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Grande Demais para Quebrar

Grande Demais para Quebrar - filme

Quando terminei de assistir a Grande Demais para Quebrar (2011), dirigido por Curtis Hanson, senti-me imerso num redemoinho de tensão silenciosa, embalada por um elenco inteligente e um roteiro que evita simplificações. É raro ver uma obra sobre a crise de 2008 que não caricaturize seus personagens, e esse foi um dos maiores méritos: aqui, não há vilões, mas figuras humanas tomadas por ambição e medo, compelidas a decisões que moldaram o que veio depois.

O filme tem uma força tranquilizadora e inquietante ao mesmo tempo: fala de economia com uma precisão quase fria, mas traz humanidade. Essa humanização vem da interpretação de William Hurt como Henry Paulson, cujo olhar exausto traduz mais do que mil palavras. Hurt não vira herói, mas tampouco vilão, e é dolorosamente crível. A fotografia de Kramer Morgenthau encena corredores oficiais com tons frios, e cada luz parece medir o peso de um mundo prestes a ceder. A direção de cena acerta ao não transformar o debate em espetáculo: não há explosões nem trilha cinematográfica, e isso mantém o foco na gravidade dos gestos, do silêncio medido de Paulson à impaciência de Dick Fuld (James Woods), cuja resistência à intervenção define o rumo da narrativa.

Grande Demais para Quebrar - filme
Esse é um filme didático, sim, mas no melhor sentido possível. Há diálogos que explicam a crise sem soar artificial, e construídos de forma a desacelerar nossa compreensão, como se fosse preciso que respirássemos antes de compreender o que aquelas cifras significavam na vida de pessoas comuns. A reconstituição histórica não é glamourizada. Ao contrário, é sóbria, quase documental, e exige atenção, pois não dá respostas prontas. O momento mais eloquente disso acontece quando Paulson pede ao Congresso autorização para injetar 700 bilhões de dólares em bancos: não é espetáculo, é o peso de salvar ou sacrificar o capitalismo em um só voto, e essa dúvida paira na câmera como uma sombra nefasta.

Grande Demais para Quebrar - filme
O roteiro de Peter Gould, baseado no livro de Andrew Ross Sorkin, costura o drama sem manipular: os CEOs de bancos, o Congresso, o Federal Reserve, tudo converge naquilo que o espectador entende, ainda que não saiba nada de economia. Mas não se iluda, o que há é um convite à reflexão, não um painel explicativo. A escolha de incluir momentos de pressão real, em cortes intercalados com flashes de noticiário, reforça que estamos vendo algo que se passou com aqueles que não usavam capa, mas gravata e pasta de couro, o que dá a tudo uma sensação de proximidade e de urgência sutil.

O texto tem ritmo e combate nossa tendência a demonizar. Não subscreve completamente a narrativa do “sistema salvador”, tampouco trata o Tesouro como Papa. Paulson é apresentado no limiar entre sua ambição e sua consciência institucional. Esse olhar ambivalente é raro e compensador. Onde o documentário Trabalho Interno denuncia e acusa, Grande Demais para Quebrar narra e desafia. A vantagem é que aqui vivemos de fato através dos olhos do Secretário do Tesouro.

As atuações de apoio são vigorosas: Paul Giamatti como Ben Bernanke traz uma sobriedade que evita demagogia, e James Woods encarna a arrogância de Wall Street com brilho controlado. Há energia naquele ambiente corporativo, mas é energia tensa, de quem sabe o risco real que corre. A reconstrução técnica não é exagerada, mas certeira; o filme não pretende ser pirotécnico, e sim, compreendido.

Se há uma fraqueza, é que o ritmo pode exigir paciência de quem busca entretenimento imediato: é uma obra que se parece com um estudo e exige entrega. Mas essa ausência de concessão, justamente, é sua força. É elegância silenciosa, não assassinato midiático, e preserva a humanidade dos que arriscaram.


Grande Demais para Quebrar (Too Big to Fail, 2011 / Estados Unidos)
Direção: Curtis Hanson
Roteiro: Peter Gould
Com: William Hurt, Paul Giamatti, James Woods, Cynthia Nixon, Billy Crudup, Edward Asner, Topher Grace, Tony Shalhoub, Bill Pullman
Duração: 98 min.

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