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A Coleção Invisível
A Coleção Invisível
Baseado no contro homônimo de Stefan Zweig, A Coleção Invisível é o primeiro longa-metragem de Bernard Attal. Francês radicado no Brasil, o diretor consegue transportar a história do judeu austríaco na Alemanha entre guerras para o interior da Bahia "pós-guerra" do Cacau contra a vassoura de bruxa. Uma trama bastante sensível, que emociona sem ser clichê ou mesmo utilizar truques do melodrama.
O filme conta a história de Beto, personagem de Vladimir Brichta, um promoter de Salvador que após uma tragédia encontra-se perdido. Sua mãe é dona de uma loja de antiguidades que passa por problemas financeiros. Mas, um antigo cliente de seu pai chega com uma possível solução, encontrar uma rara coleção de gravuras de Cícero Dias que foram vendidas a um fazendeiro no sul da Bahia. Beto embarca nessa busca, na tentativa de salvar a família da ruína, mas encontra uma realidade muito mais dura na pequena cidade de Itajuípe.
Apesar de a região cacaueira já começar a ter algumas soluções e investimentos nesses últimos anos, Bernard Attal nos dá um retrato exato da destruição que a praga conhecida como Vassoura de Bruxa causou na região. Pessoas que se acostumaram a viver como reis, sem se preocupar com dinheiro, de repente viram o desespero de perder tudo. O quadro é muito bem definido por alguns personagens que passam pelo filme como um radialista decadente que cita o costume das épocas áureas de pegar um avião só para fazer a barba e tomar um chopp no Rio de Janeiro. Um certo exagero, mas que demonstra bem a mentalidade da região na época, em que o Rio era o quintal deles, de fato.
Ou mesmo a esposa do velho Samir (Walmor Chagas), interpretada por Clarisse Abujamra, que mesmo vivendo em uma fazenda destruída, não perde a pose de madame. Contrastando com a filha do casal, vivida por Ludmila Rosa que foi à luta e continua vendendo arrobas de cacau que colhe em sua própria fazenda, representando um pouco essa luta contínua que ainda torna a região viva dentro deste comércio.
A trama de A Coleção Invisível tem uma estrutura de trajetória de redescobrimento, é verdade, mas é interessante como o personagem de Vladimir Brichta é construído de uma maneira bastante real. Sem grandes transformações ou soluções clichês, Beto simplesmente mergulha em seu passado, quando seu pai o levava por aquela região, ao mesmo tempo em que tenta exorcizar alguns fantasmas decorrentes da tragédia que marcou sua vida. E o ator consegue nos passar essa verdade, tanto na dor, quanto no desespero. Tudo de uma maneira bastante sutil.
Walmor Chagas também empresta sua alma a Samir, o velho devastado pela Vassoura de Bruxa, mas que não perde o brilho da paixão por sua coleção de arte. Mas, quem chama a atenção mesmo é a atriz Clarisse Abujamra como sua esposa. A capacidade de nos passar a dor e a revolta da situação que vive, em poucas cenas e ainda menores falas, é impressionante. Toda a sua construção corporal nos dá a ideia exata do desespero interno e da raiva que transfere para Beto, aquele forasteiro que vem remexer em suas feridas. Já Ludmila Rosa, que faz a filha, parece em um tom acima, muitas vezes, ainda que faça parte da explosão da própria personagem.
De qualquer maneira, A Coleção Invisível vai nos envolvendo nesta busca, de uma maneira bem natural e cuidadosa, construindo cada cena com sua intenção de investigação e observação ao mesmo tempo. Como os cenários das fazendas abandonadas e o perfil dos personagens que vivem ali. Ainda que olhares mais atentos que já conviveram com essa região e situação, possam perceber detalhes que passaram despercebidos. Coisas bobas, mas que não pude deixar de reparar como quando Beto e Saada (Ludmila Rosa) andam pela plantação de cacau e a moça oferece a fruta a ele. Sendo Saada tão prática e focada em sua profissão, ela não jogaria o fruto fora. Provavelmente guardaria a casca, pedindo que Beto jogasse o caroço ali, pois aquilo "é dinheiro". Mas, como disse, são detalhes. Talvez incomode mais a possibilidade de romance entre os dois, inclusive com uma cena desnecessária, mas mesmo isso, não cai no clichê do melodrama.
O que nos prende em A Coleção Invisível é mesmo a trajetória de Beto, seus fantasmas e suas descobertas. A virada final da trama com algumas revelações e reviravoltas nos pegam de surpresa, da mesma forma que pegam o personagem, e assim como ele, nos sentimos perdidos ao mesmo tempo em que nos encontramos com o verdadeiro significado de tudo aquilo. Isto torna a jornada especial e nos faz sair do cinema com uma sensação boa.
A Coleção Invisível (A Coleção Invisível, Brasil / 2013)
Direção: Bernard Attal
Roteiro: Bernard Attal, Sergio Machado e Iziane Mascarenhas
Com: Vladimir Brichta, Clarisse Abujamra, Walmor Chagas, Ludmila Rosa, Frank Menezes, Wesley Macedo, Kadu Veiga, Ciro Sales e Conceicão Senna
Duração: 89 min
O filme conta a história de Beto, personagem de Vladimir Brichta, um promoter de Salvador que após uma tragédia encontra-se perdido. Sua mãe é dona de uma loja de antiguidades que passa por problemas financeiros. Mas, um antigo cliente de seu pai chega com uma possível solução, encontrar uma rara coleção de gravuras de Cícero Dias que foram vendidas a um fazendeiro no sul da Bahia. Beto embarca nessa busca, na tentativa de salvar a família da ruína, mas encontra uma realidade muito mais dura na pequena cidade de Itajuípe.
Apesar de a região cacaueira já começar a ter algumas soluções e investimentos nesses últimos anos, Bernard Attal nos dá um retrato exato da destruição que a praga conhecida como Vassoura de Bruxa causou na região. Pessoas que se acostumaram a viver como reis, sem se preocupar com dinheiro, de repente viram o desespero de perder tudo. O quadro é muito bem definido por alguns personagens que passam pelo filme como um radialista decadente que cita o costume das épocas áureas de pegar um avião só para fazer a barba e tomar um chopp no Rio de Janeiro. Um certo exagero, mas que demonstra bem a mentalidade da região na época, em que o Rio era o quintal deles, de fato.
Ou mesmo a esposa do velho Samir (Walmor Chagas), interpretada por Clarisse Abujamra, que mesmo vivendo em uma fazenda destruída, não perde a pose de madame. Contrastando com a filha do casal, vivida por Ludmila Rosa que foi à luta e continua vendendo arrobas de cacau que colhe em sua própria fazenda, representando um pouco essa luta contínua que ainda torna a região viva dentro deste comércio.
A trama de A Coleção Invisível tem uma estrutura de trajetória de redescobrimento, é verdade, mas é interessante como o personagem de Vladimir Brichta é construído de uma maneira bastante real. Sem grandes transformações ou soluções clichês, Beto simplesmente mergulha em seu passado, quando seu pai o levava por aquela região, ao mesmo tempo em que tenta exorcizar alguns fantasmas decorrentes da tragédia que marcou sua vida. E o ator consegue nos passar essa verdade, tanto na dor, quanto no desespero. Tudo de uma maneira bastante sutil.
Walmor Chagas também empresta sua alma a Samir, o velho devastado pela Vassoura de Bruxa, mas que não perde o brilho da paixão por sua coleção de arte. Mas, quem chama a atenção mesmo é a atriz Clarisse Abujamra como sua esposa. A capacidade de nos passar a dor e a revolta da situação que vive, em poucas cenas e ainda menores falas, é impressionante. Toda a sua construção corporal nos dá a ideia exata do desespero interno e da raiva que transfere para Beto, aquele forasteiro que vem remexer em suas feridas. Já Ludmila Rosa, que faz a filha, parece em um tom acima, muitas vezes, ainda que faça parte da explosão da própria personagem.
De qualquer maneira, A Coleção Invisível vai nos envolvendo nesta busca, de uma maneira bem natural e cuidadosa, construindo cada cena com sua intenção de investigação e observação ao mesmo tempo. Como os cenários das fazendas abandonadas e o perfil dos personagens que vivem ali. Ainda que olhares mais atentos que já conviveram com essa região e situação, possam perceber detalhes que passaram despercebidos. Coisas bobas, mas que não pude deixar de reparar como quando Beto e Saada (Ludmila Rosa) andam pela plantação de cacau e a moça oferece a fruta a ele. Sendo Saada tão prática e focada em sua profissão, ela não jogaria o fruto fora. Provavelmente guardaria a casca, pedindo que Beto jogasse o caroço ali, pois aquilo "é dinheiro". Mas, como disse, são detalhes. Talvez incomode mais a possibilidade de romance entre os dois, inclusive com uma cena desnecessária, mas mesmo isso, não cai no clichê do melodrama.
O que nos prende em A Coleção Invisível é mesmo a trajetória de Beto, seus fantasmas e suas descobertas. A virada final da trama com algumas revelações e reviravoltas nos pegam de surpresa, da mesma forma que pegam o personagem, e assim como ele, nos sentimos perdidos ao mesmo tempo em que nos encontramos com o verdadeiro significado de tudo aquilo. Isto torna a jornada especial e nos faz sair do cinema com uma sensação boa.
A Coleção Invisível (A Coleção Invisível, Brasil / 2013)
Direção: Bernard Attal
Roteiro: Bernard Attal, Sergio Machado e Iziane Mascarenhas
Com: Vladimir Brichta, Clarisse Abujamra, Walmor Chagas, Ludmila Rosa, Frank Menezes, Wesley Macedo, Kadu Veiga, Ciro Sales e Conceicão Senna
Duração: 89 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Coleção Invisível
2013-09-07T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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