Hasta La Vista
Três jovens belgas deficientes, um cego, um paraplégico e um tetraplégico. Três amigos que sempre foram muito amados pelos pais e por isso, superprotegidos devido às duas deficiências. Mas, eles só queriam experimentar aquilo que a idade pode proporcionar. Uma viagem sozinhos com muitas farras e um objetivo principal secreto: perder a virgindade. Para isso, descobrem um bordel na Espanha, que é especializado nesse tipo de pessoas. O problema é convencer aos pais que eles são capazes de fazer essa viagem.
O argumento de Hasta La Vista é inusitado, mas nem um pouco irreal, afinal, jovens deficientes também têm sonhos e desejos. Da forma como Jozef, Lars e Philip eram tratados por seus pais, seria mesmo muito difícil uma oportunidade de conhecer alguém que os amassem e tivesse um relacionamento normal, principalmente Philip. Claro que nesse caso também entra o preconceito, os medos, as dificuldades normais, que também são tratadas de forma bastante sensível por Geoffrey Enthoven na trama.
Um dos pontos principais da fruição do filme é a construção de seus três, ou melhor, quatro protagonistas. Já que, para a viagem, entra em cena uma terceira figura, a motorista Claude. Os quatro personagens são bastante complexos, retratados em várias camadas e com muita sensibilidade pelos atores que os interpretam. Há muito material em cada um que faz fluir as reações, as posturas infantis em alguns momentos, egoístas em outros, cruéis até, além do amadurecimento e lições que passam.
Os roteiristas em nenhum momento nos fazem sentir pena deles. São deficientes, sim, mas são pessoas dignas de respeito e compreensão como todas as outras. Sentimos raiva deles em muitos momentos, principalmente do tetraplégico Philip, o mais imaturo de todos. E passamos a observá-los pela ótica de Claude, que os vai conquistando aos poucos, passando da agressividade total quando a chamam de Mamute, até se tornar quase uma mãe do trio, cúmplice no principal objetivo da viagem.
Hasta La Vista tem também um tom de humor, bastante inteligente e leve. Não é uma comédia rasgada, de fato, mas também não é um drama pesado. É um filme de descoberta adolescente, só que com três tipos bastante especiais. A jornada passa, então, por todas as fases, de reconhecimento, acordo com os pais, desacordo, rebeldia, fuga, revolta, reencontro e paz. Tudo de uma maneira bastante honesta e envolvente. Mesmo as complicações de viagem, não soam exageradas ou clichês, por já termos sido preparados para o que vem à frente.
É também uma boa lição para pais superprotetores que acham que podem defender seus filhos do mundo. Em determinado momento do filme, lembrei muito da poesia de Gibran Khalil Gibran, "Vossos filhos não são vossos filhos", pois traduz muito bem essa sensação de que os pais acham que podem poupar os filhos do mundo, quando isso é impossível, é preciso deixá-los seguir seus próprios passos, mesmo que possuam deficiências limitadoras.
Hasta La Vista é, então, uma comédia adolescente atípica, mas nem por isso, completamente diferente. Divertida, emocionante e envolvente na medida certa, pode não te fazer rolar de rir, mas em algum momento vai ter deixar com um sorriso no rosto, além de fazer pensar.
Hasta La Vista (Hasta La Vista, 2012 / Holanda)
Direção: Geoffrey Enthoven
Roteiro: Pierre De Clercq, Asta Philpot e Mariano Vanhoof
Com: Robrecht Vanden Thoren, Gilles De Schrijver, Tom Audenaert e Isabelle de Hertogh
Duração: 115 min.
O argumento de Hasta La Vista é inusitado, mas nem um pouco irreal, afinal, jovens deficientes também têm sonhos e desejos. Da forma como Jozef, Lars e Philip eram tratados por seus pais, seria mesmo muito difícil uma oportunidade de conhecer alguém que os amassem e tivesse um relacionamento normal, principalmente Philip. Claro que nesse caso também entra o preconceito, os medos, as dificuldades normais, que também são tratadas de forma bastante sensível por Geoffrey Enthoven na trama.
Um dos pontos principais da fruição do filme é a construção de seus três, ou melhor, quatro protagonistas. Já que, para a viagem, entra em cena uma terceira figura, a motorista Claude. Os quatro personagens são bastante complexos, retratados em várias camadas e com muita sensibilidade pelos atores que os interpretam. Há muito material em cada um que faz fluir as reações, as posturas infantis em alguns momentos, egoístas em outros, cruéis até, além do amadurecimento e lições que passam.
Os roteiristas em nenhum momento nos fazem sentir pena deles. São deficientes, sim, mas são pessoas dignas de respeito e compreensão como todas as outras. Sentimos raiva deles em muitos momentos, principalmente do tetraplégico Philip, o mais imaturo de todos. E passamos a observá-los pela ótica de Claude, que os vai conquistando aos poucos, passando da agressividade total quando a chamam de Mamute, até se tornar quase uma mãe do trio, cúmplice no principal objetivo da viagem.
Hasta La Vista tem também um tom de humor, bastante inteligente e leve. Não é uma comédia rasgada, de fato, mas também não é um drama pesado. É um filme de descoberta adolescente, só que com três tipos bastante especiais. A jornada passa, então, por todas as fases, de reconhecimento, acordo com os pais, desacordo, rebeldia, fuga, revolta, reencontro e paz. Tudo de uma maneira bastante honesta e envolvente. Mesmo as complicações de viagem, não soam exageradas ou clichês, por já termos sido preparados para o que vem à frente.
É também uma boa lição para pais superprotetores que acham que podem defender seus filhos do mundo. Em determinado momento do filme, lembrei muito da poesia de Gibran Khalil Gibran, "Vossos filhos não são vossos filhos", pois traduz muito bem essa sensação de que os pais acham que podem poupar os filhos do mundo, quando isso é impossível, é preciso deixá-los seguir seus próprios passos, mesmo que possuam deficiências limitadoras.
Hasta La Vista é, então, uma comédia adolescente atípica, mas nem por isso, completamente diferente. Divertida, emocionante e envolvente na medida certa, pode não te fazer rolar de rir, mas em algum momento vai ter deixar com um sorriso no rosto, além de fazer pensar.
Hasta La Vista (Hasta La Vista, 2012 / Holanda)
Direção: Geoffrey Enthoven
Roteiro: Pierre De Clercq, Asta Philpot e Mariano Vanhoof
Com: Robrecht Vanden Thoren, Gilles De Schrijver, Tom Audenaert e Isabelle de Hertogh
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Hasta La Vista
2012-05-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|comedia|critica|drama|
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