antes da dele. Quando o elemento que será a gota d´água em sua aventura aparece em tela, é difícil aceitar que Walter aceite por tanto tempo a situação. Isso acaba prejudicando um pouco o filme, pois a irritação nos tira da história dizendo "ah, isso também já é demais, não existe".
Mas, apesar de alguns exageros, Amanhã Nunca Mais se sustenta nos atores. Lázaro Ramos volta a protagonizar um filme depois de um bom tempo afastado com bastante segurança. Ele consegue nos passar essa apatia de Walter, que precisa passar por muita coisa para provar que não tem "sangue de barata". Destaque ainda para a boa participação de Milhem Cortaz como o colega de hospital e Maria Luísa Mendonça como uma vizinha do passado, a atriz ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival do Rio pelo papel. Tem ainda uma participação de Luis Miranda quase irreconhecível como um motoboy atropelado e a estranha repetição de Paula Braun em dois papéis completamente diferentes. Fica meio inverossímil Walter não perceber que a travesti que dá carona é "a cara" da enfermeira Renata, sempre tão solícita com ele.
Amanhã Nunca Mais é um filme diferente. Possui uma história interessante que escala até irritar o espectador, tem um tom de humor leve e um drama que envolve. Não há grandes apelações e a direção é cuidadosa, principalmente no início. Tem problemas, principalmente por não saber onde parar, ou melhor onde dar o basta e nos fazer aproveitar a catarse do protagonista. Mas, não deixa de ser um filme curioso. No final, o saldo é positivo para todos.
Amanhã Nunca Mais (Amanhã Nunca Mais: 2011 / Brasil)
Direção: Tadeu Jungle
Roteiro: Marcelo Muller, Maurício Arruda e Tadeu Jungle
Com: Lázaro Ramos, Maria Luísa Mendonça, Paula Braun, Fernanda Machado, Milhem Cortaz.
Duração: 78 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Amanhã Nunca Mais
2011-11-10T09:03:00-02:00
Amanda Aouad
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