O subtítulo de Lado B deveria ser como fazer dois longas sem grana no Brasil. Porque, ao criar o seu primeiro longametragem em um esquema de guerrilha, Marcelo Galvão acabou criando também esse documentário sobre o processo de feitura do filme. E que acaba sendo a melhor propaganda do primeiro. Os dois meio que se complementam, por isso, falarei de ambos nesse mesmo post. Marcelo Galvão queria fazer um filme, mas não tinha grana. Então, pensou em um roteiro relativamente simples, com apenas uma locação que acontecesse em tempo corrido e criou Quarta B. Chamou uns amigos e começou o processo de guerrilha, onde todos trabalhavam por amor a arte. E esse é sempre um processo desgastante. Assim, Lado B tenta mostrar esses bastidores, mesclando com entrevistas com diretores famosos como Fernando Meirelles e parte da própria equipe do Quarta B.
O roteiro do documentário é em formato quase de manual, com separação por lições e passos a serem tomados por aqueles que querem seguir a onda. É interessante ver a persistência do diretor, a desistência de boa parte da equipe, o sofrimento dos atores que ficam perdidos em muito momentos e ainda tem que se alimentar de maneira duvidosa. Em determinado momento do filme, é mostrado a indigestão que um dos almoços causa.
Lado B procura discutir a questão da produção cinematográfica no país. E é interessante a forma como os entrevistados demonstram que mesmo em um filme no esquema de Quarta B é preciso desembolsar algum dinheiro e que, mesmo um diretor consciente do que tem ou não, é exigente em excesso em alguns momentos. Como no caso das carteiras que eles tem que buscar em uma cidade vizinha. Ao mesmo tempo, ele tem jogo de cintura para incluir a chuva que iria atrapalhar o som direto, ou um certo acontecimento que não fica muito claro, na parte final. De qualquer maneira, Lado B nos envolve tanto no processo de gravação, montagem e premiação de Quarta B (na 29ª Mostra Internacional de Cinema em SP) que nos sentimos parte daquilo e queremos conhecer o filme. Porém, se não tivéssemos visto o documentário provavelmente nos irritaríamos com o resultado do mesmo.
Não que Quarta B seja um filme muito ruim. Ele tem méritos. Aliás, a primeira parte do filme é muito boa, ainda que a fotografia não seja perfeita e que a câmera nervosa incomode em muitos momentos. Mas, os atores estão bem e o texto é muito bom. Os diálogos são ágeis e a trama nos envolve. Tudo começa quando um servente de uma escola primária encontra um pacote de maconha no fundo da sala. O diretor chama os pais de todos os alunos para discutir o problema e um jogo de acusações e situações bizarras começam a se desenvolver. Parece que é sempre assim quando adultos se encontram para resolver problemas das crianças, vide Deus da Carnificina.
Mas, o problema é que o argumento de Marcelo Galvão não parece ter fôlego para um longametragem. Apesar de personagens bem desenvolvidos e possibilidades de situações diversas. Tudo começa a ficar desgastado e cansativo. Repetitivo até. A começar pela situação surreal de todos experimentarem maconha para discutir com os filhos as sensações da droga. A partir desse momento, as situações começam a se desenrolar de uma maneira menos inteligente, apelativa até. E que cai em um vazio, não tendo nem mesmo um final coerente. Aliás, sem ver o documentário, seria até impossível entender a partir de determinado momento, quando o roteiro começa a ficar totalmente não-linear. Quarta B acaba sendo, então, um filme interessante pela forma como foi construído e não pelo resultado final. Ainda que tenha um argumento criativo, e um tema que merece atenção, a maconha, acaba mesmo no vazio. Por isso, é tão interessante essa junção de Filme B e Quarta B. Como algo investigativo mesmo, didático até, sobre a produção cinematográfica no nosso país, suas dificuldades e possibilidades.
Lado B: Como Fazer um Longa Sem Grana no Brasil (Lado B, 2007 / Brasil)
Direção: Marcelo Galvão
Roteiro: Marcelo Galvão
Duração: 70 min.
Quarta B (Quarta B, 2005 / Brasil)
Direção: Marcelo Galvão
Roteiro: Marcelo Galvão
Com: Christiano Cochrane, Deto Montenegro, Antônio Destro
Duração: 90 min.

