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Ginger e Rosa
Ginger e Rosa
Há sempre um perigo na análise de filmes quando há uma expectativa. O maior de todos é de analisar um filme pelo que você acha que ele deveria ser e não pelo que ele é. A divulgação de Ginger e Rosa nos dá uma ideia completamente diferente daquilo que o filme pode oferecer, isso acaba frustrando um pouco. De qualquer maneira, o que ele nos apresenta não deixa de ter os seus encantos.
Ginger e Rosa são duas amigas inseparáveis. Nasceram no mesmo dia, um dia fatídico para a humanidade quando as cidades de Hiroshima e Nagasaki (apesar de o filme só falar na primeira), sofreram com ataques de bombas atômicas em seus solos. Cresceram juntas e sempre partilharam tudo, ainda que uma não tivesse a mesma visão da outra do mundo. É interessante, por exemplo, quando elas negociam ir a uma igreja porque Rosa quer rezar pela paz mundial e depois a uma reunião de manifestantes, porque Ginger quer agir pela paz mundial. O problema é que essa paz está ameaçada com a crise de mísseis em Cuba, e isso deixa Ginger desestabilizada.
Porém, na verdade, toda essa crise mundial acaba sendo apenas uma metáfora da crise da vida da própria Ginger. Filha de uma pintora que largou a arte por uma gravidez precoce com um escritor pacifista comunista que leva tão a sério seus ideias que ela nem pode chamá-lo de pai, e sim de Roland. Ginger é frágil e até deslumbrada, vide a forma como se espelha em sua amiga Rosa, copiando suas atitudes, e como se encanta com o líder do movimento de desarmamento. Chama a atenção a forma como Sally Potter consegue construir a personalidade de Ginger sem precisar explicitar muito. Como um olhar da garota no beco, enquanto Rosa está se entregando a um garoto. Ou um sorriso bobo na passeata quando o líder passa por ela e toca em seu cabelo. E apesar de ser frágil e influenciável, ela também sabe exatamente o que quer: ser poeta e fazer algo para salvar o mundo da guerra nuclear.
Suas certezas, convicções e planejamentos de futuro, no entanto, se abalam com dois acontecimentos, a separação dos pais com consequências que a desestrutura, e o agravamento da situação em Cuba. Ginger não consegue lidar com isso e essa ebulição de medos, frustrações e desesperanças no futuro. Suas referências desabam em sua frente e ela não se sente segura, talvez, por isso, seu medo de que o mundo acabe se torne tão palpável. Claro que hoje, pós-Guerra Fria, não conseguimos sentir na pele esse medo de fim do mundo tão forte como as pessoas na época, mas todo o sentimento de Ginger é exacerbado, e isso é porque o seu mundo interno está desabando.
O problema do filme é não nos fazer comprar essa ideia de uma forma tão forte e intensa quanto é demonstrada. Ficamos apenas contemplando a saga da garota e do mundo que está em risco. Agora, o que mais incomoda em toda a reviravolta da trama é a atitude de Rosa diante dos acontecimentos, a insensibilidade diante da amiga inseparável. O que não chega a ser culpa da atriz Alice Englert, mas das escolhas de roteiro e direção. E se estamos falando de atuação, é preciso elogiar a performance de Elle Fanning, que consegue lidar com toda a carga dramática de Ginger de uma maneira bastante madura e sensível.
Passamos boa parte da narrativa sendo preparados para algo. Somos apresentados às personagens, acompanhamos seu crescimento, o preconceito da mãe de Ginger com Rosa, por não ser bom exemplo pra filha, os sonhos de Ginger. Acompanhamos, principalmente, o dia a dia das duas que passam boa parte de suas horas simplesmente vagando sem muito rumo ou objetivo. E, de repente, um passeio de barco muda Rosa, e ao mudar Rosa, muda Ginger. E não conseguimos acompanhar essa mudança porque entendemos os sentimentos de Rosa, mas não compreendemos sua atitude para com Ginger. Não entendemos, principalmente, porque elas, que eram tão amigas e cúmplices, não simplesmente sentam e conversam. E tudo fica muito impalpável, exagerado até.
Ainda assim, Ginger e Rosa tem os seus atrativos. Não deixa de ser um rito de passagem, de descobertas e escolhas. Tudo isso envolto em um mundo particularmente instável, repleto de bombas e ameaças. Vidas que começam com uma bomba atômica não poderiam mesmo ser diferentes. No final, Ginger amadurece e, sem querer, amadurecemos um pouco com ela.
Ginger e Rosa (Ginger e Rosa, 2012 / Reino Unido)
Direção: Sally Potter
Roteiro: Sally Potter
Com: Elle Fanning, Alice Englert, Oliver Platt, Christina Hendricks, Annette Bening, Timothy Spall
Duração: 90 min.
Ginger e Rosa são duas amigas inseparáveis. Nasceram no mesmo dia, um dia fatídico para a humanidade quando as cidades de Hiroshima e Nagasaki (apesar de o filme só falar na primeira), sofreram com ataques de bombas atômicas em seus solos. Cresceram juntas e sempre partilharam tudo, ainda que uma não tivesse a mesma visão da outra do mundo. É interessante, por exemplo, quando elas negociam ir a uma igreja porque Rosa quer rezar pela paz mundial e depois a uma reunião de manifestantes, porque Ginger quer agir pela paz mundial. O problema é que essa paz está ameaçada com a crise de mísseis em Cuba, e isso deixa Ginger desestabilizada.
Porém, na verdade, toda essa crise mundial acaba sendo apenas uma metáfora da crise da vida da própria Ginger. Filha de uma pintora que largou a arte por uma gravidez precoce com um escritor pacifista comunista que leva tão a sério seus ideias que ela nem pode chamá-lo de pai, e sim de Roland. Ginger é frágil e até deslumbrada, vide a forma como se espelha em sua amiga Rosa, copiando suas atitudes, e como se encanta com o líder do movimento de desarmamento. Chama a atenção a forma como Sally Potter consegue construir a personalidade de Ginger sem precisar explicitar muito. Como um olhar da garota no beco, enquanto Rosa está se entregando a um garoto. Ou um sorriso bobo na passeata quando o líder passa por ela e toca em seu cabelo. E apesar de ser frágil e influenciável, ela também sabe exatamente o que quer: ser poeta e fazer algo para salvar o mundo da guerra nuclear.
Suas certezas, convicções e planejamentos de futuro, no entanto, se abalam com dois acontecimentos, a separação dos pais com consequências que a desestrutura, e o agravamento da situação em Cuba. Ginger não consegue lidar com isso e essa ebulição de medos, frustrações e desesperanças no futuro. Suas referências desabam em sua frente e ela não se sente segura, talvez, por isso, seu medo de que o mundo acabe se torne tão palpável. Claro que hoje, pós-Guerra Fria, não conseguimos sentir na pele esse medo de fim do mundo tão forte como as pessoas na época, mas todo o sentimento de Ginger é exacerbado, e isso é porque o seu mundo interno está desabando.
O problema do filme é não nos fazer comprar essa ideia de uma forma tão forte e intensa quanto é demonstrada. Ficamos apenas contemplando a saga da garota e do mundo que está em risco. Agora, o que mais incomoda em toda a reviravolta da trama é a atitude de Rosa diante dos acontecimentos, a insensibilidade diante da amiga inseparável. O que não chega a ser culpa da atriz Alice Englert, mas das escolhas de roteiro e direção. E se estamos falando de atuação, é preciso elogiar a performance de Elle Fanning, que consegue lidar com toda a carga dramática de Ginger de uma maneira bastante madura e sensível.
Passamos boa parte da narrativa sendo preparados para algo. Somos apresentados às personagens, acompanhamos seu crescimento, o preconceito da mãe de Ginger com Rosa, por não ser bom exemplo pra filha, os sonhos de Ginger. Acompanhamos, principalmente, o dia a dia das duas que passam boa parte de suas horas simplesmente vagando sem muito rumo ou objetivo. E, de repente, um passeio de barco muda Rosa, e ao mudar Rosa, muda Ginger. E não conseguimos acompanhar essa mudança porque entendemos os sentimentos de Rosa, mas não compreendemos sua atitude para com Ginger. Não entendemos, principalmente, porque elas, que eram tão amigas e cúmplices, não simplesmente sentam e conversam. E tudo fica muito impalpável, exagerado até.
Ainda assim, Ginger e Rosa tem os seus atrativos. Não deixa de ser um rito de passagem, de descobertas e escolhas. Tudo isso envolto em um mundo particularmente instável, repleto de bombas e ameaças. Vidas que começam com uma bomba atômica não poderiam mesmo ser diferentes. No final, Ginger amadurece e, sem querer, amadurecemos um pouco com ela.
Ginger e Rosa (Ginger e Rosa, 2012 / Reino Unido)
Direção: Sally Potter
Roteiro: Sally Potter
Com: Elle Fanning, Alice Englert, Oliver Platt, Christina Hendricks, Annette Bening, Timothy Spall
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ginger e Rosa
2013-04-25T08:30:00-03:00
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