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Sully - O Herói do Rio Hudson
Sully - O Herói do Rio Hudson
208 segundos. Esse foi o tempo que transcorreu desde que a aeronave do piloto Chesley "Sully" Sullenberger foi atingida por uma revoada de pássaros até o momento do pouso forçado no rio Hudson que corta a cidade de Nova York. A situação em si não rende sozinha um filme, ainda que traga diversas possibilidades de recorte. Poderia ser um filme catástrofe detalhando a vida de cada passageiro até o ocorrido, por exemplo. Mas tendo Clint Eastwood no comando, o filme se foca no comandante, questões éticas e legais do entorno.
Talvez um ponto negativo do roteiro de Todd Komarnicki seja focar demais no acidente. O vemos três vezes em tela com pontos de vistas diferentes. Tira o impacto da parte final, onde conclusões são feitas. A ideia de começar com um pesadelo de Sully, no entanto, é acertada. Há uma forma eficiente de demonstrar através de imagens como está a mente desse homem que salvou a vida de 155 pessoas e, mesmo assim, tem dúvidas em relação à melhor escolha.
A imprensa o transforma rapidamente em herói, mas, preocupados com os prejuízos materiais, a companhia e o seguro acionam a agência de regulação aérea nos Estados Unidos que faz uma cansativa investigação para definir que a decisão do piloto foi a acertada ou se era possível retornar ao aeroporto sem maiores traumas.
O filme se constrói nesses três focos. A investigação em si, o acidente e a situação emocional de Sully. E tudo funciona bem, principalmente, pelo talento de Tom Hanks, que nos consegue passar o sentimento de dever e honra desse homem que, em um momento crítico, teve que tomar uma decisão. E por mais que sua experiência de 40 anos de voo digam que foi a certa, a dúvida, a angústia, o medo o dominam quando tenta dormir à noite.
Neste foco, o filme cresce, pois não é apenas um homem que virou herói. Mas um homem que é tão correto que não admite esse rótulo por acreditar ter feito um trabalho de equipe. E ainda que tenha visto o resultado positivo fica se "martelando" na dúvida de se poderia ter feito ainda mais. A construção crescente da imagem desse mito é muito bem orquestrada por Clint Eastwood e é o que ele sabe fazer de melhor.
As cenas do acidente são bem filmadas e nos dão uma visão forte da tensão da situação, do impacto na água, do desespero dos passageiros. As cenas logo após o impacto, demonstrando como foram os segundos até o resgate dos barcos, é, talvez, mais tenso que o próprio pouso em si. Nos mostra que não foi tão simples e que o trauma existe, ainda que exista também o alívio de estarem todos vivos. Isso acaba dando mais força ao julgamento. Diretor e roteirista jogam com os espectadores, os fazendo refletir também sobre a possibilidade de não ter sido assim, já que há a possibilidade da escolha precipitada. Mas tudo isso, parece nos preparar para a parte final.
Ainda que pudesse ter outras escolhas de roteiro, principalmente na composição da dinâmica acidente, Sully e julgamento, Sully - O Herói do Rio Hudson é um bom filme. Nos envolve na trajetória desse homem, construindo sua imagem mítica. E claro, como um bom Eastwood, pende para a emoção. inclusive com depoimentos durante os créditos das pessoas reais, não nos deixando sair do cinema sem essa clareza na mente: de fato aconteceu.
Sully - O Herói do Rio Hudson (Sully, 2016 / EUA)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Todd Komarnicki
Com: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sully - O Herói do Rio Hudson
2016-12-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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