
3,14. Um número aproximado para representar uma dízima não-periódica famosa apelidada pelo nome Pi. Uma proporção numérica que representa a proporção entre o perímetro de uma circunferência e seu diâmetro. Aparentemente não há um padrão nessa dízima, por isso, ela é não periódica, ou seja, os números não se repetem de uma maneira lógica. E essa questão, ao mesmo tempo simples e complexa serviu como ponto de partida para o primeiro filme longametragem de Darren Aronofsky em 1998.

Seguindo o próprio padrão de filmes psicológicos, Darren Aronofsky nos oferece uma trama angustiante e constrói nosso envolvimento através de metáforas. Quem nunca se viu obcecado por algo? Quem nunca tentou compreender como as coisas funcionam? A curiosidade faz parte do ser humano e é comum também a ele se dar desafios. Logo, a loucura de Max pelo Pi pode nos parecer estranho, mas é possível compreendê-lo em outro nível e assim nos envolver com seu drama.

Em uma ironia, a construção do roteiro de Pi é esse racional que nos chama. Com a narração em over de Max sempre repetindo o dia e hora das ações, tornando tudo o mais cartesiano possível. Isso sem falar na repetição constante do conselho da mãe para não olhar o sol, quando era criança, e que aparentemente foi o estopim para suas reações incomuns aos números. Porque tudo é número, diria ele.

Pi é um filme que nos leva em seu ritmo. Interiorizando e racionalizando o irracional, em busca de respostas que não podem ser dadas, em uma construção incrivelmente envolvente. É muito pensamento que transcende a razão e entra na ausência de padrão na loucura. Ou não. Tal qual o Pi que aparentemente tem toda a lógica, dentro de lógica nenhuma.
Pi (Pi, 1998 / EUA)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Darren Aronofsky
Com: Sean Gullette, Mark Margolis, Ben Shenkman
Duração: 84 min.