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Mohsen Makhmalbaf
Tornike Bziava
O Presidente
O Presidente
Mohsen Makhmalbaf inicia o seu filme de uma maneira bastante simbólica. Um avô com seu neto ao colo demonstra para ele do que é capaz. Com uma simples ordem ao telefone, ele manda apagar todas as luzes de seu reino, deixando o garotinho empolgado. O problema é que esse poder é efêmero e, agora, ele terá que entender que o amado avô é um homem perseguido e odiado.
O diretor iraniano que assina o roteiro junto a sua esposa Marziyeh Meshkiny é extremamente feliz ainda nesse contraste. A inocência da criança em contraponto à responsabilidade do ditador. A vontade de proteger o neto, mais do que salvar a própria vida também nos deixa mais próximos do protagonista, acabando por simpatizar com ele, ainda que saibamos que ele se livrar simplesmente de tudo não é o correto.
Acompanhamos, então, avô e neto disfarçados pelas estradas do país em guerra, enquanto a cabeça do ditador está a prêmio e aumenta a recompensa a cada momento. Relevando o disfarce pouco convincente, vamos embarcando em sua jornada de falso músico e a realidade dura que encontra em seu caminho.
Trabalhadores pobres, ricos que perderam tudo, soldados insensíveis, população reprimida, ex-revolucionários torturados, prostitutas. Todos vão revelando ao ditador a realidade que sua ganância e indiferença causaram. Não que ele não soubesse de algum modo, mas nunca talvez tenha parado para refletir de fato sobre como é viver sob o domínio de um governo ditatorial.
Por outro lado, seu neto não parece assimilar essa realidade completamente. Repreendido cada vez que chama o avô de Majestade ou em sua insistente saudades da amiga Maria. Apaixonado pela dança, ele faz seus passos enquanto o avô toca violão e distrai os transeuntes que não imaginam quem de fato sejam aquelas pessoas ali.
Há lirismo na obra. Um tempo própria em cada passagem, ainda que o drama se sobressaia em tudo. Há uma ação muito direta na trama, conseguir sair do país sem ser reconhecido. E os caminhos para isso são apenas as peripécias naturais. O que nos prende é mesmo essa progressão dramática em busca da sobrevivência que transforma a ambos, ainda que o garoto nem tenha consciência disso.
Muito do prazer na obra está também na atuação de avô e neto, que nos envolvem e convencem da jornada, assim como os atores que interpretam aqueles que passam por eles, como uma mulher recém-casada, um grupo de guerrilheiros ou uma prostituta sofrida. Há dois em especial que são colocados, tem grande importância na resolução da obra e ajudam a não torná-la incômoda.
O Presidente pode até ser acusado de didatismo em excesso. E até mesmo de uma resolução questionável. Mas, não há como negar que a história nos impacta e a maneira como ele termina acaba nos acertando também em cheio.
O Presidente (Le President, 2014 / França / Alemanha)
Direção: Mohsen Makhmalbaf
Roteiro: Mohsen Makhmalbaf, Marziyeh Meshkiny
Com: Mikheil Gomiashvili, Dachi Orvelashvili, Tornike Bziava
Duração: 119 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Presidente
2016-05-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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