
Um filme todo em câmera subjetiva. Esse é o grande destaque de Hardcore: Missão Extrema, o que não é pouco. As dificuldades técnicas de pensar a direção dessa obra fazem o resultado ser impressionante. Mas, não pode ficar nisso. Falta fôlego à história, para que o filme se torne, de fato, um grande marco na história do cinema.
Câmeras em primeira pessoa não são novidades. Os falsos documentários que começaram a se popularizar com A Bruxa de Blair que o digam. Mas, a grande diferença de Hardcore é que não existe uma câmera interdiegética, ou seja, dentro da narrativa, intermediando os acontecimentos e o que chega ao espectador. A câmera, no caso, é o olhar do protagonista que, em nenhum momento, aparece ou é mostrado de corpo inteiro em tela. E o mais interessante, ele não fala uma só palavra.

Ou seja, a história é boba. E a profundidade das personagens é extremamente rasa. O vilão Akan é caricato e nunca sabemos de fato quais são suas motivações, nem mesmo a origem dos seus poderes psíquicos e o porquê de só ele naquele universo ser assim. A missão de Henry também não nos parece muito desenvolvida. Salvar a esposa e sobreviver a Akan, mas tudo sem muita explicação ou escolhas. Não há nem mesmo um planejamento, é na base do "o que ocorrer".

Além disso, o espetáculo é bem construído em nossa frente. As cenas de ação são orquestradas e conseguimos ter noção do todo, mesmo estando com a visão limitada. Há cenas de lutas impressionantes em detalhes e construção de adrenalina. Não é apenas correria, tiroteio, socos e pontapés, apesar de ser isso, se é que me entendem. Há um planejamento, uma orquestração que parecem bem reais e orgânicas.
Mas, é apenas isso, a exploração de uma linguagem que se aproxima muito a um videogame de ação. Tem-se uma missão e vai-se ultrapassando etapas até chegar ao chefão para atingir o objetivo do jogo. Mesmo os videogames estão elaborando mais seus roteiros hoje em dia. Há jogos extremamente complexos e com personagens aprofundados. Fica estranho que um filme seja apenas isso.
Hardcore: Missão Extrema, como experiência de linguagem, é, então, uma obra bem resolvida. Mas poderia ir muito além. Não deixa, no entanto, de ser um filme válido.
Hardcore: Missão Extrema (Hardcore Henry, 2015 / EUA)
Direção: Ilya Naishuller
Roteiro: Ilya Naishuller
Com: Sharlto Copley, Tim Roth, Haley Bennett, Danila Kozlovsky
Duração: 96 min.