
Não quer dizer que também não exista no filme de Pedro Amorim algumas bobagens típicas de comédias descompromissadas, como o próprio protagonista Deco, interpretado por Bruno Gagliasso, que é um sujeito bobo e atrapalhado. Ou mesmo o seu primo, vivido por Danilo Gentili, em seu primeiro papel como ator, que vive nu pela casa, com piadas típicas do programa humorístico. Isso sem falar na personagem de Elke Maravilha, que faz uma velhinha paralisada em uma cadeira de rodas e não tem nenhuma função narrativa.
Mas, apesar de ter uma comédia romântica com o mote principal da história do casal Deco e Zoé, com o seu cachorro Guto, Mato Sem Cachorro tem um tom mais ácido, com a construção da ironia e até mesmo, uma pontinha crítica em relação ao universo do rádio. Um exemplo é a forma como eles citam e brincam com A Voz do Brasil, construindo uma pista e recompensa sutil, mas interessante, que critica exatamente a sua obrigatoriedade.

Porque chama a atenção em Mato Sem Cachorro o roteiro bem pensado e trabalhado para "dar certo". É uma típica comédia romântica, de rapaz conhece moça, rapaz perde moça, rapaz tenta recuperar moça. Mas, há elementos inseridos ali para atingir todos os públicos. O humor escrachado e ao mesmo tempo com pitadas críticas do CQC está representando em seus integrantes originais, Danilo Gentili, Rafinha Bastos e até Marcelo Tas em dose dupla em uma espécie de brincadeira ao estilo Armação Ilimitada. Há o romance, claro, na construção do casal. E há o cachorro. Ou melhor os cachorros, fofinhos para agradar e emocionar a todos.


Um dos maiores problemas do filme, no entanto, é o tempo. São quase duas horas de projeção. Muita coisa para um filme de comédia romântica. Cansa, estende demais as piadas e dá a sensação de que "já deu". Talvez isso tenha sido por causa da inexperiência do diretor, em seu primeiro longametragem. Quem já teve que montar um filme sabe como é difícil o time exato do corte, tendo que muitas vezes descartar "boas cenas" desnecessárias. Porém, não é nada que chegue a tornar o filme uma experiência ruim.
Mato Sem Cachorro não é uma grande obra. Mas, é uma luz que se destaca no mar das comédias nacionais atuais. Tem humor, tem inteligência, tem referências e tem todos os elementos que o público em geral gosta. Talvez você não se acabe de rir como em um stand up de Rafinha Bastos ou Danilo Gentili. Mas, este também não é o propósito do filme. Apesar do trailer besteirol, a trama que encontramos acaba sendo uma agradável surpresa.
Mato Sem Cachorro (Mato Sem Cachorro, 2013 / Brasil)
Direção: Pedro Amorim
Roteiro: André Pereira
Com: Bruno Gagliasso, Leandra Leal, Danilo Gentili, Letícia Isnard, Enrique Díaz, Felipe Rocha, Gabriela Duarte, Rafinha Bastos, Angela Leal e Flávio Migliaccio
Duração: 119 min.