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O Concurso
O Concurso
"É mais fácil ser atropelado por uma manada de hipopótamos do que ser aprovado em primeiro lugar em um concurso público". Com essa frase, o filme O Concurso começa e ficamos nos perguntando se é mais fácil ser atropelado por uma manada de hipopótomos ou ver uma comédia brasileira inteligente na atual safra do nosso cinema. Uma pena que elas acabem ofuscando a boa safra de dramas que temos tido.
Eles começam com uma promessa de Se Beber Não Case brasileiro. Da comédia norte-americana, no entanto, só temos a abertura do filme. Quatro caras acordam em situações absurdas no dia em que deveriam estar prestando a prova oral, última fase do concurso público para juiz federal. Claro, também, que o filme de Todd Phillips não é o único com essa premissa. Até novela já teve assim. Mas, é mesmo a referência mais forte. Depois desse início de apresentação, no entanto, voltamos no tempo e vamos acompanhar de forma linear a trajetória deles até aquele momento. E o que impera no roteiro são estereótipos rasteiros e piadas de mal gosto. A começar pela criação dos personagens principais.
Caio, personagem de Danton Mello é o carioca. Malandro, mulherengo e picareta, tem acordos com todos os traficantes, bandidos e sei lá mais o que do Rio de Janeiro. Rogério Carlos, o personagem de Fábio Porchat é o gaúcho de Pelotas. Pai machão, tchê, que tocando o terror e, claro, ele tem traços afeminados, cabelo partido pro lado, todo fresco. Freitas, personagem de Anderson Di Rizzi, é o cearense. E poderia ser baiano, ou qualquer outro nordestino, pela visão do sulista. Apegado a todos os santos, caboclos, orixás, espíritos e seja lá que outras religiões, mandingas ou promessas possam ser feitas. E Bernardo, personagem de Rodrigo Pandolfo, paulista do interior, com seu sotaque de porta, porteira, tabaréu acanhado que tem como maior problema fugir das investidas da personagem de Sabrina Sato.
Os coadjuvantes também não fogem do estereótipo. Destaque para a ninfomaníaca interpretada por Sabrina Sato, na verdade, uma atiradora de facas de um circo que persegue Bernardo desde que eles eram pequenos. Pedro Paulo Rangel, faz o Meirinho, funcionário que toma conta do fórum e do concurso. Afetado e cheio de tiques exagerados. Carol Castro faz a esposa de Freitas, que não tem muito peso. E Érico Brás faz o líder de uma gangue de travestis que terá uma certa função na trama.
Apesar do abuso dos estereótipos e das piadas físicas, vide o chefão do crime, o argumento do filme até que é inusitado. Ainda que de maneira absurda, tratar de um concurso público chama a atenção pela novidade. Porém, o roteiro não é muito inteligente ao desenvolver isso de uma maneira displicente, pautando tudo nas peripécias da busca pelo gabarito da prova. O tal gabarito, no entanto, é a grade de assuntos, já que a prova final é oral e os juízes vão sabatinando os candidatos até três serem eliminados. Não faz muito sentido.
Da mesma forma que não faz muito sentido muitas das situações do filme. A começar pelo fato daquelas quatro figuras serem advogados formados, tem momentos que agem como adolescentes recém chegados na puberdade.
Primeiro filme de Pedro Vasconcelos, O Concurso é um emaranhado de misturas, referências e pseudo-homenagens como uma referência ao filme "Será que ele é?". Após trabalhar em telenovelas como A Favorita, esperava um pouco mais do ator e diretor. Assim como esperava mais de Fábio Porchat, que está em ascensão no cenário de comédia brasileiro, mas precisa se cuidar ao escolher papéis para não prejudicar a carreira.
O Concurso não é apenas mais um filme de comédia brasileira detonado pela crítica e com público certo. Muitos desses sucessos são, de fato, engraçados. Aqui, os roteiristas perdem a mão e mesmo em sua função primária de nos divertir e fazer rir com bobagens, acabam falhando. Talvez encontrar bons filmes seja mesmo difícil como passar em um concurso público.
O Concurso (idem, 2013 / Brasil)
Direção: Pedro Vasconcelos
Roteiro: L.G. Tubaldini Jr., L.G. Bayão, Leonardo Levis,
Com: Danton Mello, Fábio Porchat, Anderson Di Rizzi, Rodrigo Pandolfo, Carol Castro, Pedro Paulo Rangel, Sabrina Sato, Érico Brás
Duração: 86 min.
Eles começam com uma promessa de Se Beber Não Case brasileiro. Da comédia norte-americana, no entanto, só temos a abertura do filme. Quatro caras acordam em situações absurdas no dia em que deveriam estar prestando a prova oral, última fase do concurso público para juiz federal. Claro, também, que o filme de Todd Phillips não é o único com essa premissa. Até novela já teve assim. Mas, é mesmo a referência mais forte. Depois desse início de apresentação, no entanto, voltamos no tempo e vamos acompanhar de forma linear a trajetória deles até aquele momento. E o que impera no roteiro são estereótipos rasteiros e piadas de mal gosto. A começar pela criação dos personagens principais.
Caio, personagem de Danton Mello é o carioca. Malandro, mulherengo e picareta, tem acordos com todos os traficantes, bandidos e sei lá mais o que do Rio de Janeiro. Rogério Carlos, o personagem de Fábio Porchat é o gaúcho de Pelotas. Pai machão, tchê, que tocando o terror e, claro, ele tem traços afeminados, cabelo partido pro lado, todo fresco. Freitas, personagem de Anderson Di Rizzi, é o cearense. E poderia ser baiano, ou qualquer outro nordestino, pela visão do sulista. Apegado a todos os santos, caboclos, orixás, espíritos e seja lá que outras religiões, mandingas ou promessas possam ser feitas. E Bernardo, personagem de Rodrigo Pandolfo, paulista do interior, com seu sotaque de porta, porteira, tabaréu acanhado que tem como maior problema fugir das investidas da personagem de Sabrina Sato.
Os coadjuvantes também não fogem do estereótipo. Destaque para a ninfomaníaca interpretada por Sabrina Sato, na verdade, uma atiradora de facas de um circo que persegue Bernardo desde que eles eram pequenos. Pedro Paulo Rangel, faz o Meirinho, funcionário que toma conta do fórum e do concurso. Afetado e cheio de tiques exagerados. Carol Castro faz a esposa de Freitas, que não tem muito peso. E Érico Brás faz o líder de uma gangue de travestis que terá uma certa função na trama.
Apesar do abuso dos estereótipos e das piadas físicas, vide o chefão do crime, o argumento do filme até que é inusitado. Ainda que de maneira absurda, tratar de um concurso público chama a atenção pela novidade. Porém, o roteiro não é muito inteligente ao desenvolver isso de uma maneira displicente, pautando tudo nas peripécias da busca pelo gabarito da prova. O tal gabarito, no entanto, é a grade de assuntos, já que a prova final é oral e os juízes vão sabatinando os candidatos até três serem eliminados. Não faz muito sentido.
Da mesma forma que não faz muito sentido muitas das situações do filme. A começar pelo fato daquelas quatro figuras serem advogados formados, tem momentos que agem como adolescentes recém chegados na puberdade.
Primeiro filme de Pedro Vasconcelos, O Concurso é um emaranhado de misturas, referências e pseudo-homenagens como uma referência ao filme "Será que ele é?". Após trabalhar em telenovelas como A Favorita, esperava um pouco mais do ator e diretor. Assim como esperava mais de Fábio Porchat, que está em ascensão no cenário de comédia brasileiro, mas precisa se cuidar ao escolher papéis para não prejudicar a carreira.
O Concurso não é apenas mais um filme de comédia brasileira detonado pela crítica e com público certo. Muitos desses sucessos são, de fato, engraçados. Aqui, os roteiristas perdem a mão e mesmo em sua função primária de nos divertir e fazer rir com bobagens, acabam falhando. Talvez encontrar bons filmes seja mesmo difícil como passar em um concurso público.
O Concurso (idem, 2013 / Brasil)
Direção: Pedro Vasconcelos
Roteiro: L.G. Tubaldini Jr., L.G. Bayão, Leonardo Levis,
Com: Danton Mello, Fábio Porchat, Anderson Di Rizzi, Rodrigo Pandolfo, Carol Castro, Pedro Paulo Rangel, Sabrina Sato, Érico Brás
Duração: 86 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Concurso
2013-07-20T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
Anderson Di Rizzi|Carol Castro|cinema brasileiro|comedia|critica|Danton Mello|Érico Brás|Fábio Porchat|Pedro Vasconcelos|Rodrigo Pandolfo|Sabrina Sato|
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