
Chico e Rita é uma história de amor, ambientada em um contexto histórico bastante delicado e que se utiliza da música cubana como guia. Ser em animação é um detalhe, porque apesar do bom traço de 2D, não há uma exploração dessa linguagem para outras experimentações artísticas, nem mesmo nas cenas musicais. Tudo segue um padrão tradicional de filmes românticos e de cunho social e cultural. E isso não é uma crítica negativa, é bom deixar claro. Apenas uma observação.
Como sugere o título trata-se da história de Chico e Rita. Ele, um pianista e compositor talentoso. Ela, uma cantora e dançarina da noite. Os dois se conhecem em Havana do final da década de 40, antes da revolução, antes do embargo, quando o sonho de todo músico cubano era poder chegar aos Estados Unidos, berço do jazz e blues. Chico e Rita são personagens fictícios, mas eles contracenam em sua trajetória com grandes nomes da época. Quem gosta da música caribenha e se encantou com grupos como Buena Vista Social Club, não tem como não se empolgar.

O roteiro nos conduz de forma bem delicada, começando em uma época futura, com Chico já velho, trabalhando como engraxate nas ruas de uma Havana há muito comunista. No rádio toca a antiga canção, e ele vai se lembrando de sua trajetória, de suas escolhas, do amor de sua vida. Tudo em um tom melancólico, mas ao mesmo tempo gostoso de recordar. Há detalhes bem pontuados, como ele tocando um piano fictício no parapeito da janela. Ou recortes de jornais em uma caixa de sapatos velha. Símbolos que já foram também deles, como um sapatinho a la Cinderela jogado no primeiro encontro. O primeiro de muitos, ainda que os desencontros pareçam ter sido superiores entre os dois.


Não por acaso, Chico e Rita encantou o mundo, ganhou dois prêmios e uma indicação ao Oscar. É um filme digno, envolvente e até mesmo emocionante. Rico em todas as suas camadas e que nos fazem embarcar naquele mundo de sonhos. Mesmo que sonhos difíceis que se tornam quase pesadelos.
Chico e Rita (Chico e Rita, 2010 / Espanha e Inglaterra)
Direção: Tono Errando, Javier Mariscal e Fernando Trueba
Roteiro: Ignacio Martínez de Pisón, Fernando Trueba
Duração: 94 min.