Desde que a Marvel iniciou o seu projeto cinematográfico, a DC corre atrás para provar que também é capaz de um encadeamento bem resolvido utilizando todo o seu universo. Uma vantagem eles sempre tiveram, está tudo na mão de um só estúdio. Mas, apesar de dar um passo significativo para mostrar que tem fôlego para algo épico, o filme de Zack Snyder demonstra que ainda está longe de funcionar como deveria. A trama se passa um tempo após os acontecimentos do Homem de Aço, filme de 2013. Na verdade, a linha condutora inicial é pela visão de Bruce Wayne, sua origem e seu ponto de vista durante a batalha com Zod que quase destrói Metrópolis. Bruce acredita que o Superman é uma ameaça à cidade e não o herói, quase deus que muito propagam. Alimentando essa discórdia, temos Lex Luthor com suas perigosas experiências, inclusive a descoberta de uma pedra verde capaz de enfraquecer os filhos de Krypton.
A economia narrativa é um dos grandes problemas da obra. Primeiro, temos um longo prólogo, mostrando mais uma vez o passado de Bruce Wayne. Quando se estabelece o conflito, temos mais um longo período de uma espécie de guerra fria, com os inimigos se estudando. E nesse ponto não falo apenas de Batman versus Superman, mas também Lex Luthor, o governo americano, a população, uma das vítimas do ataque, uma senadora e uma misteriosa mulher. Durante esse período, o filme tenta aprofundar o psicológico de Bruce Wayne, o que é positivo, a raiva que o Batman sente do mundo. A frustração com a falta de lógica ou justiça que ele enxerga desde que seus pais foram assassinados de maneira leviana nunca foi tão bem explorada. E Ben Affleck acaba funcionando enquanto Batman, ainda que paradoxalmente seja um Bruce sem vitalidade. Porém, o que incomoda mesmo nesse processo são os insistentes pesadelos do personagem que soam tolos e ainda trazem criaturas de extremo mal gosto para a tela.
Já o questionamento principal do embate, o fato de o Superman ser ou não ser um herói e os perigos de endeusamento do alienígena que também é falho, acabam ficando apenas na superfície do drama. O que poderia ser melhor explorado até pelos indícios que já foram dados no filme anterior que insistia de maneira explícita em compará-lo a Jesus Cristo. Houve um certo recuo em colocar o dedo realmente na ferida, questionando o herói, apesar de demonstrar coragem nas decisões da resolução da trama. 
E quando finalmente há a declaração da guerra, a estrutura frusta um pouco, mas não deixa de trazer algumas questões empolgantes como os efeitos especiais e a coreografia das batalhas. Nesse ponto, falo não apenas da luta do título, mas da seguinte, envolvendo também mais dois personagens que os trailers já entregaram, mas vou preferir deixar subentendidos aqui, vide que nem citei o nome civil da tal mulher misteriosa. Mas, por que a batalha frusta um pouco já que é bem arquitetada? Por que o clima é quebrado em diversos momentos por questões que nos tiram da cena, quebrando a ilusão fílmica. O primeiro ponto é nos preparar para o embate e, antes dele, levar alguns minutos com novas revelações que poderiam vir antes ou mesmo nem aparecer, que a trama funcionaria. Depois, por causa de algumas escolhas dos heróis durante a luta que parecem fazer pouco sentido.
No final das contas, Batman versus Superman não é a tragédia anunciada após a má aceitação de Homem de Aço. Porém, também ainda está longe de ser a redenção da DC que os fãs tanto esperam. Abre portas é verdade, deixa a luz no fim do túnel e nos mostra que podem vir aí bons filmes solos do próprio Batman, da Mulher Maravilha e de outros personagens. Mas a Liga da Justiça ainda precisa se fortalecer muito para ter seu grande momento em tela.
Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016 / EUA)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio, David S. Goyer
Com: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne, Gal Gadot, Holly Hunter, Jeremy Irons
Duração: 150 min.
