Zootopia
Desde que a Pixar lançou Toy Story o mundo ocidental começou a se acostumar que filmes de animação não são apenas para crianças. Não dá para negar a qualidade cada vez maior dos estúdios da Disney, e Zootopia vem coroar com uma história instigante repleta de referências à cultura do nosso tempo.
A trama gira em torno da coelhinha Judy Hopps, que vive no interior com sua família de agricultores, mas sempre quis ser uma policial. Desacreditada por todos, ela treina muito e consegue se formar através de um programa especial de inclusão e vai para Zootopia realizar seu maior sonho. Mas, sofre preconceitos e vai precisar da ajuda do malandro Nick Wilde, uma esperta raposa que vive de pequenos golpes.
Em resumo, Zootopia fala de preconceitos, inclusão social e aceitação do diferente. Isso sem falar em respeito e confiança, dois sentimentos que andam cada vez mais em falta em nossa sociedade. A sensação eterna de que o outro pode nos enganar e trair a qualquer momento parece que domina a todos, assim como pré-julgamentos sobre capacidades ou instintos.
Tanto Judy quanto Nick sofreram bullying na infância, ambos tinham sonhos e foram desacreditados por eles. E, por isso, ambos se compreendem, tornando-se uma boa dupla, ainda que com diversas peripécias que os fazem se afastar e se aproximar igual a milhares de comédias românticas. E antes que alguém se assuste, não, a coelha e a raposa são apenas amigos, não há nem indício de romance.
O roteiro de Zootopia, no entanto, apesar de tratar de temas bastante densos, é bem leve. Uma comédia com traços de filme policial, com uma investigação que permeia toda a trama. As pistas seguidas por Judy acabam sendo bem costuradas, trazendo recompensas que casam com o que foi apresentado. Nada aparece por acaso, nem mesmo uma encenação de criança, ou uma rixa do passado. Tudo retorna e não parece forçado, ainda que os emaranhados em si da trama sejam bastante simples.
Outro grande trunfo do roteiro são as referências à cultura pop, como o filme O Poderoso Chefão que traz ótimos momentos, ou à série Breaking Bad. Isso sem falar em Shakira que tem uma participação especial como Gazelle, uma gazela famosa. A cantora dubla a voz da personagem que fala e canta em alguns momentos.
Falar sobre a arte chega a ser covardia diante de tanto know-how e verba, mas não deixa de ser impressionante o nível de riqueza dos cenários e objetos de arte do desenho. A cena em que Judy viaja de trem até Zootopia, por exemplo, é extremamente bela, com a mudança de cenários e texturas. E as cenas de ação são muito bem orquestradas com simulação de diversos planos e movimentos de câmera.
No final, Zootopia traz um clima bem diferente do que é apresentado no trailer que foca mais nas gags de humor. Tem piadas e momentos engraçados, mas, no geral, é uma obra com questionamentos bem profundos e que caem como uma luva nos dias de hoje, onde estamos cada vez mais extremistas. Que assim como os animais fictícios consigamos abraçar as diferenças e viver em paz.
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho (Zootopia, 2016 / EUA)
Direção: Byron Howard, Rich Moore
Roteiro: Jared Bush, Phil Johnston
Duração: 108 min
A trama gira em torno da coelhinha Judy Hopps, que vive no interior com sua família de agricultores, mas sempre quis ser uma policial. Desacreditada por todos, ela treina muito e consegue se formar através de um programa especial de inclusão e vai para Zootopia realizar seu maior sonho. Mas, sofre preconceitos e vai precisar da ajuda do malandro Nick Wilde, uma esperta raposa que vive de pequenos golpes.
Em resumo, Zootopia fala de preconceitos, inclusão social e aceitação do diferente. Isso sem falar em respeito e confiança, dois sentimentos que andam cada vez mais em falta em nossa sociedade. A sensação eterna de que o outro pode nos enganar e trair a qualquer momento parece que domina a todos, assim como pré-julgamentos sobre capacidades ou instintos.
Tanto Judy quanto Nick sofreram bullying na infância, ambos tinham sonhos e foram desacreditados por eles. E, por isso, ambos se compreendem, tornando-se uma boa dupla, ainda que com diversas peripécias que os fazem se afastar e se aproximar igual a milhares de comédias românticas. E antes que alguém se assuste, não, a coelha e a raposa são apenas amigos, não há nem indício de romance.
O roteiro de Zootopia, no entanto, apesar de tratar de temas bastante densos, é bem leve. Uma comédia com traços de filme policial, com uma investigação que permeia toda a trama. As pistas seguidas por Judy acabam sendo bem costuradas, trazendo recompensas que casam com o que foi apresentado. Nada aparece por acaso, nem mesmo uma encenação de criança, ou uma rixa do passado. Tudo retorna e não parece forçado, ainda que os emaranhados em si da trama sejam bastante simples.
Outro grande trunfo do roteiro são as referências à cultura pop, como o filme O Poderoso Chefão que traz ótimos momentos, ou à série Breaking Bad. Isso sem falar em Shakira que tem uma participação especial como Gazelle, uma gazela famosa. A cantora dubla a voz da personagem que fala e canta em alguns momentos.
Falar sobre a arte chega a ser covardia diante de tanto know-how e verba, mas não deixa de ser impressionante o nível de riqueza dos cenários e objetos de arte do desenho. A cena em que Judy viaja de trem até Zootopia, por exemplo, é extremamente bela, com a mudança de cenários e texturas. E as cenas de ação são muito bem orquestradas com simulação de diversos planos e movimentos de câmera.
No final, Zootopia traz um clima bem diferente do que é apresentado no trailer que foca mais nas gags de humor. Tem piadas e momentos engraçados, mas, no geral, é uma obra com questionamentos bem profundos e que caem como uma luva nos dias de hoje, onde estamos cada vez mais extremistas. Que assim como os animais fictícios consigamos abraçar as diferenças e viver em paz.
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho (Zootopia, 2016 / EUA)
Direção: Byron Howard, Rich Moore
Roteiro: Jared Bush, Phil Johnston
Duração: 108 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Zootopia
2016-03-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|aventura|Byron Howard|critica|fici2016|infantil|oscar 2017|Rich Moore|
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