FICI: O Pequeno Jornalista
Primeiro fim de semana do FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil em Salvador e Aracaju tem um saldo positivo. Aproveitando o Dia das Crianças, várias salas lotaram para ver as atrações inéditas e reprises de sucesso como Frozen, Hotel Transilvânia, Meu Malvado Favorito 2, entre outros. Mas, o que acho bom mesmo no FICI é a possibilidade de descobrir novos filmes e experimentar.
O próximo fim de semana guarda bons momentos como a pré-estreia nacional de Até que a Sbórnia nos Separe. E as sessões de dublagem ao vivo, que sempre traz excelentes profissionais para dublarem o filme ao vivo, durante a sessão. Uma oportunidade de perceber o trabalho deles, a capacidade de fazerem diversas vozes e a reação das crianças ao reconhecerem algumas vozes de personagens preferidos. Nunca esqueço uma dessas sessões, quando uma menininha do meu lado ouviu a "voz" do Bob Esponja.
Falando em reações, essa é a parte mais bacana de participar do FICI e da sessão O Pequeno Jornalista que conduzi pela terceira vez ao lado de Amenar Costa. No primeiro ano, discutimos sobre a animação Zarafa, ano passado foi O Menino da Floresta. Esse ano, foi o primeiro live action, Uma Viagem Extraordinária de Jean-Pierre Jeunet e acho que foi a melhor experiência de todas. Não apenas pelo filme, mas pelas reações da plateia e a discussão após a sessão.
A começar pelo 3D, muitas das crianças presentes nunca tinham visto um filme 3D na vida. Desde a vinheta de abertura pudemos ouvir os gritos e sussurros de surpresa e animação. E toda a sessão foi repleta de atenção e emoções. A turma da tarde foi mais entusiasmada que a da manhã, vibraram com a resolução e bateram muitas palmas no final. Mas, a da manhã, acabou gerando discussões mais envolventes.
T.S. Spivet é um garotinho diferente, superdotado e o filme de Jean-Pierre Jeunet não tem uma linguagem tão fácil. Repleto de referências do mundo adulto e construções paralelas entre realidade e imaginação que pode confundir os mais pequenos. Ainda assim, eles captaram a essência da trama: a busca por um sonho, os valores familiares, as dificuldades da vida. Ao ser questionada sobre a parte que mais gostou, uma garotinha respondeu "a parte do trem, pois foi quando ele resolveu ir atrás do sonho dele".
A questão da culpa de T.S. em relação a morte do irmão, foi outro ponto bastante discutido. É sempre delicado discutir morte com crianças, mas como disse uma das professoras presentes é também fundamental fazê-los entender essas questões da vida e a questão do luto. "Eles acham que os adultos não tem luto, e o filme mostra que os pais também sofriam com isso, mas não culpavam o outro filho".
É surpreendente como eles percebiam a questão da rejeição que T.S. sentia por não ser o filho preferido do pai e por se sentir culpado pela morte daquele que merecia ser o herdeiro da fazenda. Da mesma forma que a relação com a mãe parecia sempre distante, apesar de serem tão parecidos. Pela tarde, um garotinho perguntou diretamente "mas, porque o irmão dele morreu?" E usamos partes do filme para demonstrar a questão do acidente e na fala da mãe ao dizer com todas as letras "E deixar duas crianças com uma arma, sem supervisão, é correto? Não foi sua culpa, T.S."
E mesmo com nuanças sobre o os mistérios da vida, as crianças presentes demonstraram saber os limites do certo e errado. Quando eu perguntei se ele precisava ter mentido ou fugido para ir em busca do seu sonho, todos gritaram em coro "não". Na fantasia de T.S., ele não era digno da família e ninguém apoiaria seu sonho de ser cientista. Mas, a realidade demonstrou que poderia ser bem diferente. Não por acaso, muitos disseram que o momento preferido foi quando o pai foi buscar o menino na televisão.
Além de discutir a trama, buscamos também na sessão, falar um pouco sobre o trabalho do jornalista, explicar o que é uma reportagem, uma entrevista e uma crítica de filme. Além de chamar a atenção para a produção de um filme e os demais elementos. No caso de Uma Viagem Extraordinária falamos ainda do 3D, da forma de projeção, do óculos, até mesmo aproveitando o bom uso do mesmo no filme em questão. Mostramos também a importância da fotografia, da trilha e do trabalho de atores. Uma forma de mostrar a eles que o filme visto tem um trabalho imenso de bastidores que merece ser valorizado. Até por isso, começamos a falar mesmo só após os créditos.
Discutir um filme com crianças, mostrando a elas um pouco mais da história que acabaram de ver, refletindo sobre isso e não apenas indo embora, é sempre uma experiência gratificante. O bom cinema não é aquele que acaba quando acendem as luzes, mas o que carregamos conosco por mais tempo.
O próximo fim de semana guarda bons momentos como a pré-estreia nacional de Até que a Sbórnia nos Separe. E as sessões de dublagem ao vivo, que sempre traz excelentes profissionais para dublarem o filme ao vivo, durante a sessão. Uma oportunidade de perceber o trabalho deles, a capacidade de fazerem diversas vozes e a reação das crianças ao reconhecerem algumas vozes de personagens preferidos. Nunca esqueço uma dessas sessões, quando uma menininha do meu lado ouviu a "voz" do Bob Esponja.
Falando em reações, essa é a parte mais bacana de participar do FICI e da sessão O Pequeno Jornalista que conduzi pela terceira vez ao lado de Amenar Costa. No primeiro ano, discutimos sobre a animação Zarafa, ano passado foi O Menino da Floresta. Esse ano, foi o primeiro live action, Uma Viagem Extraordinária de Jean-Pierre Jeunet e acho que foi a melhor experiência de todas. Não apenas pelo filme, mas pelas reações da plateia e a discussão após a sessão.
A começar pelo 3D, muitas das crianças presentes nunca tinham visto um filme 3D na vida. Desde a vinheta de abertura pudemos ouvir os gritos e sussurros de surpresa e animação. E toda a sessão foi repleta de atenção e emoções. A turma da tarde foi mais entusiasmada que a da manhã, vibraram com a resolução e bateram muitas palmas no final. Mas, a da manhã, acabou gerando discussões mais envolventes.
T.S. Spivet é um garotinho diferente, superdotado e o filme de Jean-Pierre Jeunet não tem uma linguagem tão fácil. Repleto de referências do mundo adulto e construções paralelas entre realidade e imaginação que pode confundir os mais pequenos. Ainda assim, eles captaram a essência da trama: a busca por um sonho, os valores familiares, as dificuldades da vida. Ao ser questionada sobre a parte que mais gostou, uma garotinha respondeu "a parte do trem, pois foi quando ele resolveu ir atrás do sonho dele".
A questão da culpa de T.S. em relação a morte do irmão, foi outro ponto bastante discutido. É sempre delicado discutir morte com crianças, mas como disse uma das professoras presentes é também fundamental fazê-los entender essas questões da vida e a questão do luto. "Eles acham que os adultos não tem luto, e o filme mostra que os pais também sofriam com isso, mas não culpavam o outro filho".
É surpreendente como eles percebiam a questão da rejeição que T.S. sentia por não ser o filho preferido do pai e por se sentir culpado pela morte daquele que merecia ser o herdeiro da fazenda. Da mesma forma que a relação com a mãe parecia sempre distante, apesar de serem tão parecidos. Pela tarde, um garotinho perguntou diretamente "mas, porque o irmão dele morreu?" E usamos partes do filme para demonstrar a questão do acidente e na fala da mãe ao dizer com todas as letras "E deixar duas crianças com uma arma, sem supervisão, é correto? Não foi sua culpa, T.S."
E mesmo com nuanças sobre o os mistérios da vida, as crianças presentes demonstraram saber os limites do certo e errado. Quando eu perguntei se ele precisava ter mentido ou fugido para ir em busca do seu sonho, todos gritaram em coro "não". Na fantasia de T.S., ele não era digno da família e ninguém apoiaria seu sonho de ser cientista. Mas, a realidade demonstrou que poderia ser bem diferente. Não por acaso, muitos disseram que o momento preferido foi quando o pai foi buscar o menino na televisão.
Além de discutir a trama, buscamos também na sessão, falar um pouco sobre o trabalho do jornalista, explicar o que é uma reportagem, uma entrevista e uma crítica de filme. Além de chamar a atenção para a produção de um filme e os demais elementos. No caso de Uma Viagem Extraordinária falamos ainda do 3D, da forma de projeção, do óculos, até mesmo aproveitando o bom uso do mesmo no filme em questão. Mostramos também a importância da fotografia, da trilha e do trabalho de atores. Uma forma de mostrar a eles que o filme visto tem um trabalho imenso de bastidores que merece ser valorizado. Até por isso, começamos a falar mesmo só após os créditos.
Discutir um filme com crianças, mostrando a elas um pouco mais da história que acabaram de ver, refletindo sobre isso e não apenas indo embora, é sempre uma experiência gratificante. O bom cinema não é aquele que acaba quando acendem as luzes, mas o que carregamos conosco por mais tempo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
FICI: O Pequeno Jornalista
2014-10-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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