O Menino da Floresta
Um menino e seu pai, vivendo na floresta quase como bichos. Sem nenhum contato com a civilização, apenas com os animais da floresta e, no caso do garoto, com os espíritos que ali habitam, que ele chama dos "além-mundo". Esta é a premissa de O Menino da Floresta, animação francesa que traz metáforas profundas sobre a humanidade e as relações familiares.
A animação em 2D simples traz um traço despojado, mais sujo, incomum do estilo atual, que tem algo dos mangás, até pelo olho grande dos personagens, apesar de não ser totalmente no estilo. E casa bem com a temática e clima do desenho que tem algumas cenas bastante fortes para um desenho infantil, relacionadas à forma agressiva com a qual o pai trata o seu filho.
Apesar de ser um garoto curioso, ele não pode sair da floresta. Segundo o seu pai, não existe nada além da floresta. É só ultrapassar a linha divisória que você some para sempre. O garoto passa, então, os dias caçando e conversando com seus amigos do Além-Mundo. O interessante é que eles possuem corpos humanos e cabeças de animais, não podem se comunicar de fato, apenas com gesto, o que dá um tom ainda mais estranho à animação.
O Menino da Floresta é, na verdade, uma grande fábula da busca de um filho pelo amor do seu pai. E da busca de aceitação dos seres humanas na sociedade. Por causa de um acidente após uma tempestade, pai e filho terão que burlar as próprias regras e ultrapassar o limite da floresta. Para o filho será a descoberta de outro mundo, para o pai será o enfrentar de mágoas e traumas passados.
É nesse ponto em que a complexidade da narrativa acaba atingindo muito mais os adultos que os filhos. Há o maniqueísmo fácil, na figura da malvada senhora que quer distorcer fatos. Enquanto que o médico e sua filha são os dispostos a enfrentar a sociedade pelo bem maior. Porém, há também críticas sutis ao exército e seus "heróis", ao julgamento da sociedade sem embasamento, da cólera cega, da injustiça. E claro, das relações familiares.
Isso sem falar na questão espiritual. Através do simbolismo dos animais como cabeça dos espíritos que vagam pela floresta. Como se, ao morrer, nos purificássemos e, por isso, nos tornássemos animais. A forma simples e pura com que os "além-mundo" ajudam o garoto em todos os momentos-chaves de sua jornada, chama a atenção. Até no ensinar a caçar para ter o que comer e não apanhar do pai.
A animação em si, é bastante simples. Pouca movimentação, com utilização de muitas paisagens estáticas. Porém, a forma como a narrativa nos conduz, nos envolve, emociona e cria uma empatia fácil. Principalmente, pelo garoto e sua amiguinha Manon.
O Menino da Floresta é daqueles filmes que nos levam a um local especial. Um filme tocante, com diversas camadas, que parte de uma história teoricamente já manjada: o ser animalizado que se choca com os costumes da sociedade. Mas, vai além, criando outras nuanças próprias. Uma bela e agradável surpresa.
* Filme Visto no 11º FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil
O Menino da Floresta (Le Jour des Corneilles, 2013 / França)
Direção: Jean-Christophe Dessaint
Roteiro: Jean-François Beauchemin, Amandine Taffin
Duração: 96 min.
A animação em 2D simples traz um traço despojado, mais sujo, incomum do estilo atual, que tem algo dos mangás, até pelo olho grande dos personagens, apesar de não ser totalmente no estilo. E casa bem com a temática e clima do desenho que tem algumas cenas bastante fortes para um desenho infantil, relacionadas à forma agressiva com a qual o pai trata o seu filho.
Apesar de ser um garoto curioso, ele não pode sair da floresta. Segundo o seu pai, não existe nada além da floresta. É só ultrapassar a linha divisória que você some para sempre. O garoto passa, então, os dias caçando e conversando com seus amigos do Além-Mundo. O interessante é que eles possuem corpos humanos e cabeças de animais, não podem se comunicar de fato, apenas com gesto, o que dá um tom ainda mais estranho à animação.
O Menino da Floresta é, na verdade, uma grande fábula da busca de um filho pelo amor do seu pai. E da busca de aceitação dos seres humanas na sociedade. Por causa de um acidente após uma tempestade, pai e filho terão que burlar as próprias regras e ultrapassar o limite da floresta. Para o filho será a descoberta de outro mundo, para o pai será o enfrentar de mágoas e traumas passados.
É nesse ponto em que a complexidade da narrativa acaba atingindo muito mais os adultos que os filhos. Há o maniqueísmo fácil, na figura da malvada senhora que quer distorcer fatos. Enquanto que o médico e sua filha são os dispostos a enfrentar a sociedade pelo bem maior. Porém, há também críticas sutis ao exército e seus "heróis", ao julgamento da sociedade sem embasamento, da cólera cega, da injustiça. E claro, das relações familiares.
Isso sem falar na questão espiritual. Através do simbolismo dos animais como cabeça dos espíritos que vagam pela floresta. Como se, ao morrer, nos purificássemos e, por isso, nos tornássemos animais. A forma simples e pura com que os "além-mundo" ajudam o garoto em todos os momentos-chaves de sua jornada, chama a atenção. Até no ensinar a caçar para ter o que comer e não apanhar do pai.
A animação em si, é bastante simples. Pouca movimentação, com utilização de muitas paisagens estáticas. Porém, a forma como a narrativa nos conduz, nos envolve, emociona e cria uma empatia fácil. Principalmente, pelo garoto e sua amiguinha Manon.
O Menino da Floresta é daqueles filmes que nos levam a um local especial. Um filme tocante, com diversas camadas, que parte de uma história teoricamente já manjada: o ser animalizado que se choca com os costumes da sociedade. Mas, vai além, criando outras nuanças próprias. Uma bela e agradável surpresa.
* Filme Visto no 11º FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil
O Menino da Floresta (Le Jour des Corneilles, 2013 / França)
Direção: Jean-Christophe Dessaint
Roteiro: Jean-François Beauchemin, Amandine Taffin
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Menino da Floresta
2013-10-06T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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