Tokyo Godfathers
Sem querer fazer propaganda, mas o Netflix é mesmo um presente para cinéfilos, inclusive para termos acesso a filmes que nem estrearam no Brasil. Tokyo Godfathers, que em tradução livre seria Padrinhos de Tokyo é uma animação emocionante, que tem o Natal como pano de fundo e uma bela mensagem de amor.
O escolhi para este dia em que nos preparamos para a ceia de Natal, exatamente por essa mensagem. Na trama, são questionados os valores familiares, as escolhas de vida, as possibilidades de perdão e o amor incondicional que nos une. Tudo isso, é o que precisamos não apenas hoje, mas sempre. Mesmo que vindo de uma maneira torta como neste filme.
Acompanhamos a trajetória de três sem teto, um homem magoado pelo passado, um travesti que quer se sentir uma mulher e uma jovem que fugiu da casa dos pais por causa de um ato de desespero. Os três vivem como uma espécie de família e, na noite de Natal, encontram no lixo uma bebezinha que passam a chamar de Kiyoko. Como cuidar de uma bebê sendo sem teto? Porém, enquanto procuram seus pais verdadeiros, o trio irá se deparar com diversas situações que evoca o passado de cada um deles.
O filme não é sobre Natal ainda que aconteça nele. Mas, é um filme sobre seres humanos e seus sentimentos complexos. É interessante a forma como a cultura oriental consegue trabalhar isso de uma maneira profunda em animações. Vemos ali diversas questões que são comuns a maioria das pessoas. Sofremos e nos encantamos junto com eles. Refletimos sobre nossa própria história.
Em determinado momento, a travesti Hana diz que "o amor faz dizermos verdades sem medo". É a pura verdade, quando amamos uma pessoa, acabamos falando sem tantos filtros, e até por isso, magoamos mais facilmente aqueles que menos queríamos magoar. Enquanto que com outras pessoas, somos mais polidos, pensamos antes, não temos a coragem de sermos verdadeiros. Isso é contraditório, e próprio do ser humano.
Hana foi abandonada pelos pais e sofre até hoje com isso. Por isso, se apega tanto à pequena Kiyoko, que também foi abandonada. "Ela" só quer saber o porquê de ato tão cruel. Ao mesmo tempo que se sente "mãe" do bebê, dando-lhe amor e cuidados. A cena em que "ela" lhe dá leite é linda.
Já Gin, apesar de ser o "homem" da família, está sempre reclamando e tentando se desvencilhar. Seu passado também é problemático, perdeu a família, perdeu todas as posses e se jogou na bebida, sempre se maldizendo. Durante o percurso, vamos conhecendo melhor sua história, mas uma cena interessante é quando ele encontra um velho bêbado e doente na rua. A forma como ele se vê espelhado em alguns anos, é muito boa e sutil.
Por fim, tem a jovem Miyuki, que fugiu de casa e, aos poucos, vamos entendendo também o porquê de tal ato. Com ela, temos uma noção do quanto um problema pequeno pode se tornar imenso ao não conseguirmos ver com calma a realidade. A cena no metrô, quando ela avisa o pai é muito boa em toda a sua concepção. O desespero dela, o pai desesperado também no outro trem, o bebê chorando, as pessoas com nojo deles por causa do cheiro. Uma confusão intensa que reflete a confusão interna da menina.
Tokyo Godfathers é uma animação que envolve e emociona, nos fazendo refletir sobre nossas atitudes e nossos vínculos familiares. É sempre uma boa forma de começar os festejos de Natal. E um Feliz Natal a todos.
Tokyo Godfathers (Tokyo Godfathers, 2003/ Japão)
Direção: Satoshi Kon, Shôgo Furuya
Roteiro: Satoshi Kon, Keiko Nobumoto
Duração: 93 min.
O escolhi para este dia em que nos preparamos para a ceia de Natal, exatamente por essa mensagem. Na trama, são questionados os valores familiares, as escolhas de vida, as possibilidades de perdão e o amor incondicional que nos une. Tudo isso, é o que precisamos não apenas hoje, mas sempre. Mesmo que vindo de uma maneira torta como neste filme.
Acompanhamos a trajetória de três sem teto, um homem magoado pelo passado, um travesti que quer se sentir uma mulher e uma jovem que fugiu da casa dos pais por causa de um ato de desespero. Os três vivem como uma espécie de família e, na noite de Natal, encontram no lixo uma bebezinha que passam a chamar de Kiyoko. Como cuidar de uma bebê sendo sem teto? Porém, enquanto procuram seus pais verdadeiros, o trio irá se deparar com diversas situações que evoca o passado de cada um deles.
O filme não é sobre Natal ainda que aconteça nele. Mas, é um filme sobre seres humanos e seus sentimentos complexos. É interessante a forma como a cultura oriental consegue trabalhar isso de uma maneira profunda em animações. Vemos ali diversas questões que são comuns a maioria das pessoas. Sofremos e nos encantamos junto com eles. Refletimos sobre nossa própria história.
Em determinado momento, a travesti Hana diz que "o amor faz dizermos verdades sem medo". É a pura verdade, quando amamos uma pessoa, acabamos falando sem tantos filtros, e até por isso, magoamos mais facilmente aqueles que menos queríamos magoar. Enquanto que com outras pessoas, somos mais polidos, pensamos antes, não temos a coragem de sermos verdadeiros. Isso é contraditório, e próprio do ser humano.
Hana foi abandonada pelos pais e sofre até hoje com isso. Por isso, se apega tanto à pequena Kiyoko, que também foi abandonada. "Ela" só quer saber o porquê de ato tão cruel. Ao mesmo tempo que se sente "mãe" do bebê, dando-lhe amor e cuidados. A cena em que "ela" lhe dá leite é linda.
Já Gin, apesar de ser o "homem" da família, está sempre reclamando e tentando se desvencilhar. Seu passado também é problemático, perdeu a família, perdeu todas as posses e se jogou na bebida, sempre se maldizendo. Durante o percurso, vamos conhecendo melhor sua história, mas uma cena interessante é quando ele encontra um velho bêbado e doente na rua. A forma como ele se vê espelhado em alguns anos, é muito boa e sutil.
Por fim, tem a jovem Miyuki, que fugiu de casa e, aos poucos, vamos entendendo também o porquê de tal ato. Com ela, temos uma noção do quanto um problema pequeno pode se tornar imenso ao não conseguirmos ver com calma a realidade. A cena no metrô, quando ela avisa o pai é muito boa em toda a sua concepção. O desespero dela, o pai desesperado também no outro trem, o bebê chorando, as pessoas com nojo deles por causa do cheiro. Uma confusão intensa que reflete a confusão interna da menina.
Tokyo Godfathers é uma animação que envolve e emociona, nos fazendo refletir sobre nossas atitudes e nossos vínculos familiares. É sempre uma boa forma de começar os festejos de Natal. E um Feliz Natal a todos.
Tokyo Godfathers (Tokyo Godfathers, 2003/ Japão)
Direção: Satoshi Kon, Shôgo Furuya
Roteiro: Satoshi Kon, Keiko Nobumoto
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tokyo Godfathers
2013-12-24T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|cinema asiático|critica|drama|Satoshi Kon|Shôgo Furuya|
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