A Pele de Vênus
Baseado na peça de David Ives, Roman Polanski nos dá uma experiência fílmica incrível tendo apenas um teatro como cenário e dois atores em cena.
Thomas Novachek está planejando montar sua primeira peça, baseada na obra de Sacher Masoch, mas não consegue encontrar a atriz ideal para interpretar sua protagonista. Em uma noite chuvosa, já fechando o teatro ele recebe a atriz Vanda Jourdain que pretende provar ser ideal para o papel. Ele só não tinha ideia do quanto.
O filme é um grande jogo de artes e metalinguagem. Uma peça baseada na literatura, que por sua vez está se tornando um filme em nossa frente. É curioso como as três artes se misturam e se completam em cena através do texto, da interpretação dos dois atores e da câmera de Polanski que consegue nos dar os momentos exatos de tensão, drama e ironia.
Apesar de ser filmado em um teatro, tendo boa parte da ação no palco, o filme é extremamente cinematográfico. As luzes e cenários se misturam a tempestade lá fora que é possível de ver entre frestas e a mise-en-scène se completa com os dois se colocando nesse inusitado cenário. Os detalhes vão dando a riqueza da obra, como quando Mathieu Amalric, que interpreta Thomas, aponta para um cacto e diz que ali está a Vênus deles e a câmera dá um travelling vertical no objeto fálico.
A montagem também é bastante feliz, como o primeiro momento de virada na trama. Thomas até então, considera Vanda mais uma pedra em seu sapato, só quer se livrar dela, mas ao abrir a boca para a primeira fala da peça, ele se encanta. Vemos isso no olhar do ator quase em close enquanto ouvimos a voz de Emmanuelle Seigner. Isso depois de uma montagem em paralelo dela se preparando e dele irritado.
O palco fica pequeno e nos transportamos para o século XVIII e para a realidade daqueles dois com muita facilidade, principalmente pelas quebras nos diálogos que misturam as falas da peça com os comentários de Vanda questionando aquilo tudo. Machista, misógino, sadomasoquista, para ela o texto é tudo menos a história de amor que ele vê. E nos questionamentos e no jogo de sedução que vamos acompanhando, está também a nossa própria construção imagética.
Não há como não destacar nisso tudo, o desempenho de Emmanuelle Seigner como Vanda. A esposa de Polanski consegue trazer sensações diversas para a personagem em todas as suas camadas. Sensual sem ser vulgar, apesar de aparecer com uma roupa de couro que lembra as fantasias sadomasoquistas. Sua transformação gradual traz realismo para o jogo proposto.
Tudo isso faz com que os noventa e seis minutos de projeção passem sem serem sentidos. Uma aposta arriscar que dá muito certo, ainda que não tão intenso que o seu anterior "Deus da Carnificina", Polanski consegue mais uma vez testar a linguagem e nos apresentar um excelente filme.
A Pele de Vênus (La Vénus à la fourrure, 2013 / França / Polônia)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski
Com: Emmanuelle Seigner, Mathieu Amalric
Duração: 96 min.
Thomas Novachek está planejando montar sua primeira peça, baseada na obra de Sacher Masoch, mas não consegue encontrar a atriz ideal para interpretar sua protagonista. Em uma noite chuvosa, já fechando o teatro ele recebe a atriz Vanda Jourdain que pretende provar ser ideal para o papel. Ele só não tinha ideia do quanto.
O filme é um grande jogo de artes e metalinguagem. Uma peça baseada na literatura, que por sua vez está se tornando um filme em nossa frente. É curioso como as três artes se misturam e se completam em cena através do texto, da interpretação dos dois atores e da câmera de Polanski que consegue nos dar os momentos exatos de tensão, drama e ironia.
Apesar de ser filmado em um teatro, tendo boa parte da ação no palco, o filme é extremamente cinematográfico. As luzes e cenários se misturam a tempestade lá fora que é possível de ver entre frestas e a mise-en-scène se completa com os dois se colocando nesse inusitado cenário. Os detalhes vão dando a riqueza da obra, como quando Mathieu Amalric, que interpreta Thomas, aponta para um cacto e diz que ali está a Vênus deles e a câmera dá um travelling vertical no objeto fálico.
A montagem também é bastante feliz, como o primeiro momento de virada na trama. Thomas até então, considera Vanda mais uma pedra em seu sapato, só quer se livrar dela, mas ao abrir a boca para a primeira fala da peça, ele se encanta. Vemos isso no olhar do ator quase em close enquanto ouvimos a voz de Emmanuelle Seigner. Isso depois de uma montagem em paralelo dela se preparando e dele irritado.
O palco fica pequeno e nos transportamos para o século XVIII e para a realidade daqueles dois com muita facilidade, principalmente pelas quebras nos diálogos que misturam as falas da peça com os comentários de Vanda questionando aquilo tudo. Machista, misógino, sadomasoquista, para ela o texto é tudo menos a história de amor que ele vê. E nos questionamentos e no jogo de sedução que vamos acompanhando, está também a nossa própria construção imagética.
Não há como não destacar nisso tudo, o desempenho de Emmanuelle Seigner como Vanda. A esposa de Polanski consegue trazer sensações diversas para a personagem em todas as suas camadas. Sensual sem ser vulgar, apesar de aparecer com uma roupa de couro que lembra as fantasias sadomasoquistas. Sua transformação gradual traz realismo para o jogo proposto.
Tudo isso faz com que os noventa e seis minutos de projeção passem sem serem sentidos. Uma aposta arriscar que dá muito certo, ainda que não tão intenso que o seu anterior "Deus da Carnificina", Polanski consegue mais uma vez testar a linguagem e nos apresentar um excelente filme.
A Pele de Vênus (La Vénus à la fourrure, 2013 / França / Polônia)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski
Com: Emmanuelle Seigner, Mathieu Amalric
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Pele de Vênus
2015-09-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema europeu|critica|drama|Emmanuelle Seigner|Mathieu Amalric|Roman Polanski|
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