
Em 2013, três amigos se juntaram para fazer um documentário diferente. Uma das diretoras tinha um sonho: ser transformista. O filme foi sobre este processo de transformação e realização de algo que parecia impossível, no mínimo inusitado. Agora, eles se reúnem novamente para outro documentário parecido, onde a experiência da vez é transformar outro dos três diretores em palhaço. Assim nasce Ridículos, mas as semelhanças com Jessy talvez parem por aí, o que não é algo negativo, já que reinventar-se parece a tônica desses três realizadores.
Há um problema em Ridículos que não está no filme, mas na expectativa do olhar: a busca por essa comparação dos dois processos. A obra não é sobre o sonho do diretor Rodrigo Luna. Aliás, o sonho dele é algo não está nem no filme, mesmo sua função de diretor da obra não fica clara até uma interrupção instigante da produtora. Este processo parece mais uma experiência pontual para ressaltar o brilho daqueles que são os verdadeiros protagonistas da obra: os palhaços Felícia de Castro, Alê Casali, João Lima e Demian Reis.

Essas três vertentes vão se intercalando em ritmo próprio. Não há uma ordem lógica para as esquetes. Inclusive uma delas claramente acontece depois, vocês entenderão o porquê ao assistir. As lembranças e conversas entre eles também seguem um fluxo mais solto. A única que tem uma curva dramática mais definia é a iniciação de Luna.

O documentário não se propõe a isso. Ele não quer falar da pessoa por trás da máscara, mas da persona que se apresenta em tela. Em uma estrutura própria, temos momentos de puro deleite dessa arte de rir de si mesmo, de não se importar com o que os outros pensam, de não se incomodar em parecer ridículo. Nisso, o título do filme se torna tão feliz.

Após uma bela experiência com Jéssica Cristopherry (ou Jessy como ficou o curta), Ridículos demonstra uma evolução do trio em seu estilo cinematográfico. Seria fácil repetir simplesmente a fórmula como esperado, mas, ainda que tenha o mote parecido, o filme consegue ir além e nos entregar uma bela e poética homenagem a essa arte tão pouco valorizada. Vida longa à palhaçaria e vida longa a Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge.
Ridículos (Ridículos, 2016 / Brasil)
Direção: Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge
Roteiro: Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge
Duração: 73 min.