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Cine Holliúdy
Cine Holliúdy
No início de Cine Holliúdy, um aviso. Este é o primeiro filme falado em cearensês, e por isso, será dublado em português. A piada acaba sendo produtiva, já que o linguajar do filme é todo em gírias locais, que muitas vezes, as pessoas de outros estados se perdem. Só acho que a brincadeira poderia ser levada mais a sério, realmente traduzindo as gírias na legenda e não apenas transcrevendo-as. Poucas são as palavras mudadas do que é dito para o que é lido, tornando no decorrer do filme, a legenda um elemento que atrapalha em vez de ajudar, já que antecipa, inclusive falas e piadas que nosso cérebro acostumado não consegue não ler. De qualquer maneira isso não prejudica o resultado final do filme, que é uma comédia bem humorada, sem deixar de ser uma homenagem ao cinema.
Partindo de um curta-metragem produzido em 2004, Halder Gomes construiu uma saga de Francisgleydisson e família em busca de uma cidade no interior do estado que ainda não tenha sido infestada pela televisão. Tudo isso, porque ele é um projecionista apaixonado pela sétima arte, que passa os filmes de uma maneira muito particular, dublando, legendando e dando títulos aos rolos que trazem sempre obras chinesas de artes marciais. Em mais uma mudança, eles chegam em Pacatuba, onde irão ter trabalho para abrir o Cine Holliúdy, principalmente porque o prefeito local Olegrio Elpídio, vai querer se aproveitar da situação para ganhar alguns votos.
O filme tem diversas brincadeiras visuais, a começar pelos créditos colocados nas latas empoeiradas dos filmes, passando por uma apresentação de personagens com legendas divertidas. Durante toda a projeção vemos também algumas inserções como um disco voador, uma lâmpada mágica ou um efeito especial quando dois personagens tocam as mãos que fará sentido no final da trama. Isso sem falar com brincadeiras como o mico da família no cartaz de King Kong e os títulos dos filmes que estão espalhados pela parede do cinema.
A brincadeira maior, no entanto, é mesmo com o povo cearense e seu modo de falar. Nunca se ouviu tanto "macho" em diálogos de filmes. Os nomes dos personagens também são uma diversão a começar pelo protagonista Francisgleydisson. Mas, temos também o garotinho Walsdinei, que é, na verdade, um jeito "especial" de falar Walt Disney. Tudo é motivo para piada, até um ovo que é chamado de bife do olhão, em uma das poucas cenas onde o palavreado é forçado. No geral, as gírias convivem muito bem no texto, divertindo junto com os personagens.
Cine Holliúdy está também, repleto de participações de humoristas locais. Desde os nacionalmente conhecidos como o cantor Falcão e Karla Karenina, a outros pouco conhecidos do público não-local, mas que também demonstram talento em cena. A sequência em que cada habitante da cidade para em frente ao cartaz do filme e fala alguma coisa sobre a estreia do cinema, por exemplo, é ótima. Assim como a sequência dentro do cinema, que é, na verdade, uma reprodução melhorada e ampliada do curta de 2004.
Mas, o destaque é mesmo o ator Edmilson Filho que faz o protagonista Francisgleydisson. Divertido e espontâneo ele consegue passar toda a paixão pelo cinema, a preocupação com a guerra contra a televisão, as mentiras lúdicas sobre sua vida e os filmes, isso sem falar na parte final, onde tem que atuar em um palco, lutando e envolvendo uma plateia. Para um ator inexperiente, então, é um feito incrível, já que Edmilson nunca tinha trabalhado em cinema ou mesmo televisão. Ainda que existam boas participações, ele sustenta o filme como um todo, dando ritmo, criando empatia e divertindo a plateia.
O filme tem alguns problemas com o exagero, é verdade. Como a já citada cena do ovo ou algumas inserções desconectas como o padre no confessionário ou um pastor em um culto. Mesmo que sejam piadas extras, que queira tornar o filme uma brincadeira maior, não faz sentido mesmo para o espectador. Tem ainda a rixa entre um torcedor do Ceará e uma torcedora do Fortaleza que nunca consegue criar um clima de briga típica de torcidas rivais. Fica tudo forçado e exposto de uma maneira que não condiz com o resto do filme. Já as esquetes com o prefeito funcionam melhor, pois gerarão consequências na trama, desde a inauguração do banco da praça até os falsos telefonemas onde ouvimos o sinal de ocupado.
De qualquer maneira, Cine Holliúdy consegue agradar a todos por ser uma história simples, porém sincera sobre um problema que muitos já viveram. Mesmo sem ser cearense, é possível se identificar com essa nostalgia dos cinemas de rua, principalmente das finadas salas do interior do país que já tinha sido retratadas tão bem em Tapete Vermelho. Ainda que seja uma comédia escrachada, o filme traz essa reflexão e alerta. Nos dá saudades de um tempo ingênuo que não volta mais. Ao mesmo tempo em que nos diverte de maneira simples, com o humor das ruas. Fala mais ao cearense, claro, mas é possível criar diálogo com qualquer ser humano.
Cine Holliúdy (Cine Holliúdy, 2013 / EUA)
Direção: Halder Gomes
Roteiro: Halder Gomes
Com: Edmilson Filho, Roberto Bomtempo, Miriam Freeland, Fiorella Mattheis, Falcão, Angeles Woo
Duração: 91 min.
Partindo de um curta-metragem produzido em 2004, Halder Gomes construiu uma saga de Francisgleydisson e família em busca de uma cidade no interior do estado que ainda não tenha sido infestada pela televisão. Tudo isso, porque ele é um projecionista apaixonado pela sétima arte, que passa os filmes de uma maneira muito particular, dublando, legendando e dando títulos aos rolos que trazem sempre obras chinesas de artes marciais. Em mais uma mudança, eles chegam em Pacatuba, onde irão ter trabalho para abrir o Cine Holliúdy, principalmente porque o prefeito local Olegrio Elpídio, vai querer se aproveitar da situação para ganhar alguns votos.
O filme tem diversas brincadeiras visuais, a começar pelos créditos colocados nas latas empoeiradas dos filmes, passando por uma apresentação de personagens com legendas divertidas. Durante toda a projeção vemos também algumas inserções como um disco voador, uma lâmpada mágica ou um efeito especial quando dois personagens tocam as mãos que fará sentido no final da trama. Isso sem falar com brincadeiras como o mico da família no cartaz de King Kong e os títulos dos filmes que estão espalhados pela parede do cinema.
A brincadeira maior, no entanto, é mesmo com o povo cearense e seu modo de falar. Nunca se ouviu tanto "macho" em diálogos de filmes. Os nomes dos personagens também são uma diversão a começar pelo protagonista Francisgleydisson. Mas, temos também o garotinho Walsdinei, que é, na verdade, um jeito "especial" de falar Walt Disney. Tudo é motivo para piada, até um ovo que é chamado de bife do olhão, em uma das poucas cenas onde o palavreado é forçado. No geral, as gírias convivem muito bem no texto, divertindo junto com os personagens.
Cine Holliúdy está também, repleto de participações de humoristas locais. Desde os nacionalmente conhecidos como o cantor Falcão e Karla Karenina, a outros pouco conhecidos do público não-local, mas que também demonstram talento em cena. A sequência em que cada habitante da cidade para em frente ao cartaz do filme e fala alguma coisa sobre a estreia do cinema, por exemplo, é ótima. Assim como a sequência dentro do cinema, que é, na verdade, uma reprodução melhorada e ampliada do curta de 2004.
Mas, o destaque é mesmo o ator Edmilson Filho que faz o protagonista Francisgleydisson. Divertido e espontâneo ele consegue passar toda a paixão pelo cinema, a preocupação com a guerra contra a televisão, as mentiras lúdicas sobre sua vida e os filmes, isso sem falar na parte final, onde tem que atuar em um palco, lutando e envolvendo uma plateia. Para um ator inexperiente, então, é um feito incrível, já que Edmilson nunca tinha trabalhado em cinema ou mesmo televisão. Ainda que existam boas participações, ele sustenta o filme como um todo, dando ritmo, criando empatia e divertindo a plateia.
O filme tem alguns problemas com o exagero, é verdade. Como a já citada cena do ovo ou algumas inserções desconectas como o padre no confessionário ou um pastor em um culto. Mesmo que sejam piadas extras, que queira tornar o filme uma brincadeira maior, não faz sentido mesmo para o espectador. Tem ainda a rixa entre um torcedor do Ceará e uma torcedora do Fortaleza que nunca consegue criar um clima de briga típica de torcidas rivais. Fica tudo forçado e exposto de uma maneira que não condiz com o resto do filme. Já as esquetes com o prefeito funcionam melhor, pois gerarão consequências na trama, desde a inauguração do banco da praça até os falsos telefonemas onde ouvimos o sinal de ocupado.
De qualquer maneira, Cine Holliúdy consegue agradar a todos por ser uma história simples, porém sincera sobre um problema que muitos já viveram. Mesmo sem ser cearense, é possível se identificar com essa nostalgia dos cinemas de rua, principalmente das finadas salas do interior do país que já tinha sido retratadas tão bem em Tapete Vermelho. Ainda que seja uma comédia escrachada, o filme traz essa reflexão e alerta. Nos dá saudades de um tempo ingênuo que não volta mais. Ao mesmo tempo em que nos diverte de maneira simples, com o humor das ruas. Fala mais ao cearense, claro, mas é possível criar diálogo com qualquer ser humano.
Cine Holliúdy (Cine Holliúdy, 2013 / EUA)
Direção: Halder Gomes
Roteiro: Halder Gomes
Com: Edmilson Filho, Roberto Bomtempo, Miriam Freeland, Fiorella Mattheis, Falcão, Angeles Woo
Duração: 91 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cine Holliúdy
2013-08-31T06:19:00-03:00
Amanda Aouad
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