Os Boxtrolls
Baseado no livro "Here Be Monsters!" de Alan Snow, Os Boxtrolls é uma animação encantadora sobre a inversão dos conceitos de uma humanidade que parece ter perdido o sentido em uma inversão de valores assustadora.
A fábula é construída a partir de um órfão criado por estranhas criaturas no esgoto da cidade de Ponte Queijo. Nela, os nobres são diferenciados por chapéus brancos e tem o privilégio de degustarem os melhores queijos locais, sonho do vilão Archibald Snatcher. Para realizar esse sonho, ele caça impiedosamente as criaturas, alegando que são monstros perigosos que comem crianças e queijos. Mas, quando os boxtrolls começam a sumir, o garotinho começa a despertar para necessidade de fazer algo.
O mundo fantástico criado pela Laika Entertainment aqui se assemelha muito aos seus outros longametragens, ParaNorman, Coraline e o Mundo Secreto, A Noiva Cadáver, que mesmo com diretores tão díspares trazem os mesmo traços de um universo que flerta com o sombrio, a maldição e a morte de maneira bastante natural e bem construída.
Chama a atenção em Os Boxtrolls, o maniqueísmo dos seres humanos; mesmo personagens que acabam sendo adjuvantes do protagonista, possuem traços de egoísmo explícitos. A ponto de, em uma cena, um pai não dar a atenção ao risco alertado por sua filha, por causa de um queijo gigante que rola escada abaixo. A ironia com que se constrói essa sociedade de homens ociosos que comem queijo e uma sociedade que vive em função de uma mentira, nos faz pensar.
Aliás, o retorno do menino à superfície me lembrou a trama de Dias Gomes, Roque Santeiro. Ele que se tornou lenda como o bebê que foi sequestrado e devorado pelos terríveis boxtrolls, estava ali, ouvindo os absurdos contados sobre sua própria vida, sem entender ao certo como tudo aconteceu. A forma como o personagem é construído, agindo como um boxtroll quando se sente ameaçado, por exemplo, é muito bem feito.
Como bem feita é a animação como um todo. Os detalhes de produção como a vitrola em que o garoto e seu pai adotivo, Peixe, ouvem e fazem música. A pilha de caixas ao dormir, com o menino no topo. A sequência que mostra a diminuição dessas caixas é um dos momentos mais sensíveis da trama. A relação dos boxtrolls são de uma verdadeira família, ao contrário dos humanos que parecem robotizados e insensíveis.
É interessante também que o nome de cada personagem seja atribuído pela figura que está em sua caixa. Peixe tem um peixe desenhado, enquanto Chulé tem um sapato, e assim, por diante. O garotinho órfão também veste uma caixa com um desenho de um ovo, nome pelo qual os boxtrolls o chamam. O nome, por sinal, é a única coisa que eles falam em nossa língua, o resto é um dialeto estranho que só Ovo entende.
Os Boxtrolls é uma animação sensível e bem construída que traz valores familiares, de amizade e de superação. O que o torna diferente é que esses valores não são passados pelos seres humanos, mas por criaturinhas estranhas e encantadoras.
Os Boxtrolls (The Boxtrolls, 2014 / EUA)
Direção: Graham Annable, Anthony Stacchi
Roteiro: Irena Brignull, Adam Pava
Duração: 96 min.
A fábula é construída a partir de um órfão criado por estranhas criaturas no esgoto da cidade de Ponte Queijo. Nela, os nobres são diferenciados por chapéus brancos e tem o privilégio de degustarem os melhores queijos locais, sonho do vilão Archibald Snatcher. Para realizar esse sonho, ele caça impiedosamente as criaturas, alegando que são monstros perigosos que comem crianças e queijos. Mas, quando os boxtrolls começam a sumir, o garotinho começa a despertar para necessidade de fazer algo.
O mundo fantástico criado pela Laika Entertainment aqui se assemelha muito aos seus outros longametragens, ParaNorman, Coraline e o Mundo Secreto, A Noiva Cadáver, que mesmo com diretores tão díspares trazem os mesmo traços de um universo que flerta com o sombrio, a maldição e a morte de maneira bastante natural e bem construída.
Chama a atenção em Os Boxtrolls, o maniqueísmo dos seres humanos; mesmo personagens que acabam sendo adjuvantes do protagonista, possuem traços de egoísmo explícitos. A ponto de, em uma cena, um pai não dar a atenção ao risco alertado por sua filha, por causa de um queijo gigante que rola escada abaixo. A ironia com que se constrói essa sociedade de homens ociosos que comem queijo e uma sociedade que vive em função de uma mentira, nos faz pensar.
Aliás, o retorno do menino à superfície me lembrou a trama de Dias Gomes, Roque Santeiro. Ele que se tornou lenda como o bebê que foi sequestrado e devorado pelos terríveis boxtrolls, estava ali, ouvindo os absurdos contados sobre sua própria vida, sem entender ao certo como tudo aconteceu. A forma como o personagem é construído, agindo como um boxtroll quando se sente ameaçado, por exemplo, é muito bem feito.
Como bem feita é a animação como um todo. Os detalhes de produção como a vitrola em que o garoto e seu pai adotivo, Peixe, ouvem e fazem música. A pilha de caixas ao dormir, com o menino no topo. A sequência que mostra a diminuição dessas caixas é um dos momentos mais sensíveis da trama. A relação dos boxtrolls são de uma verdadeira família, ao contrário dos humanos que parecem robotizados e insensíveis.
É interessante também que o nome de cada personagem seja atribuído pela figura que está em sua caixa. Peixe tem um peixe desenhado, enquanto Chulé tem um sapato, e assim, por diante. O garotinho órfão também veste uma caixa com um desenho de um ovo, nome pelo qual os boxtrolls o chamam. O nome, por sinal, é a única coisa que eles falam em nossa língua, o resto é um dialeto estranho que só Ovo entende.
Os Boxtrolls é uma animação sensível e bem construída que traz valores familiares, de amizade e de superação. O que o torna diferente é que esses valores não são passados pelos seres humanos, mas por criaturinhas estranhas e encantadoras.
Os Boxtrolls (The Boxtrolls, 2014 / EUA)
Direção: Graham Annable, Anthony Stacchi
Roteiro: Irena Brignull, Adam Pava
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Boxtrolls
2014-10-06T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|Anthony Stacchi|aventura|critica|Graham Annable|infantil|oscar 2015|
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