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O Lugar Onde Tudo Termina
O Lugar Onde Tudo Termina
Ao contrário do seu filme anterior, a obra de Derek Cianfrance ganha um título digno no Brasil. Não é uma tradução literal, mas tem poesia e condiz com o clima de toda a projeção. Dividida em três atos bem marcados, O Lugar Onde Tudo Termina se encadeia de uma maneira bastante fluída, como a vida. E mais uma vez, o diretor se concentra em pessoas e sentimentos, para contar uma história.
Como em uma corrida de bastão, eles se apresentam em tela e revelar muito é correr o risco de estragar a experiência fílmica. Temos Luke, vivido por Ryan Gosling, um motociclista de circo que larga a vida errante e resolve se estabelecer quando descobre que um caso que teve gerou um filho. Temos Avery, personagem de Bradley Cooper, um jovem policial cheio de vontade e ética, que quer vencer na vida. E temos quinze anos depois os filhos deles. Dois garotos problemáticos, cada um a sua maneira, pelas escolhas dos pais e a forma como a vida se apresentou a eles.
Com um roteiro linear e bastante simples, acompanhamos essas trajetórias envolvidos por eles e por seus momentos. O forte de Derek Cianfrance demonstra-se mais uma vez não na história, mas nos personagens. Eles dão vida a tudo aquilo em suas complexidades e nuanças que os fazem únicos. As peças indispensáveis naquele tabuleiro. Não por acaso as atuações se destacam. Mesmo o ator visivelmente mais limitado que faz o filho de Avery consegue segurar nos momentos mais tensos. Ryan Gosling, Bradley Cooper e Dane DeHaan, que faz Jason, filho de Luke, estão completamente entregues ao drama de seus personagens. Assim como Eva Mendes e Rose Byrne cumprem seus papéis.
A construção de personagens é feita em pequenos detalhes. O clima de suspense em torno de Luke, esse astro underground que vive sempre com uma camisa rasgada pelo avesso, fumando e cheio de tatuagens vagabundas. Um estereótipo de bad boy com sua moto, mas que no fundo tem um coração imenso. A emoção com a qual pega o filho pela primeira vez é visível. Assim como sua dor ao observar de longe o batizado do mesmo. Cena aliás muito bem realizada com um close dele de mãos cruzadas e cabeça baixa, enquanto o resto da igreja, mesmo fora de foco, reza o Pai Nosso. Esse mesmo homem que ter uma crise de consciência e vômito em seu primeiro assalto, mas que também vê que aquela é a única forma de se estabelecer na vida e poder estar próximo ao seu filho, dando a ele a oportunidade que não teve ao ser criado sem seu pai. Aliás, é a segunda vez que Ryan Gosling e Derek Cianfrance encenam essa premissa de desespero de não deixar o filho sofrer o que ele sofreu, já que em Namorados Para Sempre, seu personagem não queria se divorciar, porque ele foi filho de pais separados.
Já Avery, personagem de Bradley Cooper, é o homem-exemplo, ou melhor, que quer ser sempre o exemplo, não por acaso caminha para ser procurador da justiça. Sempre arrumadinho, seja com farda ou não. Olhar perdido, ingênuo. Mas, ao mesmo tempo de um nervosismo de principiante que o faz cometer erros e cria um complexo de culpa imenso. A forma como ele se incomoda com a ação corrupta de parte do batalhão onde trabalha e como tenta resolver isso, por exemplo, demonstra bem o homem em conflito que vive dentro dele. Seu contraste com o personagem de Ryan Gosling é bastante visível, ao mesmo tempo em que em sua essência sejam tão próximos. Dois homens querendo fazer o certo, ainda que a vida os leve a errar. A diferença é que Avery teve pai, Luke não. E é interessante como isso se repete, mas de certa maneira também é o oposto. São essas pequenas nuanças que fazem a trama de Derek Cianfrance se tornar tão interessante.
O diretor sabe nos envolver naqueles dramas sem que a gente sinta o tempo passar, ou mesmo se incomode com as viradas bruscas na trama. Compramos a ideia desde o primeiro frame, nos encantamos, nos envolvemos e nos encontramos em situações ali vividas, por mais distantes que pareçam de nós. Porque no fundo, falam de sensações universais. Desejos de aceitação, amor, busca por seu lugar no mundo, relações familiares. Fala de destino, de escolhas e sacrifícios. E claro, fala da consequência dos nossos atos. Talvez esse seja o ponto principal, ainda que não único, que Derek Cianfrance queria nos passar.
O Lugar Onde Tudo Termina poderia ser também O lugar onde tudo começa. Como um ciclo da vida. Um filme reflexivo que se descortina aos poucos aos nossos olhares. Uma pitura bem pensada, com ruídos de motos, paisagens bucólicas, ações ensaiadas. Mas que tem ali pessoas em suas infinitas nuanças e não apenas personagens-peças com funções predefinidas. E exatamente por isso, um filme encantador.
O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines, 2013 / EUA)
Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Cianfrance e Ben Coccio
Com: Ryan Gosling, Eva Mendes, Bradley Cooper, Rose Byrne, Ray Liotta, Dane DeHaan, Ben Mendelsohn
Duração: 140 min.
Como em uma corrida de bastão, eles se apresentam em tela e revelar muito é correr o risco de estragar a experiência fílmica. Temos Luke, vivido por Ryan Gosling, um motociclista de circo que larga a vida errante e resolve se estabelecer quando descobre que um caso que teve gerou um filho. Temos Avery, personagem de Bradley Cooper, um jovem policial cheio de vontade e ética, que quer vencer na vida. E temos quinze anos depois os filhos deles. Dois garotos problemáticos, cada um a sua maneira, pelas escolhas dos pais e a forma como a vida se apresentou a eles.
Com um roteiro linear e bastante simples, acompanhamos essas trajetórias envolvidos por eles e por seus momentos. O forte de Derek Cianfrance demonstra-se mais uma vez não na história, mas nos personagens. Eles dão vida a tudo aquilo em suas complexidades e nuanças que os fazem únicos. As peças indispensáveis naquele tabuleiro. Não por acaso as atuações se destacam. Mesmo o ator visivelmente mais limitado que faz o filho de Avery consegue segurar nos momentos mais tensos. Ryan Gosling, Bradley Cooper e Dane DeHaan, que faz Jason, filho de Luke, estão completamente entregues ao drama de seus personagens. Assim como Eva Mendes e Rose Byrne cumprem seus papéis.
A construção de personagens é feita em pequenos detalhes. O clima de suspense em torno de Luke, esse astro underground que vive sempre com uma camisa rasgada pelo avesso, fumando e cheio de tatuagens vagabundas. Um estereótipo de bad boy com sua moto, mas que no fundo tem um coração imenso. A emoção com a qual pega o filho pela primeira vez é visível. Assim como sua dor ao observar de longe o batizado do mesmo. Cena aliás muito bem realizada com um close dele de mãos cruzadas e cabeça baixa, enquanto o resto da igreja, mesmo fora de foco, reza o Pai Nosso. Esse mesmo homem que ter uma crise de consciência e vômito em seu primeiro assalto, mas que também vê que aquela é a única forma de se estabelecer na vida e poder estar próximo ao seu filho, dando a ele a oportunidade que não teve ao ser criado sem seu pai. Aliás, é a segunda vez que Ryan Gosling e Derek Cianfrance encenam essa premissa de desespero de não deixar o filho sofrer o que ele sofreu, já que em Namorados Para Sempre, seu personagem não queria se divorciar, porque ele foi filho de pais separados.
Já Avery, personagem de Bradley Cooper, é o homem-exemplo, ou melhor, que quer ser sempre o exemplo, não por acaso caminha para ser procurador da justiça. Sempre arrumadinho, seja com farda ou não. Olhar perdido, ingênuo. Mas, ao mesmo tempo de um nervosismo de principiante que o faz cometer erros e cria um complexo de culpa imenso. A forma como ele se incomoda com a ação corrupta de parte do batalhão onde trabalha e como tenta resolver isso, por exemplo, demonstra bem o homem em conflito que vive dentro dele. Seu contraste com o personagem de Ryan Gosling é bastante visível, ao mesmo tempo em que em sua essência sejam tão próximos. Dois homens querendo fazer o certo, ainda que a vida os leve a errar. A diferença é que Avery teve pai, Luke não. E é interessante como isso se repete, mas de certa maneira também é o oposto. São essas pequenas nuanças que fazem a trama de Derek Cianfrance se tornar tão interessante.
O diretor sabe nos envolver naqueles dramas sem que a gente sinta o tempo passar, ou mesmo se incomode com as viradas bruscas na trama. Compramos a ideia desde o primeiro frame, nos encantamos, nos envolvemos e nos encontramos em situações ali vividas, por mais distantes que pareçam de nós. Porque no fundo, falam de sensações universais. Desejos de aceitação, amor, busca por seu lugar no mundo, relações familiares. Fala de destino, de escolhas e sacrifícios. E claro, fala da consequência dos nossos atos. Talvez esse seja o ponto principal, ainda que não único, que Derek Cianfrance queria nos passar.
O Lugar Onde Tudo Termina poderia ser também O lugar onde tudo começa. Como um ciclo da vida. Um filme reflexivo que se descortina aos poucos aos nossos olhares. Uma pitura bem pensada, com ruídos de motos, paisagens bucólicas, ações ensaiadas. Mas que tem ali pessoas em suas infinitas nuanças e não apenas personagens-peças com funções predefinidas. E exatamente por isso, um filme encantador.
O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines, 2013 / EUA)
Direção: Derek Cianfrance
Roteiro: Derek Cianfrance e Ben Coccio
Com: Ryan Gosling, Eva Mendes, Bradley Cooper, Rose Byrne, Ray Liotta, Dane DeHaan, Ben Mendelsohn
Duração: 140 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Lugar Onde Tudo Termina
2013-06-20T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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