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Olhos da Justiça
Olhos da Justiça
Em 2010, Juan José Campanella fez sua obra-prima. O Segredo dos Seus Olhos é um filme intenso, bem realizado e com grandes momentos. Tanto que ganhou o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. Aí, os Estados Unidos, claro, compraram os direitos para um remake. Olhos da Justiça, nome que a distribuição brasileira resolveu colocar, tem bons momentos e muitas cenas copiadas, sendo um bom filme, mas acaba fragilizado nos detalhes, principalmente ao comparar com o original.
Aqui, a obra é ambientada nos anos 2000 e se passam apenas treze anos (não vinte e cinco) entre o crime e a retomada. O investigador Ray, vivido por Chiwetel Ejiofor, não é um escritor novato, mas um obcecado que acredita ter reencontrado Marzin, o suspeito de um crime brutal. Há treze anos, ele teria violentado e matado a jovem Carolyn, filha de sua colega de trabalho Jess, vivida por Julia Roberts. Assim, ele pede a sua antiga chefe e paixão platônica, Claire, vivida por Nicole Kidman, a reabrir o caso.
Vendo Olhos da Justiça como um filme isolado é um bom suspense. Ainda que haja exageros como inserir o mesmo tema de terrorismo em uma história que não pede isso. O filme tem ainda uma construção rasa de personagens, tanto que a Claire de Nicole Kidman parece oscilar muito em sua própria personalidade. E o Ray de Chiwetel Ejiofor também não parece justificar muito suas atitudes em diversos momentos. De qualquer maneira, é um filme bem realizado e saímos do cinema com uma sensação "OK", mas um filme pra gostar e esquecer.
O problema é que ele não é um filme original, é um remake, e um remake de um filme recente que se tornou um grande exemplar de nosso cinema. E ao compará-los, Olhos da Justiça cai muito no julgamento, ainda que copie muitas cenas. Ou talvez, exatamente por isso. São filmes diferentes, com tons diferentes e personagens idem. Ao inserir as cenas copiadas ficam completamente fora de contexto, soam falsas, estranhas. Ou mesmo geram expectativas frustradas como quando a câmera começa a se aproximar de um certo estádio.
Apesar da base da história ser a mesma, dois tempos, um crime, uma busca e uma revelação surpreendente, a trama tem grandes diferenças, a começar pela introdução da personagem de Julia Roberts. Além de mudar o contexto e consequências do crime, ela cria um triângulo involuntário com Ejiofor e Kidman enfraquecendo a dupla e o romance latente. Claire se torna um artigo de luxo, intocável, o que faz a cena da provocação da confissão, por exemplo, soar falsa. É com Jess que Ray constrói sua cumplicidade, ainda que não seja por ela que esteja apaixonado. Melhor seria mudar isso também, já que não precisa seguir um mesmo script, ficaria mais crível talvez.
Billy Ray trabalha elementos do suspense de uma maneira quase vazia, ao contrário de Campanella que nos deu intensidade à sua trama. Não há verdade nas personagens de Olhos da Justiça, como não há verdade em sua trama, tudo parece milimetricamente encenado não nos fazendo embarcar na história com a mesma facilidade que na trama argentina.
E reforçando o que já falei sobre inserir cenas iguais a do original fora do contexto, a cena final perde muito do impacto, não apenas por já sabermos o que acontece, mas, principalmente, porque o ciclo não se fecha tão bem, vide a fala do viúvo argentino ao inspetor que explica muito melhor aquela atitude criando o impacto necessário para a revelação. Tudo muda no americano, não por acaso aquele desfecho.
Talvez a melhor mudança com tentativa de manter o espírito original esteja na culpa. Sentimento presente em ambos os filmes, mas de maneira diversa, com impactos também diversos, mas que são o principal motor do protagonista para continuar buscando aquele crime e um final para ele, mesmo tantos anos depois. A diferença é que no americano a culpa vem com uma carga de melodrama maior.
Ainda assim, Olhos da Justiça não é um filme ruim. Como já foi dito, pensando nele isoladamente é uma boa obra. O problema é mesmo ele ser um remake de uma obra-prima recente, o que o torna até mesmo descenessário.
Olhos da Justiça (Secret in Their Eyes, 2015 / EUA)
Direção: Billy Ray
Roteiro: Billy Ray
Com: Chiwetel Ejiofor, Nicole Kidman, Julia Roberts, Dean Norris, Alfred Molina, Michael Kelly
Duração: 111 min.
Aqui, a obra é ambientada nos anos 2000 e se passam apenas treze anos (não vinte e cinco) entre o crime e a retomada. O investigador Ray, vivido por Chiwetel Ejiofor, não é um escritor novato, mas um obcecado que acredita ter reencontrado Marzin, o suspeito de um crime brutal. Há treze anos, ele teria violentado e matado a jovem Carolyn, filha de sua colega de trabalho Jess, vivida por Julia Roberts. Assim, ele pede a sua antiga chefe e paixão platônica, Claire, vivida por Nicole Kidman, a reabrir o caso.
Vendo Olhos da Justiça como um filme isolado é um bom suspense. Ainda que haja exageros como inserir o mesmo tema de terrorismo em uma história que não pede isso. O filme tem ainda uma construção rasa de personagens, tanto que a Claire de Nicole Kidman parece oscilar muito em sua própria personalidade. E o Ray de Chiwetel Ejiofor também não parece justificar muito suas atitudes em diversos momentos. De qualquer maneira, é um filme bem realizado e saímos do cinema com uma sensação "OK", mas um filme pra gostar e esquecer.
O problema é que ele não é um filme original, é um remake, e um remake de um filme recente que se tornou um grande exemplar de nosso cinema. E ao compará-los, Olhos da Justiça cai muito no julgamento, ainda que copie muitas cenas. Ou talvez, exatamente por isso. São filmes diferentes, com tons diferentes e personagens idem. Ao inserir as cenas copiadas ficam completamente fora de contexto, soam falsas, estranhas. Ou mesmo geram expectativas frustradas como quando a câmera começa a se aproximar de um certo estádio.
Apesar da base da história ser a mesma, dois tempos, um crime, uma busca e uma revelação surpreendente, a trama tem grandes diferenças, a começar pela introdução da personagem de Julia Roberts. Além de mudar o contexto e consequências do crime, ela cria um triângulo involuntário com Ejiofor e Kidman enfraquecendo a dupla e o romance latente. Claire se torna um artigo de luxo, intocável, o que faz a cena da provocação da confissão, por exemplo, soar falsa. É com Jess que Ray constrói sua cumplicidade, ainda que não seja por ela que esteja apaixonado. Melhor seria mudar isso também, já que não precisa seguir um mesmo script, ficaria mais crível talvez.
Billy Ray trabalha elementos do suspense de uma maneira quase vazia, ao contrário de Campanella que nos deu intensidade à sua trama. Não há verdade nas personagens de Olhos da Justiça, como não há verdade em sua trama, tudo parece milimetricamente encenado não nos fazendo embarcar na história com a mesma facilidade que na trama argentina.
E reforçando o que já falei sobre inserir cenas iguais a do original fora do contexto, a cena final perde muito do impacto, não apenas por já sabermos o que acontece, mas, principalmente, porque o ciclo não se fecha tão bem, vide a fala do viúvo argentino ao inspetor que explica muito melhor aquela atitude criando o impacto necessário para a revelação. Tudo muda no americano, não por acaso aquele desfecho.
Talvez a melhor mudança com tentativa de manter o espírito original esteja na culpa. Sentimento presente em ambos os filmes, mas de maneira diversa, com impactos também diversos, mas que são o principal motor do protagonista para continuar buscando aquele crime e um final para ele, mesmo tantos anos depois. A diferença é que no americano a culpa vem com uma carga de melodrama maior.
Ainda assim, Olhos da Justiça não é um filme ruim. Como já foi dito, pensando nele isoladamente é uma boa obra. O problema é mesmo ele ser um remake de uma obra-prima recente, o que o torna até mesmo descenessário.
Olhos da Justiça (Secret in Their Eyes, 2015 / EUA)
Direção: Billy Ray
Roteiro: Billy Ray
Com: Chiwetel Ejiofor, Nicole Kidman, Julia Roberts, Dean Norris, Alfred Molina, Michael Kelly
Duração: 111 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Olhos da Justiça
2015-12-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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