
Talvez o maior problema desse filme esteja em seu vilão e no tom da obra, que deixa de ser uma tragédia realista e ganha ares de fantasia exagerado, nos dando um Apocalipse sempre over, quase risível em sua megalomaníaca vontade de ser reconhecido como um Deus.

A questão de aceitação dos seus próprios superpoderes parece resolvida de uma maneira quase simplória. A exemplo da Mística, heroína de mutantes e humanos. Isso dá uma centralidade e importância à personagem que não lhe seria comum em outros universos. E, mais do que uma questão narrativa, temos a importância que a própria intérprete, Jennifer Lawrence, ganhou na indústria. Incomoda que a Mística tenha se tornado quase uma Katniss Everdeen nessa realidade.

O problema é que não ficamos por aí. Temos Apocalipse. Aquele que é conhecido como um primeiro mutante. O falso Deus. O ser que pretende destruir o mundo que conhecemos para governar após o caos uma realidade onde os mutantes serão os soberanos na Terra, e não os humanos. A forma como ele é construído, erra o tom e torna suas cenas quase risíveis, onde deveria ser tensão e dor. Há uma cena em especial que chega a causar constrangimento. E isso prejudica e muito a fruição da obra como um todo.

Temos ainda algumas participações surpresas. Uma delas se torna quase um Deus Ex-Machina, ajudando a resolver um problema quase impossível. Mas, acaba trazendo também algo de bom nela. Além da sempre esperada aparição de Stan Lee, em uma cena que deveria ser emocionante, ao lado de sua esposa real, Joan Lee. Só por ele aparecer, a gente não consegue conter o sorriso. E, claro, uma cena pós créditos que podem dar pistas do rumo a partir daqui.
Entre erros e acertos, X-Men: Apocalipse não chega a ser a bomba anunciada pela imprensa internacional. É um filme com altos e baixos. Seus maiores problemas são o vilão caricato e exagerado e a sensação de não-novidade. É como se esse universo já tivesse sido explorado à exaustão e, ao reconhecermos, não temos mais aquela sensação empolgante de frescor, nem temos a reflexão inquietante que nos faz pensar em nosso próprio mundo. É um filme que ganha em visual e perde em profundidade temática. Parece que não foi só Apocalipse que ousou pensar que era mais importante do que realmente era.
X-Men: Apocalipse (X-Men: Apocalypse, 2016 / EUA)
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Simon Kinberg
Com: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Sophie Turner, Oscar Isaac, Rose Byrne
Duração: 154 min.