
O filme traz Johnny Depp no papel do apaixonado diretor que quer a todo custo fazer o seu filme. Ele se arrisca em uma obra sobre mudança de sexo, porque gosta de usar roupas femininas. Pega pedaços que sobram de outras produções para enxertar em suas histórias, rouba mecanismos de outros estúdios, mas seu maior feito é cruzar o caminho de Bela Lugosi, que embarca em seus sonhos por também já estar esquecido pela indústria.


Como contraponto para Wood, temos a figura de Bela Lugosi, o Drácula, o artista esquecido. Obsoleto e distante das grandes obras, ele é a muleta do diretor aspirante, que sempre ouve a expressão: "pensei que ele já estivesse morto". Martin Landau dá vida ao ídolo antigo com muita expressividade. É visível o cansaço, o esquecimento, o crepúsculo mesmo daquele homem que antes era tudo. Uma cena significativa disso é quando a imprensa vai até a clinica onde ele está internado. Mesmo sabendo do sensacionalismo, ele se alegra por ela finalmente voltar a se interessar por ele.

De Burton, vemos ainda, a relação de conflito e admiração de pai e filho, não literalmente, mas simbolicamente, nas figuras de Ed Wood e Bela Lugosi. O aspirante a diretor tem um carinho especial, uma admiração pelo velho ator, que começa como um ídolo e uma chance de entrar no jogo da indústria. Mas, que acaba com uma relação emocional forte, quase como um pai mesmo. Assim como Lugosi vê em Wood um filho a ser cuidado, um amigo especial a quem ele recorre também nas madrugadas e por quem tudo faz, até entrar em um pântano no meio da madrugada para se atracar com um polvo de borracha.
Ed Wood é daqueles filmes que merece sempre o nosso destaque e respeito. Mais do que uma obra de Tim Burton, é uma obra que homenageia o cinema. O cinema muitas vezes esquecido, marginalizado, criticado, mas nem por isso, menos apaixonante.
Ed Wood (Ed Wood, 1994 / EUA)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Scott Alexander e Larry Karaszewski
Com: Johnny Depp, Martin Landau, Sarah Jessica Parker, Bill Murray, Patricia Arquette
Duração: 127 min.