Carol
Baseado no livro de Patricia Highsmith, é uma história de amor atípica. Não porque retrata o relacionamento entre duas mulheres, mas por trabalhar o fascínio platônico de ambas em uma construção delicada e bela.
Segundo o site Adoro Cinema, Highsmith disse que sua história foi baseada em uma mulher loira que viu na loja em que trabalhava como vendedora temporária no Natal. Logo depois, ela teve catapora e da doença veio a fantasia com a tal mulher. Isso explica muito do clima da obra.
Therese Belivet é uma vendedora de uma loja de brinquedos, mas sua verdadeira vocação é a fotografia. Carol Aird é uma mulher rica que está se divorciando do marido, Harge. As duas se cruzam na loja perto do Natal, com Carol procurando um presente para a filha. Mas, quando o ex-marido proíbe a mulher de passar o Natal com a menina, ela convida Therese para uma viagem pelos Estados Unidos.
É interessante a composição das duas mulheres. Mais do que extremamente belas ou femininas elas representam verdeiros símbolos de grandes estrelas. Cate Blanchett possui o charme misterioso e a elegância das grandes estrelas de Hollywood, sempre com seu cigarro em posição charmosa, seu casaco de pele e sua postura deslizando pelos espaços. Vi alguém comparar a Greta Garbo, a mulher misteriosa e charmosa que instiga. Faz sentido. Assim como Rooney Mara está caracterizada como Audrey Hepburn, com seu cabelo de franjinha e postura doce tal qual Sabrina, a princesa Ann ou Holly Golightly.
Desse fetiche inicial, no entanto, vamos aos poucos conhecendo parte dessas mulheres, seus desejos, sua luta. Carol enfrenta uma sociedade em busca de aceitação, não porque precise exatamente dela, mas por não querer se afastar de sua filha. Chega a se descaracterizar para tentar se encaixar no papel. E é interessante mais uma vez que os detalhes falem muito, como suas unhas sempre vermelhas que se tornam limpas e sem esmalte durante uma reunião de conciliação. Ou mesmo as roupas vermelhas e com cores abertas que se transformam em sóbrias em tons escuros nesses momentos.
Já Therese nem mesmo compreende o porquê daquela mulher ter mexido tanto com ela. Mas, não tem medo ou mesmo pensar em questões de pecados ou erros. Ela busca seu espaço e sua realização profissional. E é interessante como o filme consegue demonstrar essa transformação da moça de trás do balcão para uma fotógrafa talentosa que vai se posicionar no mundo de homens. A cena de reunião de pauta mesmo mostra bem isso, em sua postura em um canto, observando a discussão, mas ao mesmo tempo se fazendo presente.
A fotografia do filme acompanha essa delicada composição com muitas cenas de penumbra e fumaça que descortina as duas. Tudo é composto de maneira delicada, quase onírica. Não há muitas explicações ou discussões sobre sexualidade, ou mesmo a manifestação machista dos ex-companheiros de ambas, principalmente Harge que está sempre perseguindo Carol, utilizando a filha como arma. Há um jogo sensual em toda a composição de Carol que não o faz ser um pretenso filme panfletário ou mesmo queira discutir questões em voga como direitos dos homossexuais ou o feminismo. Mas, ao mesmo tempo, tudo está ali, implícito, demonstrado na naturalidade dos sentimentos e da vontade de seguir seus próprios instintos, sem julgamentos ou preconceitos.
Isso é que acaba sendo mais encantador. O filme é um verdadeiro "E se..." pensado por Patricia Highsmith. E assim ele segue nos fazendo pensar também nos "e se..." que fomos deixando passar em nossas vidas. Mais do que sobre sexualidade, é um filme sobre a coragem de experimentar seguir impulsos e se deixar levar por eles, só para ver no que dará.
Carol (Carol, 2016 / EUA)
Direção: Todd Haynes
Roteiro: Phyllis Nagy
Com: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson
duração: 118 min.
Segundo o site Adoro Cinema, Highsmith disse que sua história foi baseada em uma mulher loira que viu na loja em que trabalhava como vendedora temporária no Natal. Logo depois, ela teve catapora e da doença veio a fantasia com a tal mulher. Isso explica muito do clima da obra.
Therese Belivet é uma vendedora de uma loja de brinquedos, mas sua verdadeira vocação é a fotografia. Carol Aird é uma mulher rica que está se divorciando do marido, Harge. As duas se cruzam na loja perto do Natal, com Carol procurando um presente para a filha. Mas, quando o ex-marido proíbe a mulher de passar o Natal com a menina, ela convida Therese para uma viagem pelos Estados Unidos.
É interessante a composição das duas mulheres. Mais do que extremamente belas ou femininas elas representam verdeiros símbolos de grandes estrelas. Cate Blanchett possui o charme misterioso e a elegância das grandes estrelas de Hollywood, sempre com seu cigarro em posição charmosa, seu casaco de pele e sua postura deslizando pelos espaços. Vi alguém comparar a Greta Garbo, a mulher misteriosa e charmosa que instiga. Faz sentido. Assim como Rooney Mara está caracterizada como Audrey Hepburn, com seu cabelo de franjinha e postura doce tal qual Sabrina, a princesa Ann ou Holly Golightly.
Desse fetiche inicial, no entanto, vamos aos poucos conhecendo parte dessas mulheres, seus desejos, sua luta. Carol enfrenta uma sociedade em busca de aceitação, não porque precise exatamente dela, mas por não querer se afastar de sua filha. Chega a se descaracterizar para tentar se encaixar no papel. E é interessante mais uma vez que os detalhes falem muito, como suas unhas sempre vermelhas que se tornam limpas e sem esmalte durante uma reunião de conciliação. Ou mesmo as roupas vermelhas e com cores abertas que se transformam em sóbrias em tons escuros nesses momentos.
Já Therese nem mesmo compreende o porquê daquela mulher ter mexido tanto com ela. Mas, não tem medo ou mesmo pensar em questões de pecados ou erros. Ela busca seu espaço e sua realização profissional. E é interessante como o filme consegue demonstrar essa transformação da moça de trás do balcão para uma fotógrafa talentosa que vai se posicionar no mundo de homens. A cena de reunião de pauta mesmo mostra bem isso, em sua postura em um canto, observando a discussão, mas ao mesmo tempo se fazendo presente.
A fotografia do filme acompanha essa delicada composição com muitas cenas de penumbra e fumaça que descortina as duas. Tudo é composto de maneira delicada, quase onírica. Não há muitas explicações ou discussões sobre sexualidade, ou mesmo a manifestação machista dos ex-companheiros de ambas, principalmente Harge que está sempre perseguindo Carol, utilizando a filha como arma. Há um jogo sensual em toda a composição de Carol que não o faz ser um pretenso filme panfletário ou mesmo queira discutir questões em voga como direitos dos homossexuais ou o feminismo. Mas, ao mesmo tempo, tudo está ali, implícito, demonstrado na naturalidade dos sentimentos e da vontade de seguir seus próprios instintos, sem julgamentos ou preconceitos.
Isso é que acaba sendo mais encantador. O filme é um verdadeiro "E se..." pensado por Patricia Highsmith. E assim ele segue nos fazendo pensar também nos "e se..." que fomos deixando passar em nossas vidas. Mais do que sobre sexualidade, é um filme sobre a coragem de experimentar seguir impulsos e se deixar levar por eles, só para ver no que dará.
Carol (Carol, 2016 / EUA)
Direção: Todd Haynes
Roteiro: Phyllis Nagy
Com: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson
duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Carol
2016-02-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Cate Blanchett|critica|drama|oscar 2016|Rooney Mara|Sarah Paulson|Todd Haynes|
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