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Stanley Kubrick
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Nascido Para Matar
Nascido Para Matar
A cena final de Nascido para Matar resume sua essência irônica em uma inversão da visão comum em filmes de guerra. Não estamos vendo aqui heróis em causas nobres, mas um grande circo de dominação norte-americana sobre o mundo, que merece reflexão.
O filme é dividido em duas partes, o treinamento do batalhão de fuzileiros navais comandadas pelo sargento Hartman. E a guerra em si, a partir da visão do correspondente Soldado "Joker".
Muitos criticam que parecem dois filmes, onde a segunda parte seria inferior pela força dos personagens apresentados na primeira. Discordo. Revendo o filme recentemente no cinema, parece ainda mais bem construída essas duas etapas. A ironia da preparação com a defrontação com a realidade é extremamente eficiente. Uma não funcionaria sem a outra. É nesse jogo de o que Hartman ensina e do que "Joker" aprende que está boa parte da maestria do filme.
Aliás, a ironia da criação do personagem "Joker" já é um grande destaque. Sua configuração no início do treinamento, a forma como demonstra compreender aquele jogo e tentar sobreviver com as armas que tem, a ajuda ao soldado Pyle. Tudo é muito bem construído. E, na segunda parte, dois símbolos o definem de uma maneira incrível. O capacete com os dizeres "nascido para matar" e o broche no peito com o símbolo de paz e amor. Isso sem falar em seu "nome", "Joker".
A ironia também está presente no discurso e nos objetos de cena. Na primeira parte, nas letras das "músicas" que o sargento faz o batalhão cantar durante os treinos. Na segunda parte, nos cartazes e bonecos que compõem a cena na sala de reuniões. Esses detalhes fazem a cena final não parecer estranha ou mesmo gratuita, tudo vai sendo construído de uma maneira extremamente inteligente em seu subtexto.
A evolução do treinamento cruel do sargento que vai desumanizando sua tropa, principalmente o soldado Pyle, apontado como um perdedor, cria esse viés irônico de ter como resultado um homem que traz o mínimo de humanidade, mas sabe sobreviver na realidade apresentada, vide a cena do helicóptero em que o novato passa mal, enquanto ele apenas observa a atitude de outro soldado.
Se não bastasse toda essa construção textual e de personagens, Kubrick ainda nos brinda com escolhas perfeitas em seu perfeccionismo já conhecido. Todos os enquadramentos da primeira fase são cuidadosamente encaixados como molduras claustrofóbicas. A forma como o sargento é filmado também com a câmera baixa amplia sua força, contrastando com a cena da virada. Já no Vietnã, vemos pouco de guerra e explosões, mas a expectativa é trabalhada de uma maneira instigante, nos mostrando a visão dos soldados escondidos.
Penúltimo filme de Kubrick, não por acaso, Nascido Para Matar é considerado por muitos sua obra-prima. Um filme bem construído que diz exatamente a que veio, nos brindando com cenas memoráveis.
Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987 / EUA)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Michael Herr e Gustav Hasford
Com: Matthew Modine, R. Lee Ermey, Vincent D'Onofrio
Duração: 116 min.
O filme é dividido em duas partes, o treinamento do batalhão de fuzileiros navais comandadas pelo sargento Hartman. E a guerra em si, a partir da visão do correspondente Soldado "Joker".
Muitos criticam que parecem dois filmes, onde a segunda parte seria inferior pela força dos personagens apresentados na primeira. Discordo. Revendo o filme recentemente no cinema, parece ainda mais bem construída essas duas etapas. A ironia da preparação com a defrontação com a realidade é extremamente eficiente. Uma não funcionaria sem a outra. É nesse jogo de o que Hartman ensina e do que "Joker" aprende que está boa parte da maestria do filme.
Aliás, a ironia da criação do personagem "Joker" já é um grande destaque. Sua configuração no início do treinamento, a forma como demonstra compreender aquele jogo e tentar sobreviver com as armas que tem, a ajuda ao soldado Pyle. Tudo é muito bem construído. E, na segunda parte, dois símbolos o definem de uma maneira incrível. O capacete com os dizeres "nascido para matar" e o broche no peito com o símbolo de paz e amor. Isso sem falar em seu "nome", "Joker".
A ironia também está presente no discurso e nos objetos de cena. Na primeira parte, nas letras das "músicas" que o sargento faz o batalhão cantar durante os treinos. Na segunda parte, nos cartazes e bonecos que compõem a cena na sala de reuniões. Esses detalhes fazem a cena final não parecer estranha ou mesmo gratuita, tudo vai sendo construído de uma maneira extremamente inteligente em seu subtexto.
A evolução do treinamento cruel do sargento que vai desumanizando sua tropa, principalmente o soldado Pyle, apontado como um perdedor, cria esse viés irônico de ter como resultado um homem que traz o mínimo de humanidade, mas sabe sobreviver na realidade apresentada, vide a cena do helicóptero em que o novato passa mal, enquanto ele apenas observa a atitude de outro soldado.
Se não bastasse toda essa construção textual e de personagens, Kubrick ainda nos brinda com escolhas perfeitas em seu perfeccionismo já conhecido. Todos os enquadramentos da primeira fase são cuidadosamente encaixados como molduras claustrofóbicas. A forma como o sargento é filmado também com a câmera baixa amplia sua força, contrastando com a cena da virada. Já no Vietnã, vemos pouco de guerra e explosões, mas a expectativa é trabalhada de uma maneira instigante, nos mostrando a visão dos soldados escondidos.
Penúltimo filme de Kubrick, não por acaso, Nascido Para Matar é considerado por muitos sua obra-prima. Um filme bem construído que diz exatamente a que veio, nos brindando com cenas memoráveis.
Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987 / EUA)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, Michael Herr e Gustav Hasford
Com: Matthew Modine, R. Lee Ermey, Vincent D'Onofrio
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Nascido Para Matar
2014-10-13T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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