
Tudo tem início com um encontro de sete amigos em uma casa de campo de um deles. A ideia era escrever uma carta que deveria ser aberta apenas dez anos depois. Mas, o tempo é sempre um pegador de peças e quando eles se reencontram no mesmo lugar para cumprir a promessa muita coisa aconteceu. Inclusive a morte de um deles, com consequências, feridas e escolhas que podem trazer grandes problemas.

O que parece uma inserção simples, quase leviana, traduz muito daqueles jovens e de nosso país. De um Lula que ainda era esperança de uma esquerda que nunca se viu no poder, do medo da direita de perder a estabilidade conquistada. E ao mesmo tempo traduz o que cada indivíduo sentia ali, com seus próprios medos, suas escolhas, seus sonhos frustados. Quando somos jovens, sempre achamos que podemos mudar o mundo. E depois ficamos nos perguntando o que aconteceu conosco, com nossa acomodação, nossos desvios.

A atuações também são dignas de elogio. Todos os sete atores estão muito bem, entregues aos personagens, passando a verdade de cada um deles. Destaque para o casal vivido por Júlio Andrade e Martha Nowill que estão em eterno clima de briga, mas que não desmerece nenhum dos outros. Uma das cenas mais fortes e bem conduzidas, por exemplo, acontece entre Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena em um balanço. O drama do personagem de Caio Blat também é intenso e o ator conduz bem isso.

Entre Nós é mais do que um filme sobre jovens amigos e o tempo. É um retrato de sensações, pensamentos, dúvidas, escolhas, construídos de uma maneira incrivelmente bem feita. Já vi pessoas comparando aos filmes argentinos. Mas, como já disse, na verdade, o que ele tem dos hermanos é exatamente o fato de ser um drama psicológico e não mais os diversos dramas sociais que já tivemos. Ainda assim, traz uma identidade própria que, torço, seja uma porta a mais no nosso cinema.
Entre Nós (Brasil, 2014)
Direção: Paulo Morelli, Pedro Morelli
Roteiro: Paulo Morelli, Pedro Morelli
Com: Júlio Andrade, Caio Blat, Carolina Dieckmann, Martha Nowill, Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Lee Taylor
Duração: 100 min.