
A trama parte da ainda inédita graphic novel "Xerxes", mas não se prende no prelúdio da história de 300 de Esparta, mantendo boa parte da trama em paralelo à batalha liderada por Leônidas. Xerxes não apenas perdeu o título do filme, que Snyder preferiu apostar na força da marca 300, como não é o protagonista da trama, centrado em Artemisia, a grega que comandou o exército persa, e Temístocles, o herói grego que matou o rei Dario.

Ainda que belo e bem desenvolvido, esta escolha estética nos dá esse distanciamento, algo longe do real. Ainda que baseado na história antiga, tudo soa falso e exagerado. Muitos planos são tão trabalhados que nos dão a impressão de pinturas, ilustrações saídas da própria HQ. Belíssimos, sendo capaz de efeitos estéticos impressionantes, mas que nos deixam distantes da trama e dos personagens, sendo apenas observadores pacíficos daquela violência transformada em arte.

Democracia essa que qualquer pessoa que tenha estudado História Antiga sabe que não é assim tão bela. Havia limitações e um pequeno e privilegiado grupo seleto chamado de cidadãos para quem a lei e direitos era assegurada. E essa questão é levantada, ainda que de leve, pela personagem Artemisia. Sua força, sua história pregressa de sofrimento, sua sede de vingança acabam por nos fazer simpatizar um pouco com a personagem, que apesar de colocada no lugar de vilã, nos mostra uma verdade. Não por acaso o historiador Heródoto exalta suas qualidades, e claro, Frank Miller também se inspirou nisso.

É interessante também perceber todo o esforço de Zack Snyder em manter a lembrança de Esparta e seus trezentos guerreiros viva. Não apenas no título do filme, que é extremamente comercial, como na própria costura da trama, na forma como inicia, nas constantes lembranças e até na inserção da sua mais famosa frase ("This is Sparta") tendo o mesmo cenário ao fundo.
300: A Ascensão do Império acaba sendo uma expansão do universo, nos mostrando toda a magnitude daquelas batalhas. Com uma estética parecida e muitas cenas belas. Carece, no entanto, de alma e concisão em sua história. Nos dando pouco diante de tudo que poderia ser desenvolvido. Inclusive do rei Xerxes que se torna alegoria quase descartável naquele que também deveria ser seu filme.
300: A Ascensão do Império (300: Rise of an Empire, 2014 / EUA)
Direção: Noam Murro
Roteiro: Zack Snyder, Kurt Johnstad
Com: Sullivan Stapleton, Rodrigo Santoro, Eva Green, Lena Headey
Duração: 102 min.